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| Foto: Pascal Guyot/AFP

Mais uma vez a Espanha é vítima do terrorismo islâmico. Já se foram 13 anos desde os atentados a bomba em Madri, que mataram 191 pessoas e foram provocados por uma célula inspirada pela al-Qaeda. Desta vez, foi o Estado Islâmico que reivindicou os atentados na Catalunha, na quinta-feira. Terroristas usaram uma van para atropelar centenas de pessoas em Las Ramblas, o mundialmente famoso calçadão de Barcelona, deixando 13 mortos e cerca de 120 feridos. Horas depois, em Cambrils, outro grupo que também dirigia uma van matou uma pessoa e feriu outras cinco. Neste caso, a polícia conseguiu intervir a tempo e matou os cinco terroristas. Já o motorista da van de Barcelona, identificado como o marroquino Younes Abouyaaqoub, segue foragido.

Os atropelamentos em áreas muito frequentadas, especialmente por turistas, se tornaram o método preferido dos terroristas, tendo sido usado recentemente na França, na Inglaterra e na Alemanha, embora eles ainda não descartem os ataques a bomba, como o ocorrido em maio, também na Inglaterra, após um show da cantora Ariana Grande. Em todos os casos, os ataques foram motivados pelo radicalismo fundamentalista muçulmano, seja na forma de integrantes do Estado Islâmico, seja pelos chamados “lobos solitários” – pessoas sem ligação formal com o grupo, mas inspirados por sua retórica de ódio aos valores ocidentais.

Por muito tempo, o multiculturalismo bloqueou qualquer crítica aos fundamentalistas

Imediatamente Barcelona se viu repleta de homenagens e slogans de apoio, com moradores e turistas que fazem questão de dizer não viver com medo, repetindo o roteiro visto em outras cidades. Esse tipo de resposta, de cunho emocional, é importante para recuperar a moral de locais atingidos pelo terror e de seus habitantes, mas não é ela que impedirá novos ataques. Tais ações confortam – e sim, uma comunidade que é alvo do terrorismo precisa ser confortada –, mas não protegem; terroristas não se sensibilizam com velas ou passeatas.

As palavras do primeiro-ministro Mariano Rajoy, pouco depois dos ataques, ajudam a compreender que tipo de resposta o terrorismo internacional exige para que o mundo fique mais seguro. “Aos terroristas se vence com unidade institucional, cooperação política, apoio internacional e acordos suprapartidários”, disse Rajoy. Suas palavras são uma referência à conjuntura política local (a Espanha teve de realizar uma eleição parlamentar extraordinária em 2016 porque nenhum partido conseguiu formar um governo após o pleito de 2015), mas também pedem cooperação internacional na luta contra o terror, “a principal prioridade para as sociedades livres”. O Estado Islâmico precisa ser combatido tanto nos locais onde ele está presente de maneira ostensiva, no Oriente Médio, quanto nos países ocidentais onde seu discurso conquista adeptos, o que exige um formidável trabalho de inteligência para monitorar e identificar os modos como os extremistas difundem suas ideias.

Leia também:Terror, xenofobia e multiculturalismo (editorial de 12 de junho de 2017)

Bruno Garschagen:O multiculturalismo como inimigo da civilização (18 de janeiro de 2015)

Rajoy ainda tocou em um ponto crucial: “Estamos unidos na disposição para vencer aqueles que desejam tomar de nós nossos valores e modelos de vida”. O extremismo islâmico rejeita os valores ocidentais de democracia e tolerância, e não são poucos os europeus que demoraram para perceber essa verdade. Por muito tempo, o multiculturalismo pregado pela esquerda europeia bloqueou qualquer crítica aos fundamentalistas: práticas que ofendem a dignidade da mulher, como a mutilação genital, ou a defesa da adoção da lei islâmica foram “blindados” pelo multiculturalismo como se fossem apenas uma opção legítima entre tantas outras, quando na verdade são a negação do que fez a grandeza do Ocidente. Isso permitiu que o radicalismo fincasse raízes na Europa. Ao fazer menção aos “valores e modelos de vida” ocidentais, Rajoy mostra saber o que está em jogo.

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