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| Foto: Federico Parra/AFP

A Venezuela já vive há tempos o caos econômico causado pela desastrosa mão pesada dos governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. O “socialismo do século 21” conseguiu a proeza de promover a miséria generalizada apesar de o país ter uma das maiores reservas petrolíferas do mundo. A iniciativa privada foi colocada de joelhos com regulações e expropriações, e os venezuelanos sofrem com hiperinflação, depressão e desabastecimento, inclusive de produtos básicos. Para contornar a situação, o governo já recorreu a medidas surreais como fichar os consumidores para impedir que comprassem o mesmo produto mais de uma vez na mesma semana. Está em vigor um “estado de exceção e emergência econômica” que dá a Maduro poderes especiais para conduzir a economia, mas a situação parece só se agravar.

Um sinal visível do estrago causado pela inflação é a necessidade de se adotar cédulas de valor cada vez maior, algo que os brasileiros que precisavam lidar com dinheiro antes de 1994 conheciam muito bem. Mas, na Venezuela, o governo relutou o quanto pôde em botar em circulação notas superiores à de 100 bolívares (US$ 0,15 pela taxa de câmbio oficial). Só agora Maduro se rendeu à realidade, mas, como de costume, buscou resolver o problema da forma mais autoritária e absurda possível: ordenou, em 11 de dezembro, o recolhimento, em 72 horas, de todas as notas de 100 bolívares, que seriam substituídas por novas cédulas de 500 bolívares (outros cinco valores maiores seriam introduzidos a seguir, além de moedas de valores menores ou iguais a 100 bolívares). Para se ter uma ideia do que essa operação representa, dados oficiais indicam que essas cédulas são 77% de todo o dinheiro em circulação na Venezuela, um país onde 40% da população não tem conta em banco e, por isso, usa apenas dinheiro vivo para seus gastos diários.

Maduro não reconheceu a responsabilidade pelo caos. Preferiu culpar conspiradores externos

Mas as cédulas novas ainda não haviam chegado, inviabilizando a troca e provocando convulsão social. Impossibilitada de usar as notas de 100 bolívares (invalidadas por Maduro), sem poder trocar o dinheiro e tendo enormes dificuldades para depositá-lo em contas bancárias, a população foi às ruas em uma onda de protestos e saques. Houve pelo menos um morto e alguns feridos, como no episódio em que algumas pessoas tentaram abrir à força um carro-forte, provocando reação dos seguranças. Não restou opção para Maduro a não ser desfazer o que tinha feito, prorrogando a validade das notas até 2 de janeiro.

Como de costume, Maduro não reconheceu a responsabilidade pelo caos. Preferiu o surrado recurso de colocar a culpa em conspiradores externos. A própria alegação para a ordem de troca das notas já tinha sido essa. O problema não era o fato de os venezuelanos terem de carregar enormes maços de dinheiro para compras pequenas, e sim as máfias estrangeiras, especialmente colombianas, que pretenderiam privar o país das suas cédulas de maior valor, “desestabilizando” a economia e a sociedade (como se o próprio governo já não viesse fazendo isso há anos). E as novas notas atrasaram, é claro, por intervenção norte-americana. Os aviões de carga que traziam o dinheiro receberam ordem de desviar a rota, disse Maduro na televisão estatal.

Os venezuelanos estão sem dinheiro, sem comida e sem a liberdade de sair do país – as fronteiras com o Brasil e a Colômbia estão fechadas, e assim devem ficar até janeiro, se depender de Maduro. O Itamaraty conseguiu a abertura diária, após as 16 horas, apenas para brasileiros que estão na Venezuela e querem regressar. Apesar da proibição, no entanto, são muitos os venezuelanos que se dispõem a correr risco e tentar cruzar a fronteira para um país vizinho, tal é o desespero que a ditadura chavista impõe a seus próprios cidadãos.

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