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A descoberta de acontecimentos que seriam bizarros se não fossem reveladores do grau de descalabro que acomete a administração pública brasileira pôs o Senado Federal sob os holofotes da opinião pública nos últimos dias. Primeiro, se descobriu que o diretor geral da Casa era dono de uma mansão de R$ 5 milhões que não havia declarado ao Fisco. Depois, a revelação de que o diretor de recursos humanos havia destinado um apartamento funcional à moradia de filhos. Mais tarde, fica-se sabendo que durante o recesso parlamentar de janeiro R$ 6 milhões foram pagos a título de horas extras a servidores que não tinham o que fazer no período.

Não é só: o próprio presidente do Senado, José Sarney, mandou seguranças pagos com dinheiro público para guardar patrimônio seu, particular, no Maranhão. Terminou? Não. A filha de Sarney, a senadora Roseana, usou passagens aéreas da cota que recebe da Casa para transportar amigos e parentes maranhenses para Brasília, dando-lhes também o privilégio de hospedar-se em apartamento funcional.

Diante da enorme e constrangedora repercussão que esses casos alcançaram, o presidente Sarney quis dar demonstrações de que também ele, a exemplo da opinião pública, foi tomado por um inusitado amor à higidez moral da administração que dirige e às responsabilidades do seu alto cargo, um dos primeiros da hierarquia republicana. Demitiu os dois diretores, réus confessos das irregularidades, e requisitou os cargos dos 130 outros que compõem a intricada – e provavelmente gorda e desnecessária – estrutura administrativa do Senado. O primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes, assinou na quinta-feira um ato determinando ao diretor-geral da Casa a extinção de 50 cargos de direção ou função equivalente com a imediata exoneração da função do servidor que a ocupa. Não é para menos, entre as 181 diretorias existentes, há, por exemplo, uma dedicada à coordenação administrativa de residências, que funciona no subsolo de um prédio de apartamentos funcionais e, na prática, cuida da distribuição de vagas de garagem. O Senado também tem uma diretoria no aeroporto de Brasília, a de Coordenação de Apoio Aeroportuário, mais conhecido coma "diretoria de check in". Diante desse quadro, o mínimo que se espera é a consolidação da prometida reforma interna para reduzir os custos e dar mais eficiência à máquina da Casa.

A biografia de Sarney, ex-presidente da República, ex-governador de seu estado, senador em várias legislaturas, não nos autoriza a acreditar piamente nas boas intenções que manifesta tão oportunamente. Mas esta nem é a questão que mais nos deve preocupar dado o generalizado péssimo conceito que todos fazemos sobre a grande maioria dos nossos políticos – conceito este, aliás, muito bem explicitado pelo também senador Jarbas Vasconcelos.

O que mais nos deve preocupar é o resultado disso tudo para as instituições republicanas. A constatação é, infelizmente, uma só: o Senado não é exceção no cenário de profundo descrédito em que estão afundadas as instituições-pilares da República. O caso do "mensalão", que comprovou a existência de uma rede de corrupção organizada para tirar proveito do Erário, é ainda mais emblemático para comprovar a assertiva.

Some-se a esta triste realidade, outra: desde o início do atual período legislativo, em fevereiro, o Congresso não conseguiu votar uma só matéria de relevância – ora porque medidas provisórias "travam" a pauta, ora porque deputados e senadores preferiram ocupar-se do rateio entre si dos poderes e vantagens que os cargos e funções parlamentares lhes permitem. Ou seja, além dos abusos e dos desvios, defrontamo-nos com a ineficiência das instituições.

Pessimismo é uma palavra insuficiente para definir o sentimento da opinião pública. E esperança é outro sentimento que só cabe a longo prazo.

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