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Secretaria da educação quer que tecnologias desenvolvidas para aulas remotas durante a pandemia sejam incorporadas pelas escolas no pós-pandemia
Secretaria da educação quer que tecnologias desenvolvidas para aulas remotas durante a pandemia sejam incorporadas pelas escolas no pós-pandemia| Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Os estudantes da rede pública paranaense completam, nesta semana, quatro meses sem pisar na escola. As aulas foram suspensas, em todo o estado, em decreto assinado pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) em 16 de março, como primeira medida de prevenção à pandemia causada pelo coronavírus, que registrava seus primeiros casos no estado naquela época. Foram duas semanas de férias de inverno antecipadas e, desde 6 de abril todo o ensino vem sendo feito à distância, numa estrutura inédita e colocada em prática em tempo recorde, mas que gerou discussão sobre seu alcance e efetividade.

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Para tentar chegar a todos os cerca de um milhão de estudantes da rede, a Secretaria de Estado de Educação (Seed) estruturou o “Aula Paraná” em cinco formas. A principal plataforma é a internet, com teleaulas publicadas no Youtube, salas de aula virtuais no Google Classroom e aplicativo no celular para o aluno ter contato com sua turma e seus professores. Para atingir os alunos sem acesso à internet, o governo do Paraná contratou a RIC TV e as aulas vêm sendo exibidas em TV aberta, nos subcanais da emissora. Se o aluno também não possui televisão ou o sinal da RIC não chega em sua residência, a solução foi disponibilizar materiais impressos para leitura, estudo e realização de atividades, que devem ser retirados pela família na escola de cada estudante.

Essa diferença na forma de acesso é a principal crítica de estudantes e professores ao sistema. “Na volta ao ensino presencial, teremos o aluno que teve acesso a todas as ferramentas, assistiu todas as aulas, fez todas as atividades e assimilou o conteúdo; teremos o aluno que até teve acesso ao conteúdo, mas sem a presença de um professor e sem a estrutura adequada, pouco conseguiu assimilar; teremos o aluno que recebeu um monte de material impresso e um “se vira” para estudar sozinho; e o aluno que não teve acesso a nada. Todos eles voltarão a estudar juntos, em condições de normalidade, exacerbando ainda mais as diferenças”, avalia a professora Taís Mendes, secretária educacional do Sindicato dos Professores do Paraná (APP Sindicato) e membro do Conselho Nacional de Educação.

Nivelamento no retorno

A Seed diz estar ciente deste risco e promete um grande trabalho de nivelamento na retomada das aulas presenciais. “Essas diferenças já existem. Dentro de uma turma sempre tem alunos com grande aproveitamento, outros na média e os que têm dificuldade. Nas aulas não presenciais, isso ocorre também. A gente tem que trabalhar de forma que todos sejam contemplados. Quando voltar às aulas, teremos duas semanas de nivelamento, com o professor reforçando, em sala de aula, o que foi trabalhado nestes meses de ensino à distância. Além disso, oferecemos nivelamento contínuo, com aulas de reforço uma vez por semana. E, para o ano de 2021, faremos uma reformulação do currículo, para atender essa readequação. Teremos uma avaliação diagnóstica no retorno, quando a rede e os professores terão feedback de cada estudante, além de um plano de aulas essenciais para a reforço, de conteúdos fundamentais”, explica o diretor do Departamento de Educação da Seed, Roni Miranda.

No Paraná, o governo do estado conta com um sistema próprio de acompanhamento dos dados do Aula Paraná, que é o sistema de Business Intelligence, o BI. De acordo com os dados deste sistema, 99% dos estudantes paranaenses estão tendo aulas não presenciais usando ao menos uma das cinco ferramentas desenvolvidas pelo Aula Paraná, sendo que 930 mil já baixaram o aplicativo de celular. No Youtube, o canal já passa de 23 milhões de visualizações e de 300 mil inscritos, sem contar que já registra um milhão de usuários únicos.

