• Carregando...

A decisão da companhia alemã BMW em alocar R$ 1 bilhão na instalação de sua primeira fábrica de automóveis no Brasil, no município de Araquari (no norte catarinense, região polarizada por Joinville), anunciada em outubro de 2012, provocou pertinente inquietação nos meios políticos, empresariais e de formação de opinião do Paraná, amparada, no entanto, em uma precipitada interpretação de ocorrência de fuga de investimentos do estado.

É necessário esclarecer que a plena inserção do Brasil na globalização, ao lado do quadro de inflação baixa, predominante a partir de julho de 1994, reacendeu as expectativas de impulsão das inversões produtivas e abriu flancos para os diferentes entes da federação colocarem os seus trunfos à disposição dos empreendedores potenciais.

Nesse sentido, a teoria da localização industrial permite um entendimento essencialmente técnico da escolha do território catarinense pela empresa alemã para hospedar a unidade fabril. O norte de Santa Catarina possui localização geográfica privilegiada em relação aos principais mercados brasileiros e do Cone Sul, saída para exportação, adequada infraestrutura de transportes e economias de aglomeração, sintetizadas na base industrial diversificada e consolidada e na disponibilidade de mão de obra qualificada, reforçadas pela proximidade do parque metalmecânico da Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

É curioso notar que, na segunda metade da década de 1970, quando o Paraná iniciava um arrojado movimento de adensamento de sua matriz produtiva, no elenco de cacifes competitivos apresentados aos empresários interessados em fincar raízes por aqui figurava a curta distância que separa a RMC do polo fornecedor da área de Joinville. Logo, em vez de a BMW ter sido perdida pelo Paraná, talvez seria mais sensato admitir que Santa Catarina a conquistou.

Aliás, o estado vizinho só não participou mais ativamente do ciclo de atração de projetos industriais ocorrido no país no segundo quinquênio dos anos 1990 em razão da condição de não duplicação da BR-101 e, principalmente, do envolvimento do governador da época nos escândalos dos precatórios, o que afastou os investidores de Santa Catarina, dada a ausência de interlocutor político local confiável.

No Paraná, nota-se desde o começo de 2011 uma agenda programática de transformação, levantada e conduzida em sintonia fina entre governo estadual e demais atores sociais, conforme os princípios clássicos de planejamento do desenvolvimento, que proporcionam a aproximação do presente com o futuro. Tal esforço vem acontecendo em linha com os preceitos da chamada Terceira Revolução Industrial e os interesses coletivos de atenuação, ou até eliminação, das disparidades intrarregionais de geração de oportunidades, em uma perspectiva de fortalecimento de vocações e descoberta de aptidões regionais, superando a abordagem tradicional dos distritos industriais.

Como efeito, o Paraná vem liderando a abertura de postos de trabalho mais nobres no Brasil em 2012 – com a indústria respondendo por 24,6% do fluxo de empregos totais contra 16,3% no país, sendo 88,3% no interior – e contabilizando diversificado portfólio de projetos privados, superior a R$ 21 bilhões em 21 meses, registrado no Programa Paraná Competitivo, em atendimento à demanda reprimida entre 2003 e 2010.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é di­­retor-presidente do Ipardes e professor da FAE.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]