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Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, durante cerimônia em que Suécia e Finlândia protocolaram pedido de adesão à aliança militar, em 18 de maio de 2022.
Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, durante cerimônia em que Suécia e Finlândia protocolaram pedido de adesão à aliança militar, em 18 de maio de 2022.| Foto: Johanna Geron/EFE/EPA/Pool

Quando invadiu a Ucrânia, no fim de fevereiro, Vladimir Putin usou como pretexto para o ataque a possibilidade de os ucranianos se juntarem à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o que poderia trazer os mísseis ocidentais perto demais da Rússia, ameaçando a própria existência do país. É uma alegação que não faz sentido, mas, ainda que fosse verdadeira, com a invasão Putin está prestes a conseguir exatamente o oposto do que pretendia: nesta quarta-feira, tanto Finlândia quanto Suécia abandonaram a neutralidade diplomática que caracterizou sua atuação internacional nas últimas décadas e apresentaram formalmente, de forma conjunta, seu pedido de entrada na aliança militar, cuja existência remonta à Guerra Fria.

A rigor, a Otan já estava presente na fronteira russa desde a época da antiga União Soviética, pois a Noruega estava entre as nações fundadoras da aliança. Em 1999, com a adesão da Polônia, a fronteira entre Otan e Rússia se expandiu mais um pouco, incluindo o enclave russo de Kaliningrado. Mas foi em 2004, com a entrada dos países bálticos, que a Otan chegou a apenas algumas centenas de quilômetros de Moscou – por este ponto de vista, a adesão da Ucrânia não faria muita diferença. A aliança ocidental e a Rússia chegaram a estabelecer um processo de cooperação, que no entanto regrediu após o ataque russo à Geórgia, em 2008, e a anexação russa da Crimeia, em 2014. Ainda assim, nos últimos anos a Otan se empenhou em afirmar que não buscava nem isolar, nem ameaçar a Rússia.

Ainda que Putin jamais o admita, foi sua agressão unilateral à Ucrânia que levou suecos e finlandeses a abandonar uma neutralidade que lhes era muito cara

A invasão da Ucrânia, motivada principalmente pelo neoimperialismo de Putin, para quem é inaceitável que os ucranianos sejam mestres de seu próprio destino e escolham a maior integração com o Ocidente em vez de permanecer na órbita russa, mostrou a várias nações que não há motivos para confiar no vizinho gigante do leste. A Suécia (que nem sequer faz fronteira com a Rússia) e a Finlândia (que já foi invadida pelos soviéticos no início da Segunda Guerra Mundial) perceberam que a melhor chance de não terem o mesmo destino da Ucrânia é buscar logo a proteção da Otan. Ainda que Putin jamais o admita, foi sua agressão unilateral à Ucrânia que levou suecos e finlandeses a abandonar uma neutralidade que lhes era muito cara e que muito provavelmente perduraria caso os russos não tivessem optado pelo uso da força bruta.

E é por isso que não faz tanto sentido falar em “expansionismo” da Otan, como se a aliança militar fosse simplesmente anexando os antigos integrantes da Cortina de Ferro e as ex-repúblicas soviéticas. Foram esses países que buscaram a organização, da mesma forma como fizeram como a União Europeia, e nem sempre a Otan aceitou os pedidos. A própria Ucrânia já havia manifestado interesse na adesão em 2007, mas no ano seguinte a aliança militar optou por não oferecer nem à Ucrânia, nem à Geórgia a chance de se tornarem membros. A Bósnia-Herzegovina entrou no chamado “Membership Action Plan” em 2010 e até hoje não faz parte da Otan. E mesmo a agressão russa não necessariamente estimulará os atuais membros a abraçar entusiasticamente a ideia da adesão ucraniana, pois há quem tema a possibilidade de a obrigação de assistência mútua em termos de defesa levar a um conflito em grande escala entre Rússia e Otan em solo ucraniano, mais cedo ou mais tarde.

Mesmo a adesão de Suécia e Finlândia não é garantida; novos membros precisam da unanimidade dos países que já fazem parte da aliança, e a Turquiaprometeu dificultar o processo. O presidente Recep Tayyip Erdoğan acusa ambos os países de abrigar “terroristas” – como ele chama tanto militantes pela independência curda quanto seguidores do líder religioso Fetullah Gulen, que Erdoğan acusa de ter instigado um golpe de Estado fracassado em 2016. Já nesta quarta-feira, a Turquia bloqueou uma votação no encontro de embaixadores dos países-membros. De qualquer forma, independentemente do resultado do processo de adesão de Suécia e Finlândia, o fato é que Vladimir Putin já mostrou a todo o mundo que qualquer nação do leste europeu que busque ingressar na Otan estará repleta de razões para buscar a proteção do ocidente contra eventuais agressões que, já se sabe, o presidente russo não hesita em cometer.

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