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Os mercados financeiros parecem ter iniciado a fase de ajuste há muito temida, com a queda generalizada dos papéis nas bolsas de valores da maioria dos países. A mudança de sinal, passando de abundância para um período de iliquidez caracterizado pela aversão a riscos, levou o Banco Central Europeu a injetar mais de R$ 200 bilhões para sustentar a solvência de grandes bancos e afastar o risco de crise geral.

A retração vinha se insinuando com as dificuldades enfrentadas por bancos que financiavam a compra de imóveis nos Estados Unidos. Com a abundância de recursos os compradores passaram a especular, hipotecando propriedades anteriores para adquirir outras mais valiosas, numa ciranda que criou a bolha no mercado imobiliário. Essa alavancagem se desdobrou em operações arriscadas de aquisição e fusão de firmas, especulação em produtos básicos (petróleo e metais, cereais e gado, etc), num giro que ganhou cada vez mais velocidade.

Fundos de "hedge" que emprestam recursos em países com juros baixos, investiam esse dinheiro fácil em economias como a brasileira, para lucrar com a diferença através de arbitragem. Fundos de participação privada, os "private equities", operavam na compra de empresas produtivas pelo mundo a fora, inclusive aqui. Empresas desconhecidas ou constituídas em paraísos fiscais estavam levantando bilhões, geralmente para comprar outros negócios.

Vozes mais previdentes vinham alertando para o risco desse excesso de capitais e, após declarada a crise na quinta-feira, passaram à ação para socorrer bancos em dificuldades na Alemanha, França, Estados Unidos, Japão e outros mercados. Autoridades vieram a público para recomendar cautela, sob esperança de um pouso suave da economia norte-americana, à diferença do ocorrido em 1929, quando queda similar na Bolsa de Valores gerou a depressão dos anos 30.

Na ocasião a deficiência de técnica econômica fez com que o Sistema de Reserva Federal só se preocupasse com a inflação, arrochando a oferta de recursos, mesmo quando a política monetária deveria ser expansiva. Foi somente após as lições de John M. Keynes sobre o papel expansionista dos bancos centrais para aliviar crises cíclicas que o "Fed" passou a operar sob um mandato duplo: controlar a inflação e buscar o maior nível de emprego com a menor taxa inflacionária possível. Essa orientação, mais os programas do "New Deal" induziu uma lenta recuperação, consolidada com a ativação gerada pela Segunda Guerra Mundial.

No Brasil a crise poderá ter impacto menor em razão das reservas internacionais altas e do modesto estágio de integração de nossa economia, porém salta aos olhos que, por manter linha macroeconômica incompleta – com o mandato único de controlar o nível da inflação – o governo desperdiçou oportunidades durante os "anos dourados", mantendo a economia travada, enquanto os demais países do chamado BRIC – Rússia, Índia e China – aproveitavam bem o maior ciclo de expansão no último meio século.

Agora, apesar de a janela de oportunidade se fechar neste primeiro momento, cabe lembrar que os capitais disponíveis para investimentos produtivos continuam em busca de oportunidades. Para atrai-los, é preciso que o Brasil reformule suas leis, abrindo frentes para que o setor privado invista em projetos de infra-estrutura, tão necessários ao país.

Com reservas internacionais garantindo nossa segurança, resta saber se o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, saberá enfrentar sua primeira grande crise externa de modo a extrair benefícios para o Brasil.

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