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Situação da represa Passaúna, na região metropolitana de Curitiba.
Situação da represa Passaúna, na região metropolitana de Curitiba.| Foto: Gilson Abreu/AEN

Muitos especialistas estão com dificuldades para explicar o que está acontecendo com o regime de chuvas no Paraná, que está abaixo da média histórica há vários meses, provocando uma das estiagens mais prolongados do estado. Mas há indícios de que a seca seja reflexo de um El Niño. Para muitas pessoas, isso pode não fazer sentido, já que na escola é ensinado que o fenômeno da elevação na temperatura da superfície do oceano Pacífico, na região equatorial, causa mais chuvas e que o La Niña é que provoca estiagem.

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Mas o clima é um pouco mais complexo do que isso e não fica restrito a essas definições herméticas. Quem entende do assunto é a pesquisadora Alice Marlene Grimm, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutora em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (USP). Como uma das principais especialistas em clima, ela recentemente publicou artigos em revistas internacionais, como a Nature, mostrando, entre outros aspectos, como o El Niño afeta o ciclo de chuvas na região Sul do Brasil.

Alice explica que há, predominantemente, dois tipos de El Niño, um chamado de Central, quando o aquecimento da água do oceano é mais localizado no “meio” do Pacífico, e outro Leste, quando a elevação das temperaturas está mais concentrada na região próxima à costa das Américas. O Leste provoca mais chuvas no Brasil, particularmente no Sul. Já o Central leva mais precipitações para a região Nordeste e menos para o Sul. De acordo os dados monitorados nos últimos meses, Alice Grimm defende que estamos num período de El Niño Central.

A combinação de outros fenômenos climáticos também deve estar interferindo, na avaliação de Alice Grimm, causando alterações na circulação atmosférica. A oscilação multidecadal do Atlântico Norte, nas duas últimas décadas, colaborou para a tendência de menos chuvas na região Sul do Brasil. Já a oscilação interdecadal do Pacífico está negativa, também contribuindo para secas. Em menor proporção, o desmatamento da Amazônia também pode ter contribuído, estima a pesquisadora, diminuindo a umidade e reduzindo a quantidade de chuvas no Sul do país.

O volume precipitado está em tendência de baixa desde 2018, conforme os institutos meteorológicos consultados pela Gazeta do Povo. Mas nos últimos sete meses a situação se acentuou. Alice Grimm destaca que, de modo geral, setembro e outubro de 2019 já registraram índices pluviométricos abaixo da média histórica. Novembro e dezembro foram menos anormais. Mas a partir de janeiro e fevereiro é que a estiagem se instalou de vez, estabelecendo uma sequência de meses de seca.

A pesquisadora destaca que os sinais vinham aparecendo – embora o fenômeno costume começar com baixa intensidade – e mesmo assim, na visão dela, muitos gestores públicos não perceberam a perigo que se avizinhava. “Fiquei pasma com a demora para perceber a gravidade”, comenta. Ela também enfatiza que se tratam de processos naturais que poderiam ser estimados, e para os quais era possível estar preparado. O resultado tem sido falta de abastecimento de água em vários pontos do Paraná e prejuízos na agricultura e na pecuária.

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