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Há uma lei que afeta a sociedade e os políticos: é a lei da oferta e da procura. Na sociedade ela interfere porque impõe punições às pessoas e aos agentes econômicos sem qualquer consideração de ordem ética ou humanitária. Para os políticos o incômodo vem do fato de que eles não podem revogá-la e a ela devem submeter-se sob pena de sofrerem duras consequências por atos que a agridem. Um exemplo é o que ocorre atualmente com as demissões e as reduções de salários. Existe um mercado de mão-de-obra no qual a oferta se dá por aqueles que estão em busca de emprego e a procura é feita pelas unidades produtivas, que são as empresas e os governos. Quando o número de pessoas em busca de emprego é maior do que o número de pessoas que o sistema econômico procura para contratar, o resultado é uma pressão dos salários para baixo. Se ainda por cima vem uma crise na economia, as empresas se veem obrigadas a reduzir a produção e demitir parte do seu quadro de pessoal, agravando ainda mais o excesso de oferta.

Em todas essas situações, o preço do trabalho (salários) tende à redução, e os governos podem fazer tantas leis salariais quantas quiserem que, de forma ou de outra, os salários médios reais serão reduzidos. Considerando que, no Brasil, mesmo em épocas de expansão econômica, a tônica é excesso de oferta de mão-de-obra, em parte como resultado das altas taxas de crescimento populacional, a elevação dos salários médios sempre fica prejudicada. Esse quadro fica agravado mesmo quando a economia cresce, pois o trabalhador procurado pelas organizações é aquele com qualificação técnica, o que leva uma grande massa de trabalhadores sem a qualificação adequada a não conseguir melhorar seus níveis de renda. Esse é o xis da questão.

No momento em que a crise mundial lança seus efeitos sobre o Brasil, o que se tem é o agravamento da distribuição da renda e a previsão de que as faixas mais pobres da população permanecerão em situação de baixo padrão de renda e de bem-estar. As demissões e as reduções de salários que estão ocorrendo atualmente são o reflexo da crise, mas esta não pode ser usada para esconder a essência do mercado de trabalho no país, em que os baixos níveis educacionais e a insuficiente qualificação dos trabalhadores são problemas estruturais que precisam ser enfrentados de forma urgente, para que se colham resultados em futuro não muito longe. Ou o Brasil enfrenta esses problemas graves, ou a entrada no clube das nações desenvolvidas não ocorrerá.

Qualquer que seja a estratégia de crescimento, não há como fugir da solução desses problemas como instrumento para redução da miséria e da pobreza. Com crise ou sem crise, a lei da oferta e da procura apenas agrava a baixa produtividade do trabalho e, sem esta, não há oportunidade de crescimento de salário real médio. Quanto à produtividade do trabalho, ela depende diretamente da qualificação profissional exigida pela constante revolução tecnológica dos tempos modernos. A crise é um bom momento para o país agir, a fim de melhorar as possibilidades futuras, quando as coisas melhorarem. Mas essa não é uma tarefa só do governo; é, também, uma tarefa das empresas e das pessoas.

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