Com mais de 1300 casos de dengue confirmados no município que possui 39.400 habitantes, Jacarezinho é uma das cidades com maior índice da doença no Paraná. Em estado de epidemia, desde o começo de março a prefeitura tem utilizado a pulverização de inseticidas pela cidade para tentar conter a proliferação dos mosquitos Aedes aegypti.
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A utilização do fumacê, no entanto, colocou em xeque outra iniciativa de contenção do mosquito que já está em prática desde janeiro: o controle natural de vetores. A técnica consiste em espalhar mosquitos machos estéreis pela cidade, o que contribui para a redução no número de novos insetos. As fêmeas do aedes, que são as transmissoras da dengue, copulam uma única vez durante a vida. Se a cópula for com o macho estéril, não haverá novos mosquitos.
Mas os inseticidas matam também os mosquitos estéreis, impedindo que a técnica natural continue. De acordo com o secretário de Saúde de Jacarezinho, Marcelo Nascimento, não havia outra alternativa a não ser adotar o fumacê. “O projeto natural é muito bom, mas a situação epidemiológica era muito grande, não tinha outro meio mais eficaz de conter o mosquito e tivemos que optar pelo inseticida”, afirma.
Apesar disso, os cientistas que desenvolvem a iniciativa afirmam que a prefeitura demorou para autorizar a liberação dos mosquitos em toda a cidade e, por isso, viu o número de casos da doença subir.
Até a metade de 2019, o projeto era uma experiência, realizada em apenas um bairro da cidade, por uma empresa de biotecnologia incubada no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). Em outubro, com resultados comprovados, a empresa, que até então desenvolvia a soltura dos insetos de forma gratuita, fez uma proposta comercial à Prefeitura para expandir a iniciativa pela cidade. Alegando falta de orçamento, ainda assim a prefeitura licitou a contratação da empresa para continuar o trabalho apenas em um bairro.
“Mesmo recebendo para trabalhar somente na Vila São Pedro, no início de novembro fizemos uma proposta para expandir o projeto, sem custos adicionais, para todo o município. No entanto, pegamos períodos de férias na prefeitura, recessos e muita burocracia até conseguirmos as assinaturas que precisávamos para começar a soltura dos mosquitos”, afirma a coordenadora do projeto, Lisiane Poncio.
Ainda segundo a especialista, somente em 22 de janeiro foi autorizada e iniciada a expansão da técnica para toda a cidade, época em que o município já vivia uma epidemia. “Na Vila São Pedro, diminuímos em quase 90% a população de mosquitos e, atrelado a isso, reduzimos os casos da doença. Mas isso foi feito antes da epidemia, é assim que funciona”, relata Poncio.
Suspensão do controle natural
Por conta do uso de inseticida, a soltura dos mosquitos de laboratório foi suspensa. “Continuaremos produzindo o mosquito e estamos tentando agora um contrato com a Secretaria Estadual de Saúde, para levar a técnica a outros municípios. É uma pena termos que suspender, por conta da burocracia, algo que estava funcionando”, afirma a coordenadora do projeto.
Segundo a secretaria municipal da saúde, os novos casos de dengue já começaram a cair na cidade, que, apesar da alta incidência da doença, não registrou nenhuma morte.
“Além do inseticida, estamos trabalhando em mutirões para eliminar os focos do mosquito e na conscientização da população. Já conseguimos fechar um dos dois centros de atendimento exclusivos para casos de dengue e a expectativa é de que os casos continuem baixando”, afirma o secretário.
Dengue no Paraná
O estado enfrenta a maior epidemia de dengue já registrada, com 49 mortes registradas desde agosto de 2019 e mais de 65 mil casos confirmados da doença, quase todos autóctones, ou seja, contraídos dentro do estado.
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