A rede do Colégio Sesi no Paraná consagrou-se ao longo dos últimos anos como modelo por sua metodologia diferenciada de educação de nível médio. De uma unidade com 105 alunos, em 2005, a rede chega hoje a 48 em todas as regiões do estado, incluindo seis internacionais e atendendo cerca de 10,7 mil alunos. Agora, por decisão da atual gestão do Sistema Fiep, o modelo será reformulado e diversas unidades da rede podem ser fechadas, provocando a extinção de mais de 2 mil vagas em todo o Paraná.
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Desde sua criação, o Colégio Sesi adota uma metodologia que dispensa apostilas e incentiva os estudantes a trabalharem como pesquisadores a partir de desafios propostos, nas chamadas oficinas de aprendizagem. Alunos dos 1º, 2º e 3º anos estudam juntos e as atividades são realizadas em equipe. Como a própria instituição já divulgou anteriormente, o modelo é voltado ao desenvolvimento de habilidades “cada vez mais importantes para o sucesso profissional”.
O método é considerado inovador. Em 2017, o colégio foi convidado a contar a experiência de seu modelo em um livro idealizado pela Fundação Lemann e pela Universidade de Stanford, dos Estados Unidos, intitulado “Inovações Radicais na Educação Brasileira”. O capítulo recebeu o título “Inovação radical no ensino médio: o Colégio Sesi no Paraná e a metodologia das oficinas de aprendizagem”.
Desde 2014, o Sesi passou a utilizar a mesma metodologia, porém com matriz curricular bilíngue ou trilíngue, nas seis unidades do Colégio Sesi Internacional, com o objetivo de “incorporar aos jovens, desde cedo, as competências fundamentais para que, mais adiante, possam exercer papéis de liderança”. O modelo recebeu o selo Showcase School, concedido pela Microsoft a escolas de todo o mundo que, com o uso da tecnologia, lideram a transformação no processo de ensino e aprendizagem.
Para 2021, a atual gestão da Fiep pretende implantar mudanças, passando a oferecer um ensino “mais próximo da indústria” – o nome da rede passará a ser Colégio Sesi da Indústria. Uma fonte próxima ao assunto afirma que a reformulação, que abrangeria até 70% da metodologia atual, teria o objetivo de direcionar a formação para um ensino mais tecnicista, voltado à geração de mão-de-obra “chão de fábrica”, afastando-se da proposta original, que formava os alunos para o empreendedorismo e cargos de gestão.
“Priorizava-se o desenvolvimento de competências como liderança, resiliência, cooperação e responsabilidade. A atual gestão da Fiep traz uma visão de que tudo tem de ser voltado a gerar ativos para a indústria”, diz a fonte, que prefere não ser identificada.
Recentemente, Carlos Valter Martins Pedro, que assumiu a presidência da entidade em outubro de 2019, deu declaração que corrobora o entendimento. “Como a razão da existência do Sistema Fiep é prestar serviços que agreguem valor à indústria, foi formulada uma nova proposta de ação para o Colégio Sesi no Paraná, que trará um currículo muito mais direcionado para a formação dos alunos de acordo com as reais necessidades do setor industrial”, declarou em uma nota divulgada em agosto.
No texto, a entidade explica que o “amplo processo de reformulação da instituição de ensino” atende à Lei 13.415/2017, “que introduz o novo ensino médio no país, amplia a carga horária dessa etapa educacional e potencializa a integração do ensino regular com a formação técnica”.
À reportagem, a Fiep afirmou que o ensino continuará a ser feito pelas oficinas de aprendizagem e argumenta que “a autonomia será trabalhada de forma ainda mais ampla, já que agora o Colégio Sesi possibilitará que os estudantes façam cursos do Senai para complementar sua formação”. O Senai tem como principal objetivo apoiar indústrias por meio da formação de recursos humanos.
“O estudante aprenderá os conteúdos do Ensino Médio a partir de um ensino que sustentará sua capacitação profissional, de acordo com as reais necessidades do setor industrial, desenvolvendo habilidades relacionadas à transformação digital e as inovações tecnológicas do mundo do trabalho”, informa a Fiep.
Fiep estuda fechar unidades do Colégio Sesi
A reforma metodológica vem acompanhada da decisão de fechar unidades, reduzir vagas ou descontinuar o ensino médio em até 30 unidades do Colégio Sesi em cidades de todo o Paraná, como Londrina, Maringá, Campo Mourão, Cianorte, Irati, Cambé, Arapongas, Bandeirantes, Umuarama, Jaguariaíva e Santo Antônio da Platina, entre outras. O corte incluiria o encerramento das atividades do Colégio Sesi Internacional de Ponta Grossa.
As medidas, que visam reduzir custos ao sistema, geraram insatisfação por parte de pais, alunos e prefeitos de municípios que contam com unidades da rede. O presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, deputado Luiz Claudio Romanelli (PSB) disse que procuraria o presidente da Fiep para pedir que a federação mudasse de ideia. Uma série de abaixo-assinados foi promovida em várias cidades com o objetivo de fazer a entidade rever a decisão.
Em resposta, a Fiep explicou que, com a reformulação curricular, unidades de menor porte, com altos custos operacionais, não teriam a sustentabilidade necessária para seguir as atividades em 2021. A entidade destacou ainda que os colégios que serão descontinuados “respondem por apenas 19,4% do total de alunos do Colégio Sesi em todo o Paraná.”
Diante da repercussão negativa que a medida gerou, no entanto, a federação informou que está buscando, “caso a caso, junto com as comunidades que estão nos procurando, soluções para a continuidade dessas unidades”.
O problema de caixa, no entanto, é mais complexo do que pode parecer à primeira vista. Com a crise econômica decorrente da pandemia do coronavírus, as indústrias do estado reduziram a produção, demitiram funcionários e acabaram gerando menos receita para o Sistema S, que recebe uma contribuição compulsória sobre as folhas de pagamento do setor. Além disso, a própria alíquota do imposto, que era de 1,5%, foi reduzida pela metade em abril deste ano, por meio de medida provisória do governo federal, caindo para 0,75%.
Parte dos recursos obtidos com a contribuição compulsória serve para subsidiar a rede de ensino. Famílias de industriais têm metade das mensalidades custeadas pela entidade e em 10 unidades da rede, chamadas de escolas sociais, o ensino é gratuito, totalmente subsidiado. A descontinuidade de parte das escolas ajudaria a Fiep a reduzir o impacto dessa crise.
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