• Carregando...

A manchete com que a Gazeta do Povo chegou às bancas ontem – Curitiba tem menos acidentes, mas mortes aumentam 19% – constitui-se num alerta importante para toda a comunidade. Ela retrata a íntima e triste relação de proporcionalidade entre a ingestão de bebidas alcoólicas e a gravidade dos acidentes de trânsito, o que imediatamente nos remete a considerar como imprescindível uma atuação mais vigorosa da fiscalização e a realização em caráter permanente de campanhas de conscientização e de prevenção contra a perigosa simbiose álcool–direção.

A matéria teve como motivação a tragédia ocorrida em Curitiba no domingo à noite, quando o caminhão dirigido por um motorista embriagado chocou-se contra um carro estacionado numa calçada, matando cinco pessoas e ferindo gravemente uma sexta, todas de uma mesma família. Revoltadas, testemunhas do acontecimento mataram o motorista a paus e pedras. Dada a repercussão do caso, que ganhou espaço em toda a imprensa nacional, o tema deixou a natural latência das estatísticas para mostrar, com seus números, a dimensão trágica do problema: muito embora o número total de acidentes tenha diminuído 32% (de 13.254 para 8.990) em Curitiba, no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado; o de mortes aumentou 19% (de 42 para 50). Conclusão: há menos acidentes, mas eles estão se tornando muito graves.

E estão se tornando mais graves devido a um problema que será constatado já muito tarde, apenas nos prontos-socorros: 96% dos pacientes internados em decorrência de acidentes de trânsito, incluindo os atropelamentos, apresentam graus variáveis de presença de álcool no sangue. Do total de colisões registradas – e que não necessariamente deixaram mortos ou feridos –, 65% tinham como condutores motoristas embriagados, geralmente apresentando mais de 0,6 grama de álcool por litro de sangue, índice limite estabelecido pelo Código Brasileiro de Trânsito.

Esse é um quadro semelhante ao que já foi verificado em alguns países até passado recente, nos quais a incidência do álcool influenciava a maior parte das fatalidades. A diferença é que neles o problema foi vencido, enquanto que aqui ainda não. No Brasil, o número de casos fatais no trânsito, para cada grupo de 10 mil veículos, é de 7, enquanto que no Japão e nos Estados Unidos é de menos de 1. Ou seja, ainda morre-se sete vezes mais em nosso país do que em outros que souberam enfrentar a questão com eficácia. Foi à força de muita fiscalização e de uso intensivo de bafômetros que, ao longo de alguns poucos anos, o Japão, por exemplo, conseguiu drástica redução. Estamos longe, portanto, de alcançar o índice de três mortos por 10 mil veículos/ano, tido como aceitável pela Organização das Nações Unidas (ONU).

É evidente que o esforço a ser feito deve se direcionar para o principal objetivo, que é salvar vidas e evitar traumas decorrentes da direção irresponsável. Mas não custa lembrar um dado econômico, para dar ao problema uma outra dimensão: segundo levantamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), os acidentes de trânsito custam ao país mais de R$ 15 bilhões por ano quando se somam os custos de internação nos hospitais públicos (70% dos leitos dos prontos-socorros abrigam vítimas da violência no trânsito), pensões por invalidez e perda de força de trabalho.

Considerado um diploma legal quase perfeito, o Código Brasileiro de Trânsito prevê aos infratores flagrados sob efeito de álcool penas que vão da perda imediata da carteira de habilitação à prisão por até seis anos. Entretanto, nota-se um afrouxamento no seu cumprimento e na fiscalização. Fiscalizar com mais rigor e com mais freqüência, repetindo-se blitzes, principalmente nas madrugadas e nos fins de semana, deve ser a primeira e mais urgente providência.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]