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Secretário estadual de Saúde do Paraná, Beto Preto.
Secretário estadual de Saúde do Paraná, Beto Preto.| Foto: Geraldo Bubniak / AEN

Com a taxa mais alta de transmissão de todo o Brasil, o Paraná e todos os municípios do estado travam uma batalha para evitar aglomerações, principal causa do crescimento acelerado do contágio de Covid-19 no novo avanço da pandemia pelo estado. Recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para que fique abaixo de 1, o índice de transmissão no Paraná está próximo de 1,5 – ou seja, cada grupo de 100 pessoas é capaz de transmitir a doença para outras 150 pessoas. Nesta terça-feira (24), o Paraná teve 1.798 novas infecções, alcançando a marca de 5.878 mortes e 258.432 casos confirmados de Covid-19, desde o início da pandemia, em março. Além disso, o estado está com 79% das UTIs de coronavírus ocupadas, em Curitiba, a ocupação é de 90%.

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Apesar dos números alarmantes, não há indicativo do governo do estado da tomada de novas medidas restritivas. O secretário estadual de Saúde, Beto Preto, reforça, então, um apelo à população que ressoa desde o início da pandemia: quem puder, fique em casa. Ou seja, aglomeração nem mesmo em festas familiares, incluindo Natal e ano novo, que se aproximam. “Aglomeração não é só balada, barzinho lotado. Aglomeração pode acontecer na sala de casa”, enfatiza Beto Preto, citando uma tragédia familiar na região metropolitana de Curitiba em que quatro pessoas morreram após contágio em um churrasco. "Precisamos de uma conscientização coletiva. As pessoas querem voltar à vida normal, mas a pandemia não acabou". Leia a seguir a entrevista com o secretário estadual de Saúde.

O Paraná hoje está com a taxa mais alta de transmissão no Brasil, em quase 1,5. A que o senhor credita essa aceleração tão rápida de casos nos últimos dias?

O principal problema são as aglomerações, que têm acelerado o contágio e fizeram nossa taxa de transmissão saltar de 0,96 para 1,47 em mais ou menos um mês, um mês e pouquinho. Tivemos os feriados de 12 de outubro e Finados, além da campanha eleitoral, o que causou aglomerações e movimentação de pessoas. Isso foi uma mistura explosiva para esse aumento dramático. Na eleição, não houve comícios e o ato de votar cumpriu todos os protocolos sanitários, mas houve o contato de cabos eleitorais.

O que a Sesa está planejando para conter esse novo avanço do coronavírus no estado?

Muitos municípios já estão se preparando para uma possível mudança da grade de risco, podendo voltar às restrições. Da parte da Sesa, estamos planejando a reativação de leitos exclusivos para a Covid-19. Aqui em Curitiba, por determinação do governador Ratinho Jr, reabrimos 38 novos leitos de UTI para Covid-19 no Hospital de Reabilitação. Devemos reabrir também leitos de enfermaria e UTI no interior. Além disso, vamos inaugurar 20 novos leitos de UTI em Foz do Iguaçu, com respiradores cedidos pelo governo federal, já que a abertura da Ponte da Amizade, na fronteira com o Paraguai, forçou o sistema de saúde da cidade. Soma-se a isso a grande quantidade de testes que estamos realizando. Ampliamos nossa capacidade de 6,5 mil exames por dia para 9 mil e pretendemos chegar em breve a 10 mil exames.

Como o senhor vê o comportamento da população em relação à prevenção da Covid-19?

Passados tantos meses, as pessoas querem voltar à vida normal. Mas a pandemia não acabou. Na verdade ela está acelerando neste momento. Voltamos a índices de contágio que se assemelham a de julho e agosto, o ápice da pandemia. Neste momento, com calor, poderíamos ter 300 casos diários, mas houve dias em que chegamos a bater quase 1,5 mil infecções em um único dia [a entrevista foi antes da marca de 1.798 casos desta terça-feira]. Poderíamos estar voltando nossas forças para outras doenças, além da Covid-19, como a dengue e a vacinação de poliomielite. Mas ainda temos que devotar muito do nosso esforço ao coronavírus.

E vale lembrar: a flexibilização pôs as pessoas nas ruas novamente. Ou seja, agora voltamos a ter outras demandas, como atendimento de vítimas de acidentes de trânsito, de brigas em bares, de traumas, que também sobrecarregam o sistema. Só como comparação, quando a população estava isolada socialmente, a demanda de atendimentos de traumas chegou a cair 75%. Enfatizo: a capacidade de atendimento do nosso sistema é muito grande, mas é finita. Além disso, nossos profissionais de saúde estão extenuados de tanto trabalhar.

A Sesa tem conversado com a Polícia Militar e mesmo com os municípios para barrar aglomerações, como festas clandestinas e bares lotados?

A PM tem sido uma grande parceira. Mas com nove meses de pandemia, muito mais do que o poder público repreender, deveria haver uma conscientização coletiva das pessoas. Temos que ganhar as pessoas para que não baixem a guarda das medidas preventivas, de usar a máscara, lavar as mãos, usar álcool gel, manter o distanciamento social e, principalmente, evitar aglomerações. Quero aqui agradecer publicamente quem não tem escolha de ficar em casa, quem tem que sair para trabalhar, gente que mesmo com as dificuldades não esmoreceu em nenhum momento. Mas para quem pode, pedimos: fique em casa! Não saia de casa sem necessidade. E para quem tem que sair, por favor, todo cuidado, principalmente no momento de retornar para sua residência.

Fim de ano está chegando. O que a Sesa recomenda para encontros familiares na ceia de Natal e no ano novo?

Eu quero lembrar a população que aglomeração não é só balada, barzinho lotado. Aglomeração pode acontecer em qualquer lugar, na sala de jantar da pessoa, inclusive. Qualquer reunião familiar ou de amigos, seja um churrasco, um chá de bebê, uma comemoração de aniversário, qualquer festejo, se puder, deixe para depois. Neste momento, evitar qualquer tipo de aglomeração é celebrar a vida. Qualquer aglomeração agora é risco de contágio, inclusive Natal e ano novo. Não aglomere, não é o momento disso, não bote a sua vida, da sua família e de seus amigos em risco. Quero inclusive citar um exemplo de reunião familiar que acabou em tragédia. Há poucos dias, 23 pessoas de uma família se reuniram para um churrasco em uma chácara na região metropolitana de Curitiba. Dezoito pessoas se contaminaram e quatro faleceram. Portanto, no momento, comemorar a vida é não aglomerar.

Além das festas de fim de ano, está se aproximando também a temporada de verão nas praias, quando, em períodos normais, cerca de 1,5 milhão de turistas chega a descer para o Litoral do Paraná somente no réveillon, na virada do dia 31 de dezembro para 1.° de janeiro. Como a Sesa vai agir na Operação Verão para evitar aglomerações na praia?

Vamos reforçar nossas equipes junto com a Secretaria de Segurança Pública e a Paraná Esporte para evitar aglomerações. Já está certo que não haverá shows no Litoral neste verão. Além disso, teremos entre seis e sete postos móveis para coleta de exames RT-PCR de livre demanda da população. Esses postos volantes ficarão espalhados pelas cidades litorâneas. Na praia, como qualquer outro local, deve ser evitada a aglomeração. A Secretaria de Segurança Pública sempre faz um bom trabalho na Operação Verão e nós vamos dar esse suporte como sempre, inclusive com leitos hospitalares.

Como fica a volta às aulas com este novo avanço da pandemia?

As aulas seguem interrompidas. Com esses números de agora, é impossível voltar.

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