“Quanto mais competente o serviço de água, mais imperceptível ela se torna para as pessoas”. Para enfrentar esta contradição, apontada por uma das idealizadoras do Museu Planeta Água, novidade cultural em Curitiba, a iniciativa quer tornar a água “visível” a todos. Para o público geral, o museu será aberto no segundo semestre.
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Instalado na primeira estação de tratamento da Sanepar, no Tarumã, que funcionou por quase seis décadas (de 1945 a 2004), o museu tem como ferramentas uma criatividade ímpar que “materializa” a água em diversas dimensões: sua limitação, fragilidade e a importância de vê-la no centro da discussão.
A exposição interativa traz esquemas que ampliam o entendimento sobre a água, cuja falta recente levou curitibanos à maior estiagem em 90 anos, com quase dois anos de rodízio no abastecimento, suspenso no começo do ano. “Fugimos do conteúdo pasteurizado e tratamos assuntos normalmente negligenciados”, diz a jornalista Maria Celeste Corrêa, que concebeu o museu conjuntamente com Wilgor Caravanti, Ericson Straub e Aurélio Sant’Anna, a partir de uma ideia da Associação Brasileira do Conhecimento (EGEO) e que teve o desenvolvimento realizado pela Straub Design.
Conectado com a realidade da água
O museu traz o que de mais recente há nas descobertas científicas sobre o assunto, como o conceito de rios voadores que se formam sobre a Amazônia e que são fundamentais na formação de chuvas em boa parte do território nacional, sem se furtar de apresentar, em uma sala reservada, algumas tragédias recentes envolvendo desmoronamentos, rompimentos de barreiras e derramamentos de óleo, amplificados justamente pelas águas. O museu trouxe de Brumadinho (MG) uma quantidade de terra retirada após a tragédia e o uniforme de um dos profissionais que esteve envolvido na busca das vítimas do desastre.
Os prejuízos provocados pela redução extrema de água também podem ser vistos, e sentidos na pele, em outra das salas imersivas, que leva o visitante a um cenário de seca extrema. Os termômetros vão da temperatura ambiente a mais de 50 graus Celsius e o visitante percorre esse caminho de vegetação seca que leva até uma escultura realista de uma sertaneja com o filho desfalecido no colo.
Além de um esqueleto de baleia azul de 23 metros de comprimento, construída com 40 mil itens de embalagens plásticas, que propõe refletir sobre a urgência da preservação dos oceanos, destacam-se os corpos redondos que representam a quantidade de água potável e acessível em relação ao tamanho do planeta, colocados em proporções equivalentes. “Além de ter muita gente que não tem ideia da quantidade de água disponível, há quem ainda não se preocupe com o tema por dizer que ‘a água não acaba’. Porém, ela muda de lugar quando há alguma ação ou manejo errado, e isso causa problemas agora e irá causar no futuro”, diz ela.
Outro destaque fica para um mapa-múndi com mais de 90 camadas de relevo que, a partir de projeções de vídeo mapeadas, mostra a história dos deslocamentos humanos pelos mares, o lixo nos oceanos e a formação dos Rios Voadores sobre a Amazônia.
Tornar humano e mostrar o Paraná
A dimensão humana está presente em toda a exposição e acompanha trechos da história geológica, aproximando os visitantes ao tema de um modo diferente. O objetivo de aproximar o conteúdo às referências paranaenses se destaca: as Cataratas do Iguaçu e Vila Velha estão ao fundo, além de seres pré-históricos, como o mesossauro, encontrado no estado e que remete à deriva continental, visto que fósseis desses animais também foram encontrados na África.
Em outra experiência, produtos em um carrinho de supermercado terão expostos nas etiquetas não os preços, mas o quanto de água foi utilizado na produção, com a intenção de estimular o consumo consciente.
Linhas do tempo resgatam a história conectam com o presente
Em outro andar do museu, linhas do tempo mostram, com muitas ilustrações e itens originais tecnologias para captar, purificar e distribuir a água que mudaram a vida de diferentes povos, assim como o surgimento de doenças, como a peste bubônica. A história do saneamento no Paraná também é retratada em detalhes, desde a primeira estação de tratamento de água, onde se localiza o Museu Planeta Água, até os dias atuais.
O Museu Planeta Água é patrocinado pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), CTG Brasil e Compagás, além de contar com o apoio do Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE) e da Unesco. Recentemente, o Planeta Água conquistou o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Instituto Fashion Revolution e The Nature Conservancy (TNC). O projeto foi realizado com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).
Com inauguração no dia 29 de junho para imprensa, patrocinadores e parceiros, em julho o museu será aberto a grupos especiais (imprensa, escolas parceiras e idealizadores). A previsão é que em 1° de setembro seja aberto para visitação de escolas e que, em novembro, esteja aberto para o público em geral. O museu fica na Rua Engenheiro Antônio Batista Ribas, 151, Tarumã, Curitiba.
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