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Prefeitura de Curitiba foi uma das que criaram novas regras, temporárias, para funcionamento do comércio durante pandemia.
Prefeitura de Curitiba foi uma das que criaram novas regras, temporárias, para funcionamento do comércio durante pandemia.| Foto: Lineu Filho/Tribuna do Paraná

Mesmos os gestores públicos mais enfáticos na defesa do isolamento social e do fechamento de negócios como forma de conter a pandemia de coronavírus estão percebendo que é preciso seguir em frente com o olhar para a saúde das pessoas, mas também pensando no emprego e na renda de inúmeras pessoas que já estão sendo afetadas pela interrupção da atividade econômica. Este alerta vem de várias fontes, incluindo a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) e outras agências da ONU: o diretor-executivo do Programa Mundial de Alimentos (PMA) avisou que a disrupção na economia global causará uma “pandemia de fome”, dobrando o número de pessoas em todo o mundo que estarão em situação de fome aguda.

E, como já lembramos, os programas de ajuda governamental, desde a transferência direta de dinheiro até a facilitação do crédito para empresas bancarem a folha de pagamentos enquanto não houver receitas, só conseguem ir até um ponto; apenas a reativação dos negócios conseguirá trazer de volta alguma normalidade e perspectiva para empresários e trabalhadores. Uma retomada gradual, como afirmou o próprio Jair Bolsonaro dias atrás, ao falar de uma reabertura que deve ocorrer, mas “não o mais rápido possível”. Autoridades no mundo inteiro têm buscado critérios técnicos que permitam decidir onde é possível afrouxar o isolamento e onde é necessário mantê-lo. A OMS, por exemplo, sugeriu seis critérios, que também incluem questões comportamentais; outros governos vêm fazendo o mesmo.

Em muitos lugares, especialistas das áreas médica e econômica começam a trabalhar juntos para descobrir os melhores modos de o mundo sair do caos

Dos Estados Unidos vem um plano interessante, desenhado pela equipe de Donald Trump, para uma reabertura em três fases, aplicada de forma descentralizada, de acordo com a decisão de cada governador. Cada mudança de fase exige que o estado ou área em questão registre queda no número de novos casos de Covid-19 por 14 dias seguidos (as duas semanas são o período máximo para que os contaminados demonstrem sintomas) e que o sistema hospitalar não esteja pressionado. À medida que a área for “mudando de fase”, mais tipos de estabelecimentos podem reabrir – escolas e creches, por exemplo, só voltam a funcionar na fase dois. Mesmo na última fase, as recomendações a respeito do distanciamento social, especialmente para os grupos de risco, continuam valendo.

Também no Brasil há iniciativas surgindo em vários municípios e estados. O governador paulista, João Doria, responsável por uma série de medidas restritivas e bastante controversas, como o monitoramento de celulares para identificar deslocamentos e aglomerações, bem como a ameaça de prender quem violasse a quarentena, anunciou na quarta-feira, dia 22, que os negócios devem reabrir gradualmente a partir de 11 de maio. O processo não deve ocorrer de forma uniforme: algumas regiões do estado e setores da economia terão as restrições levantadas antes de outros. Serão avaliadas a saturação da rede hospitalar, a evolução da curva de contágio e a disponibilidade de testes, inclusive para pacientes assintomáticos. E, mesmo onde for possível uma reabertura, algumas regras de comportamento e distanciamento continuarão valendo, como a obrigação de usar máscaras em público.

O uso das máscaras também é regra em Curitiba, onde o decreto que regulamentou a reabertura do comércio estabeleceu, ainda, lotação máxima de acordo com a área do estabelecimento, locais diferentes para entrada e saída de clientes, ou atendimento do lado de fora em lojas menores. No Rio Grande do Sul, já vigora um decreto com 28 exigências que valem para todo o estado, à exceção da região metropolitana de Porto Alegre, onde os números do coronavírus continuam alarmantes. São restrições menores e que, apesar de exigirem algum nível de adaptação por parte dos empresários e da população em geral, passam facilmente pelo crivo do princípio da proporcionalidade, considerando a importância de evitar o contágio restringindo o mínimo possível a liberdade do cidadão.

Aqui, cautela é a palavra de ordem. Há uma série de fatores que precisam ser levados em conta, especialmente no Brasil, onde a escassez crônica de testes impede que se tenha uma ideia exata das dimensões da pandemia. Nos locais onde há a reabertura dos negócios, os números da Covid-19 precisam ser monitorados com lupa para que se possa identificar rapidamente qualquer indício de que a doença esteja escapando ao controle. Ninguém quer repetir o norte da Itália, a cidade de Nova York ou o estado do Amazonas. O esforço para “achatar a curva” não perde a validade, pois a ameaça de um colapso hospitalar continua a existir. Mas é alvissareiro perceber que, em muitos lugares, especialistas das áreas médica e econômica começam a trabalhar juntos para descobrir os melhores modos de o mundo sair do caos em que foi lançado pelo coronavírus.

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