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A crise política no Egito, na Líbia, na Tunísia e em outros países tem como eixo principal a revolta da população contra ditaduras políticas teocráticas. A mistura entre política e religião criou regimes de governo ditatoriais que praticam, na economia, a estatização de parte do sistema produtivo, sobretudo a exploração e comercialização de petróleo. O enredo, nesses países, vem se repetindo sistematicamente: os ditadores dirigem com mão de ferro, suprimem as liberdades, oprimem a população, não permitem o rodízio de liderança e, em geral, constituem fortuna pessoal enquanto o povo permanece na pobreza. Há países em que expressiva parcela da população é pobre e analfabeta, a exemplo do Egito, e as perspectivas de desenvolvimento parecem cada vez mais distantes.

Como dificilmente os ditadores deixam o poder regularmente, o regime se esgota e as manifestações populares contra o governo acabam aparecendo. Os tumultos se estabelecem, as forças do governo reagem, morrem civis e militares, o sistema econômico quase entra em colapso e aparecem as crises de abastecimento e interrupção de serviços. A novidade é que, neste início de 2011, a revolta popular e a pressão para a destituição dos ditadores estão indo muito mais longe do que qualquer analista político podia imaginar poucos anos atrás.

As consequências para o mundo já se fazem sentir. O preço do barril de petróleo passou dos US$ 100 na terceira semana de fevereiro e, no mercado de Londres, chegou a bater US$ 120 na última semana do mês. O primeiro efeito negativo da forte elevação do preço do petróleo e seus derivados já começa a produzir estragos, sobretudo nas economias em que essa elevação é repassada imediatamente para o consumidor, como acontece nos Estados Unidos. Embora o petróleo tenha preço mundial único para os 87 milhões de barris negociados diariamente, o Brasil não vem sentindo a elevação de preços de forma imediata. A razão é que a Petrobras, na condição de monopolista, administra o preço e não aumenta a gasolina, o óleo diesel e o óleo combustível na mesma proporção e velocidade do aumento do preço do petróleo bruto.

O Brasil pode adotar essa prática porque é autossuficiente na produção de petróleo e não depende de importações para abastecer o mercado interno. Todavia, o país sofre outros efeitos relevantes, que afetam todos os países exportadores para o Oriente Médio. As vendas para os países em crise são interrompidas ou, pelo menos, diminuídas, situação que afeta o Brasil, pois exportamos alimentos, carne industrializada e serviços, especialmente em áreas de construção, para as regiões onde a crise se verifica.

Um efeito colateral ruim para a economia mundial deriva da redução da renda disponível da população mundial para consumo, pois a elevação dos preços da gasolina e de outros derivados do petróleo passa a tomar parcelas adicionais da renda pessoal. Nos Estados Unidos, gastos maiores na compra de gasolina levam os consumidores a reduzirem imediatamente suas compras de outros bens e serviços de consumo. Essa situação faz que o país diminua suas importações, afetando as vendas dos países que são fornecedores, caso do Brasil.

Quanto à África, que já vinha sofrendo com a elevação dos preços internacionais das commodities e reduzindo o consumo de alimentos, os conflitos estão piorando o quadro geral da economia. Nesse continente, parcelas expressivas da população rebaixam seu consumo sempre que os preços de alimentos sobem. O agravamento dos conflitos e as crises de governança estão contribuindo para piorar a situação econômica, com diminuição das importações e prejuízos para os países fornecedores da África, entre eles o Brasil.

Os dados sobre os reais prejuízos para o comércio internacional do Brasil ainda são bastante precários, mas eles são reais e podem se agravar, logo a ninguém interessa o prolongamento da crise. Nessa confusão toda, há um aspecto que melhora a posição brasileira e que já foi noticiado na imprensa internacional. O Brasil é visto como um futuro importante produtor de petróleo, com a vantagem de estar fora das regiões de conflito. Não há vantagem imediata na posição geopolítica do país, mas, a longo prazo, é algo que pode fazer do Brasil um país estratégico na oferta mundial de petróleo.

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