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Das duas, uma: ou a reunião ministerial, que consumiu 11 horas com as exposições e debates dos ministros de primeira classe, não justificou o tempo desperdiçado ou o governo anda mesmo necessitado de reforço nas suas relações com o público.Para começar, é intrigante o formato da arrumação do maior ministério de todos os tempos, espremido no imenso Salão Oval do Palácio do Planalto, como cortado em fatias do bolo: das duas dezenas e quebrados dos convocados, apenas nove foram escalados para os balanços setoriais dos gomos da laranja lulista: desenvolvimento, ações sociais, infra-estrutura, condução da política econômica e segurança pública. Aos demais, boca fechada para evitar os pitos do presidente com os nervos tensos, hesitante, a acusar as pancadas na moleira dos trambolhões nas pesquisas que acenderam as luzes vermelhas dos riscos no sonho da reeleição.

Ressalve-se que os prezados colegas da imprensa brasiliense e eventuais visitantes não tiveram acesso a qualquer das etapas do seriado. Pelo visto, sequer foram convidados para o churrasco natalino na Granja do Torto. Ora, se o sigilo sobre os transcendentais temas tratados na maratona com recorde de participantes era uma questão fechada para a tática presidencial, a evidente severidade do segredo de Estado deveria ser protegida pelo compromisso, com o reforço do juramento recitado em coro, de bico calado para não entrar o mosquito que faz cócegas na goela. Uma vez mais, a criatividade oficial gerou um híbrido. Na arrumação fatiada em blocos, percebe-se o dedo da ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, com crescente desembaraço na ocupação do vazio do Palácio do presidente itinerante, com a agenda lotada pelas viagens diárias e meia dúzia de improvisos.

Reconheça-se que deu certo. Se todos os agasalhados no cortiço fossem convocados a explicar o que fizeram e a justificar porque não fizeram nada, a reunião entraria pela noite, continuaria no churrasco para varar a madrugada.

Mas, se nem tudo era segredo, faltou o ilustre assessor de imprensa para transmitir à turma maltratada pela longa vigília a versão expurgada dos inconvenientes.

Com o sumiço do porta-voz, uma improvisada dupla de ministros – Ciro Gomes e Jaques Wagner – do escalão superior, deu conta do recado na medida do possível, distribuindo concisos resumos desconchavados com o adorno de enfáticos comentários sobre os êxitos do governo, ignorados ou negados pela mídia.

Como não há segredo que subsista a dezenas de donos de cópias da chave do cofre arrombado, até o fim da semana o chuvisco das inconfidências pingará a gota rala dos mexericos no noticiário político, no jejum do recesso parlamentar do Congresso às moscas na convocação extraordinária ao custo de R$ 100 milhões. O governo está rico, paga e não bufa.

No mais, o blablablá das promessas desafina no repeteco da mesma cantilena. Nas entrelinhas, a tentativa de mascarar os fracassos com a ênfase no destaque dos acertos e o engambelo de promessas nos seis meses de mandato do último semestre, anestesiado pela campanha eleitoral. E o flagrante do governo que se debate, como náufrago em mar poluído, para salvar a reeleição corroída pela ferrugem do escândalo da corrupção e quase três anos de mandato de desempenho chinfrim. O programa Bolsa-Família é o remendo para todos os furos. Deve saltar do sucesso inegável do atendimento de mais de 8 milhões de famílias abaixo da linha de pobreza para 11 milhões até o fim do governo. Na contramão da mais descarada apelação eleitoreira, o governo somítico, campeão da avareza na liberação de verbas orçamentárias, escancarou o cofre da viúva: Lula comunicou ao distinto auditório que o festival de gastança prosseguirá em ritmo crescente de samba-enredo, batendo no teto de R$ 7,9 bilhões a serem liberados no ademão da caça ao voto. Dinheiro de mais e fiscalização de menos acaba em CPI. Entre os milagres anunciados inclui-se a duplicação da BR-101, no exagero que roça pelo cinismo: a malha rodoviária em petição de miséria, com imensos trechos intransitáveis, roga por uma singela operação de tapa-buracos. Aqui, na saída da cidade, transposta a ponte Rio–Niterói, obriga os motoristas à infração de transitar pela pista à esquerda, fugindo da buraqueira que desmantela os carros, arrebenta com a suspensão e os pneus. Mas, se o presidente Lula afirma que o governo não tem nada a ver com o mensalão e o caixa 2 – que financiaram a sua campanha, e repassa a responsabilidade para o PT – pode dizer o que quiser que a gente compreende.

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