Entre todas as (muitas) facetas artísticas de André Malinksi, o AnilinA, havia algo em comum: a fascinação pelo que é humano. Em seus 55 anos de vida, o artista visual se expressou como produtor e diretor de arte, designer, carnavalesco, desenvolvedor de acessórios e drag queen, além de atuar como professor e pesquisador em arte e história da arte. André faleceu em Curitiba no dia 15 de novembro de 2021.
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A carreira artística começa com o teatro, no início dos anos 1980, logo após se mudar de São Jorge D’Oeste (PR) para Curitiba para finalizar os estudos. Inicia o curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Paraná (UFPR), mas não conclui, muda-se para São Paulo, Londres e Milão em um intervalo de seis anos, e nesse tempo absorve influências e faz novas experiências expressivas enquanto aprimora os idiomas inglês e italiano. De volta à Curitiba em 1996, passa a estudar produção de arte e adota o nome artístico pelo qual seria conhecido pelo resto da vida – AnilinA – fruto do grupo de mesmo nome formado com Marco Teobaldo.
O ateliê AnilinA, seu antigo apartamento, cujas paredes eram forradas com trabalhos seus e de amigos, foi o endereço onde realizou todos os seus projetos. Promove exposições individuais, participa de coletivas, é contemplado com prêmios-viagem nacionais e internacionais que lhe permitem amadurecer a produção e expandir a visualização de suas obras. É selecionado em diferentes edições de Salões de Arte importantes, como o Paranaense, e vence prêmios significativos como artista e educador, entre eles o Prêmio Darcy Ribeiro, em 2019, pela atuação no setor educativo do Museu Oscar Niemeyer ao implantar em parceria com Karina Marques o programa Arte para Maiores (voltado para pessoas com mais de 60 anos).
Em trabalhos que tratavam a humanização do sagrado ou no dia-a-dia, sempre encontrava oportunidade de ser provocativo, mesmo que de forma singela. A amiga e parceira Larissa Busnardo acredita que aos poucos André tornou-se sua própria obra de arte. “Ele constantemente fazia e dizia coisas bonitas e significativas. A expressão, em diferentes meios e linguagens, era um modo de vida para ele”, define. Carismático e mestre em diplomacia, chamava a atenção pela energia jovial e o riso fácil. Era unanimidade entre os conhecidos, todos tinham alguma história para contar sobre ele.
Muitas delas nasceram no Carnaval, época indispensável para o artista e que, junto com a montação de drag queen, foram importantes na transformação de sua persona artística ao longo dos anos. Em fevereiro, era quase impossível encontrá-lo em casa. “Para o André era bastante natural esse papel festivo, o gosto pela arte da fantasia e pela energia fervilhante da rua apareciam muito na rotina dele”, comenta Larissa. A história com a folia vem de berço, pois o pai foi Rei Momo.
Amigos formaram um novo bloco de carnaval em homenagem a Malinski
Como folião e carnavalesco de presença mais ativa a partir de 2014, participou de blocos como Garibaldis e Sacis, Bloco Burlesco das Cachorras, Siribloco, entre outros. Acreditava no Carnaval como uma catarse coletiva da qual sempre saía com alguma reflexão existencial. Incansável e muito bem fantasiado, era sempre o último a deixar a festa. Entre os papeis que assumia no festejo estavam o de tocador de surdo – sua marca era bater leque com destreza e personalidade – e sua persona drag Mohanna, que ostentava a faixa de musa. Sua presença era tão marcante que integrantes de diferentes blocos se uniram e formaram um novo bloco em homenagem a ele, o Malinski-se.
Graduado em Artes Visuais pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap) em 2012 e mestre em História pela UFPR em 2019, continuou os estudos sobre o multiartista Raul Cruz – que André inclusive conheceu na juventude – ao iniciar um doutorado também na UFPR no mesmo ano. “Acredito que um dos objetivos de André ao cursar a pós-graduação, além do desenvolvimento pessoal, era tentar conquistar uma cadeira como professor na universidade. Era um sonho que ele tinha”, relata Larissa.
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