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O mercado financeiro e a economia real – empresas que produzem e geram riquezas no país – vinham esperando há algum tempo do governo medidas capazes de frear a trajetória de valorização do real, que prejudica a capacidade exportadora nacional. Elas vieram na forma de um compulsório sobre as operações dos bancos no mercado futuro de câmbio, anunciado nesta quinta-feira antes da abertura dos mercados, mas sua eficácia ainda é incerta. Servem como demonstração de que o governo tem "infinitas maneiras" de atuar sobre o câmbio, para usar as mesmas palavras do ministro Guido Mantega em pronunciamento feito na terça, mas não serão suficientes para mudar o cenário. O país continua aguardando.

Não que o compulsório seja inócuo. Ele irá certamente contribuir para frear a busca dos bancos por dinheiro externo, e contribui com a segurança do sistema financeiro por inibir uma exposição excessiva ao risco no mercado de derivativos. Mas o mercado entendeu a ação mais como uma medida inicial, preparatória, para outras que virão. Ela deve conter, por exemplo, operações de arbitragem, em que os bancos tomam dinheiro emprestado no exterior (pagando juros baixos) e investem aqui (recebendo juros altos). Com a esperada alta na taxa Selic já na semana que vem, essa operação se tornaria ainda mais atraente. Nesse caso, o compulsório funciona como um inibidor. Um obstáculo a mais, tornando esse jogo financeiro mais caro.

É a mesma lógica que levou o governo, no ano passado, a elevar o Imposto Sobre Operações Financeiras na entrada de recursos de investidores estrangeiros de renda fixa. Naquela ocasião, comprovou-se que o alcance dessas medidas é limitado: poucos dias depois, o fluxo de dinheiro entrando no país voltou a crescer, inundando o mercado de novo com dólares. Como resultado, a cotação da moeda americana voltou a cair. No ano passado, o alvo da medida eram os estrangeiros; agora, são movimentos especulativos protagonizados por brasileiros.

É preciso criar caminhos que levem a um equilíbrio permanente, e ele deve passar por uma redução nas taxas de juros. São elas que fazem do Brasil um destino tão atraente para o especulador – seja ele nativo ou estrangeiro. A presidente Dilma Rousseff já se mostrou simpática a essa ideia, mas colocá-la em prática é um quebra-cabeça para a ciência econômica, porque baixar a taxa de juros pode elevar a inflação devido aos altos déficits do governo.

A estabilidade econômica brasileira foi uma conquista que passou por várias fases. A primeira foi marcada por uma rédea curta no câmbio, uma fórmula que não pode ser repetida porque o país hoje é outro, com uma economia mais sofisticada. Nessa etapa, o real valorizado permitiu que o governo "matasse" com mais rapidez a inflação, permitindo a entrada de mercadorias estrangeiras baratas. Na segunda etapa, o sistema de metas de inflação deu aos agentes econômicos tranquilidade para fazer negócios com a certeza de que não haveria sobressaltos no caminho.

Agora, é preciso definir caminhos. O governo ensaia reduzir a meta de inflação no futuro, e essa opção faz todo sentido, porque a meta de 4,5%, com tolerância de dois pontos porcentuais, ainda é muito permissiva. É necessário, porém, que os brasileiros saibam que o principal instrumento à disposição do governo para isso é a elevação dos juros. O preço, portanto, pode ser muito alto.

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