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Vista aérea do Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais.
Vista aérea do Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais.| Foto: Divulgação / Anac

Curitiba e o Paraná ficaram para trás quando o assunto são voos internacionais de longo alcance, para destinos como a Europa e a América do Norte. Enquanto a oferta crescia em aeroportos do Sudeste e Nordeste, a última rota regular ligando o Aeroporto Internacional Afonso Pena aos Estados Unidos, operada pela American Airlines com destino a Miami, foi encerrada em fevereiro de 2016; a aeronave era obrigada a partir com pouco combustível, o suficiente apenas para chegar a Porto Alegre, onde era reabastecida para realizar todo o trajeto até a Flórida. Tudo porque a maior das pistas do Afonso Pena, que tem 2,2 mil metros de comprimento e está 900 metros acima do nível do mar, não é suficientemente longa para um avião de grande porte decolar lotado.

A ampliação da pista principal ou a construção de uma terceira pista são assunto recorrente há muitos anos, mas jamais saíram do papel. Só com a concessão do Afonso Pena à iniciativa privada, em leilão que inicialmente estava previsto para outubro deste ano, mas que foi adiado devido à pandemia de coronavírus, o tema retornou com força. No entanto, o estudo no qual o edital deveria se basear não considerava nenhuma das duas possibilidades, prevendo a construção de uma terceira pista apenas “caso a movimentação de aeronaves extrapole a capacidade do atual sistema”, que é de 14 milhões de passageiros por ano. O texto acrescentava que “as projeções de demanda apresentadas no estudo de mercado apontam para o final do período concessivo uma movimentação anual e horária de aeronaves ainda compatível com a capacidade atual do sistema de pistas”, ou seja, a terceira pista não se tornaria realidade a não ser que houvesse um aumento da demanda muito acima do previsto.

O Afonso Pena precisa estar em condições de receber voos que levem passageiros e cargas aos principais destinos mundiais sem depender de conexões ou escalas

A sociedade civil organizada, o setor produtivo e políticos paranaenses se mobilizaram, vendo que o estudo perpetuava um círculo vicioso: sem voos intercontinentais, o Afonso Pena se limitaria a rotas domésticas, atraindo movimento menor, o que por sua vez continuaria a tornar “supérflua” a terceira pista. “Não podemos esperar mais 30 anos, senão [o aeroporto] vai ficar como está”, disse à Gazeta do Povo João Arthur Mohr, gerente dos Conselhos Temáticos e Setoriais da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).

Como resultado, o governo federal se propôs a rever os planos. No início de março, durante audiência pública em São José dos Pinhais, o diretor de Políticas Regulatórias da Secretaria Nacional de Aviação Civil, Ricardo Fonseca, garantiu que o Afonso Pena teria uma solução satisfatória para permitir voos diretos aos Estados Unidos e Europa. Dias atrás, o governo do estado e a Fiep anunciaram que o edital contemplará a terceira pista. “Haverá [no edital de concessão] uma diretriz específica para a construção da terceira pista do Aeroporto de Curitiba, com 3 mil metros de comprimento”, afirmou à Gazeta do Povo o Ministério da Infraestrutura.

O governo federal não informou mais detalhes, mas, segundo a Fiep e o governo estadual, haveria um prazo de cinco anos para a construção da nova pista a partir da assinatura da concessão. A esta altura, o importante é conseguir o compromisso de que a terceira pista será construída; os prazos dependerão principalmente de como a economia irá se recuperar após o caos deixado pelo coronavírus. O turismo e o setor aéreo estiveram entre os primeiros a serem atingidos pelas restrições, e enfrentam uma crise gravíssima. O calendário precisará ser ajustado com todo o cuidado: o leilão tem de ocorrer quando os grandes players estiverem em condições de fazer boas ofertas, e o planejamento de investimentos também tem de ser ajustado a essa recuperação, para não espantar eventuais interessados.

Quando a pandemia terminar, ainda haverá fatores que limitarão a demanda no curto prazo, como o real desvalorizado, que desestimulará muitos planos de viagem (embora também torne o Brasil mais barato para estrangeiros, que poderiam usar Curitiba como conexão para chegar a destinos como Foz do Iguaçu). Mesmo assim, o horizonte de tempo proposto para a construção da terceira pista permite contar com uma recuperação, ainda que gradual, da economia brasileira; quando isso ocorrer, o Afonso Pena precisa estar em condições de receber voos que levem passageiros e cargas aos principais destinos mundiais sem depender de conexões ou escalas que encarecem a operação.

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