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O que está ocorrendo na Bolívia é a repetição sistemática de erros históricos, com os quais certos líderes latino-americanos não conseguem aprender. Ao longo dos últimos séculos, o mundo demonstrou fartamente que não há chance de sucesso para os regimes baseados na opressão, na supressão das liberdades individuais e na ausência de garantia ao direito de propriedade. O chamado "socialismo do século 21", adotado por Hugo Chávez, na Venezuela, e por Evo Morales, na Bolívia, não vai acabar bem, como não acabaram bem todas as formas de autoritarismo, sobretudo as do século passado. É na negação desse modelo que repousa a expectativa de diálogo e paz, como Morales parece ter, enfim, notado. Para isso foram decisivos o apoio da União das Nações Latino-Americanas (Unasul) e a postura coerente do Brasil, que, assumindo seu papel de líder regional pôde ao mesmo tempo fazer Chávez recuar posições em sua estratégia intervencionista e fazer prevalecer o princípio da não-interferência em assuntos internos de outras nações.

A insegurança quanto ao direito de propriedade, a política estatizante, a imposição de uma Constituição divisionista e a tributação extorsiva são páginas da cartilha explosiva que vem sendo seguida pelo governo da Bolívia. O resultado foi uma perigosa instabilidade política, representada por revolta nas províncias, atos de violência e risco de ruptura institucional. Uma região em que a estabilidade institucional vive em constante ameaça feita por governantes que não desistem de implantar fórmulas de governo e modelos econômicos que eles chamam de socialistas, mas que são apenas uma grande confusão autoritária e antidemocrática.

A Bolívia é um país de pouca relevância no cenário internacional e os problemas lá vividos não despertam grande interesse no resto do mundo. Para o Brasil, entretanto, a crise é especialmente preocupante, já que é muito alta a nossa dependência em relação ao gás boliviano. O que poderia ser um bom negócio para ambos, tornou-se uma dor de cabeça para o Brasil, que pode ter de racionar o consumo de gás, e um equívoco econômico para a Bolívia, que pode ficar sem seu principal cliente internacional. O governo brasileiro e a Petrobras já informaram que têm os delineamentos de um plano estratégico para reduzir a dependência do fornecimento boliviano, mas sua implementação demanda alguns anos. Porém, o grupo instalado no Palácio do Planalto, simpatizante aberto do tal "socialismo do século 21", pode ser um obstáculo à aceleração da execução desse plano. Por isso, a sociedade deve pressionar o governo para que revele o que pretende fazer, tanto no curto prazo, para evitar o caos no abastecimento, quanto no longo prazo, para reduzir a dependência.

Quanto ao pobre povo boliviano, é de se lamentar que mais uma vez o autoritarismo, provadamente fracassado pela história, ameace o desenvolvimento econômico, podendo mesmo provocar um retrocesso e aumentar a pobreza. A simpatia dos chefes de governo da Venezuela e da Bolívia pelo regime ditatorial cubano é falta de foco histórico, e chega a ser estranho que líderes políticos ainda alimentem a ilusão de que governos autoritários possam ter sucesso e vida longa. Cuba é um país agonizante que implantou uma ditadura socialista há meio século, cujo regime está no fim. Tentar copiar Cuba é uma completa falta de compreensão dos elementos sociológicos e políticos da história. A esperança está na consolidação do recuo recém-sinalizado pelo governo de Evo Morales, abrindo espaço para uma negociação capaz de devolver a paz e a normalidade àquele país.

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