Pelo BI a Seed também faz o acompanhamento da participação dos professores nas aulas virtuais. 99,5% dos professores estão inseridos e postam diariamente nas suas salas virtuais. As interações entre alunos e professores nos murais das salas já passam de 9,86 milhões, além de 10 mil meetings diários no Google Meet, sistema de videochamada integrado ao Classroom. Segundo a secretaria, os 0,5% de professores que não estão inseridos nas plataformas on-line estão atuando nas gravações de videoaulas, suporte pedagógico nos Núcleos Regionais e Escolas, onde fazem atendimentos pedagógicos individualizados aos estudantes que recebem materiais impressos.

“Os números são realmente altos, mas acesso não é garantia de aprendizagem. As aulas são as mesmas para toda a rede, não respeitam as particularidades e o ritmo próprio de cada turma, que só o professor consegue diagnosticar e determinar. O planejamento saiu das mãos da escola, a secretaria impôs uma agenda. Querem fechar nota, fechar trimestre, cobram resultado. Há uma cobrança por uma normalidade, quando estamos bem longe do normal”, reclama a professora. “Íamos deixar os alunos sem fazer nada? Não, poderíamos ter varias atividades. Mas não com o cunho pedagógico de cobrança”, comenta.

Apesar das cinco plataformas de estudo disponíveis, alunos ouvidos pela reportagem na condição de não terem seus nomes revelados contam que a agenda escolar durante a pandemia está concentrada no Google Clasroom. Neste canal, cada estudante tem seu login e senha próprios, acessam apenas o conteúdo para seu respectivo ano letivo e suas atividades diárias. É pelo login na sala de aula virtual e pela realização das atividades nela proposta que o aluno registra presença na aula do dia. “Na minha turma, ninguém assiste mais às aulas na TV. Entra no Classrom vê qual é a atividade do dia, vai no youtube e vê só os trechos que importam da videoaula, ou pesquisa na internet mesmo, conteúdos bem mais completos sobre o tema”, comentou um aluno do 8º ano do ensino fundamental.

Os estudantes relataram que as atividades do Aula Paraná estão “valendo pontos” e contando como avaliação. “E a gente já descobriu um site em que encontramos todas as respostas. Basta copiar e colar a pergunta da atividade, que o site nos dá a resposta.  Toda a turma está tirando 10, assistindo ou não às aulas”, revela uma estudante do 9º ano.

Roni Miranda explica que as questões do calendário e das avaliações são necessárias para a manutenção do fluxo de aprendizagem. “A gente tem um parâmetro, olha datas, mas não está trabalhando a aprendizagem assim. Se deixar de qualquer jeito, ninguém vai estudar. Por que vou assistir aula se não tem avaliação depois? Mas, no retorno, está garantida a retomada de conteúdo e também da avaliação, com flexibilidade e a critério do professor”, diz. “No final do ano, em novembro, se tudo correr bem, teremos o programa ‘Se Liga’, que mapeia os estudantes em dificuldade e trabalha os conteúdos essenciais. Realmente estamos atentos a isso, temos preocupação e estamos desenvolvendo esse trabalho”, conclui.

Contratação da RIC

A contratação de emissora foi fundamentada nas legislações federal e estadual que tratam do estado de emergência decorrente do coronavírus. A SEED elaborou o Termo de Especificações Técnicas e requisitos de abrangência e posteriormente realizou pesquisa de preços. A TV Educativa não possui sinal digital em todo o Paraná. RPC e Rede Massa declinaram. A TV Bandeirantes não respondeu no prazo. Rede CNT, Grupo RIC TV e Rede Mercosul apresentaram propostas e a empresa RIC TV foi contratada em razão de ter apresentado o menor valor de mercado com atendimento de todos os requisitos do Termo de Especificação Técnica: R$ 900 mil por mês.

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