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Palestinos protestam contra o plano de paz de Donald Trump em um campo de refugiados no Líbano.
Palestinos protestam contra o plano de paz de Donald Trump em um campo de refugiados no Líbano.| Foto: Mahmoud Zayyat/AFP

Jimmy Carter, Ronald Reagan, Bill Clinton e George W. Bush: todos esses presidentes norte-americanos tentaram, sem sucesso, colocar um fim definitivo às hostilidades entre israelenses e palestinos. Nenhum deles conseguiu, apesar de seus planos terem obtido alguns avanços – a própria criação da Autoridade Palestina foi resultado de um desses esforços. Agora, Donald Trump também abraça o desafio com um novo plano para a paz no Oriente Médio, anunciado na terça-feira, ao lado do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, mas que já teve rejeição imediata por parte dos palestinos, que não participaram da elaboração da proposta.

O relatório distribuído pela Casa Branca, que inclui dois mapas, mostra alguns pontos centrais do acordo, e não é muito difícil entender as razões da indignação palestina. Em vez das fronteiras tradicionais da Cisjordânia, a região seria bastante retalhada para a constituição de parte do futuro Estado palestino, que não teria acesso nenhum nem ao Rio Jordão, nem ao Mar Morto. Além disso, mesmo dentro desse território palestino continuaria a haver enclaves israelenses, ligados ao território de Israel por estradas exclusivas. O resto da Cisjordânia seria incorporado a Israel, considerando os assentamentos judaicos existentes ali como fato consumado e irreversível.

Há muitos que lucram com o estado atual de beligerância, especialmente os terroristas do Hamas

A compensação, para os palestinos, seria o acesso a dois portos – Haifa e Ashdod –, além da concessão de um território adjacente à Faixa de Gaza, para a instalação de um setor industrial de alta tecnologia e de outra área residencial e agrária, ambos próximos à fronteira com o Egito, mas sem contato direto com o país vizinho. A Cisjordânia palestina e a Faixa de Gaza seriam ligadas por um túnel. Além disso, os palestinos teriam à disposição US$ 50 bilhões para investimentos que gerariam cerca de 1 milhão de empregos.

E, na tentativa de conquistar o apoio dos dois lados, Trump fez de Jerusalém uma “capital de Schrödinger”, ao mesmo tempo palestina e israelense, “indivisível” e dividida. O plano trata a cidade como capital “indivisível” de Israel, e simultaneamente estabelece a capital do futuro Estado palestino no setor de Jerusalém Oriental que compreende os bairros árabes, onde haveria até mesmo uma embaixada norte-americana, mas sem o direito ao “nome” Jerusalém (o plano sugere que a capital palestina se chame Al-Quds). A única medida de implementação menos controversa seria o acesso livre dos palestinos muçulmanos à Mesquita de Al-Aqsa, na Cidade Velha. O status de Jerusalém sempre foi um entrave a qualquer entendimento entre israelenses e palestinos. Com os dois lados reivindicando a cidade para si, seja inteira (caso de Israel), seja a parte oriental (caso dos palestinos), qualquer solução haverá de desagradar pelo menos uma das partes, quando não ambas, a ponto de inviabilizar o processo de paz.

Uma das palavras mais usadas para descrever o plano de Trump foi “realista”. Ele reconhece, por exemplo, que a presença judaica na Cisjordânia já é suficientemente consolidada para que não seja mais possível transferir todo aquele território para um futuro Estado palestino – não sem que houvesse forte resistência dos assentados, com derramamento de sangue caso houvesse tentativas de desalojá-los. A troca dessas áreas por outros territórios, hoje israelenses, surge como opção, mas, com o mapa desenhado por Trump, os palestinos inevitavelmente questionariam o fato de terem acesso bloqueado às principais fontes de água da região, o que leva a perguntar se não haveria outras áreas disponíveis para essa troca.

A reação palestina parece indicar que o plano surge praticamente natimorto. Parte disso pode ser atribuída a um descontentamento legítimo com termos propostos, mas não se pode perder de vista que há muitos que lucram com o estado atual de beligerância, especialmente os terroristas do Hamas, que governam Gaza. Basta lembrar que, em 2000, o então premiê israelense, Ehud Barak, fez concessões muito mais amplas que as previstas pelo plano de Trump, mas foram recusadas por Yasser Arafat. O povo palestino tem muito mais a ganhar com o fim dos conflitos e o retorno a uma vida normal, que lhe permita trabalhar e prosperar em paz; a continuação das hostilidades apenas alimenta o ressentimento que cria terreno fértil para os extremistas, e é justamente por isso que as perspectivas de um entendimento definitivo entre israelenses e palestinos, no momento, são tão escassas.

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