• Carregando...

A genialidade humana criou soluções eficientes para vários problemas da vida e abriu horizontes promissores para o progresso e o bem-estar das pessoas. O automóvel é uma das invenções maravilhosas da tecnologia e permitiu uma revolução econômica e social sem precedentes. Ele possibilitou ao homem andar pelo planeta com velocidade e conforto, encurtou distâncias, aproximou as pessoas, viabilizou o funcionamento das cidades e revolucionou o transporte de pessoas e mercadorias. O crescimento econômico e a melhoria do padrão de vida da humanidade são devidos, em grande parte, à existência dos automóveis de carga e de passageiros que, ao lado de aviões, navios, trens de ferro e barcos, mudaram a vida no planeta, sobretudo do fim do século 19 para cá.

Dos meios de transporte, nenhum cresceu tanto e tornou-se tão particular e popular quanto o automóvel de passageiros. Todavia, nenhum tornou-se tão problemático quanto o carro individual, como também nenhum outro provocou tanta confusão. A explosão do número de veículos particulares nos últimos trinta anos em todo o mundo criou um dos maiores e mais difíceis problemas sociais e urbanos que a humanidade enfrenta. No Brasil, o aumento da frota de veículos individuais nesta primeira década do século 21 está provocando um colapso que ameaça atingir um ponto de ruptura e paralisia nas cidades com população acima de 1 milhão de habitantes e em muitas vias que ligam as cidades. Ainda que muitas soluções viárias e altos investimentos nos sistemas de tráfego estejam em andamento, eles não vão solucionar nem sequer uma parcela importante dos imensos problemas causados pela expressivo crescimento da frota.

Os estudiosos do assunto vêm alertando para o estrangulamento do trânsito nas cidades e para a inviabilização do sistema viário urbano. Mesmo em Curitiba, sempre lembrada como o melhor exemplo de trânsito racional e eficaz, o sistema está em franco processo de deterioração. Por mais que a capital do Paraná tenha sido exemplo de soluções inteligentes, o acelerado crescimento da frota está massacrando o funcionamento do trânsito e apresentando os problemas clássicos de um sistema que não consegue suportar o número de veículos que circulam. Um percurso que, na hora do rush, podia ser percorrido em vinte minutos há vinte e cinco anos, hoje exige até uma hora, ou seja, três vezes o tempo gasto antigamente, com perdas em produtividade, estresse, ineficiência econômica e distúrbios sociais. O próprio funcionamento da economia e da vida social vai ficando comprometido, pois até mesmo o tempo gasto em deslocamento começa a ficar imprevisível.

O tamanho da frota, no Brasil, cresceu de forma rápida, e alguns estados, como São Paulo e Paraná, já atingiram a marca de um veículo para cada dois habitantes. Nenhuma cidade e nenhum sistema viário foi planejado e formatado para suportar tantos carros. As causas desse aumento podem até ser positivas: o barateamento dos preços dos automóveis, a ampliação do acesso ao financiamento e a melhoria da renda no país. Entretanto, mesmo causas positivas, capazes de gerar benefícios individuais, podem transformar-se em dramas coletivos imensos. Os problemas estão se tornando tão dramáticos e piorando a tal velocidade que, sem soluções radicais, em poucos anos haverá um desmoronamento completo desse modelo. Embora um quadro de catástrofe urbana pareça impensável, ele não é impossível.

Diante da tendência de piora, é o caso de se perguntar por que a sociedade brasileira não encara, agora, soluções radicais. O país não escapará de discutir medidas duras, a exemplo da cobrança de pedágio nos centros urbanos, elevação dos tributos sobre automóveis, punição para a circulação de veículos de grande porte como automóveis individuais, alternância de horários por ramo de atividade, vinculação dos impostos sobre automóveis a investimentos no sistema viário e no transporte público, além de outras medidas nessa linha. É difícil descobrir os limites do sofrimento e de estrangulamento que a sociedade consegue suportar e, por não sabê-lo, não se pode prever quando a ruptura se dará. Mas o que está ocorrendo nas grandes cidades é um prenúncio de que um estrangulamento urbano de grandes proporções está em marcha. É preciso agir logo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]