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Concentração de lixo em terrenos e residências é um dos principais focos de dengue.
Concentração de lixo em terrenos e residências é um dos principais focos de dengue.| Foto: Felipe Rosa/Arquivo/Tribuna do Paraná

A relação entre o meio ambiente e a incidência de alguns tipos de doença é fato notório entre pesquisadores da saúde, mas no caso da dengue - que vive momento de explosão de casos no Paraná - essa situação é quantificável e visível: pelo levantamento do índice de infestação predial (IIP), é possível saber que o lixo é o principal criadouro do Aedes aegypti no estado.

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Pelo mais recente Boletim de Infestação Predial divulgado pela Secretaria da Saúde do Paraná, divulgado em 11 de fevereiro, apenas 68 municípios não estavam infestados (isto é, há pelo menos 12 meses sem a sua presença). Outras 103 cidades apresentavam risco de epidemia, e 160 estavam em situação de alerta.

O objetivo principal desse levantamento é verificar a quantidade de depósitos que estejam acessíveis à fêmea do Aedes aegypti, que faz a postura de ovos em locais com água limpa e parada, preferencialmente. O boletim de fevereiro, com dados de 379 municípios do Paraná, mostrou que a maior ocorrência de larvas do mosquito ocorreu no lixo: 44,5% dos criadouros eram recipientes plásticos, garrafas, latas ou, entulhos de construção sucatas em pátios e ferros-velhos. Esse índice é histórico: um levantamento de 2013 da Sesa mostrava o mesmo porcentual. Os depósitos móveis, como vasos, pingadeiras, pequenas fontes ornamentais e materiais estocados de construção respondem por 25,2% dos criadouros localizados recentemente.

“Há várias situações em que o mosquito pode estar se reproduzindo dentro da nossa própria residência. E é a gente que tem que tomar cuidado com a nossa casa e entorno. Um ralo aberto, caixa d’água da geladeira. Tem pessoas que acumulam água da chuva em balde, e é perigoso, assim como calhas entupidas, tudo vira criadouro. Isso sem falar em garrafas, vasos de plantas, potinhos de cachorro, os mais comuns. Se as pessoas não fizerem o trabalho de limpeza semanalmente, não haverá forma efetiva para nenhum governo municipal nem estadual realizar a redução da infestação”, diz a coordenadora da Vigilância Sanitária da Sesa, Ivana Belmonte.

Os dados de IIP são usados pelos municípios para definir as localidades que precisam de mais esforços para reduzir a presença do mosquito e suas larvas. “No boletim temos a média observada pelo município, mas cada um vai trabalhar seu território com o levantamento por estrato. A divisão não é por bairro, mas por estrato, que considera limites estabelecidos com barreiras para o mosquito. Normalmente há regiões mais críticas e lá que terá que se investir mais esforços para redução vetorial”, explica Ivana.

Algumas cidades ficaram de fora do levantamento mais recente do IIP por causa da ocorrência de chuvas, explica Ivana. “O ministério deu um prazo curto no início do ano, mas tivemos muitas chuvas, e o levantamento precisa ser feito no município durante cinco dias sem interrupção. Se chove, é preciso recomeçar. Então há cidades que não conseguiram remeter os dados no prazo, mas fizeram posteriormente”, diz.

Desmonte

Para o geógrafo Fernando Mendonça, pesquisador e pró-reitor da UFPR, o momento é de inflexão. “As instituições públicas tanto do estado como do país estão passando por momentos de questionamento, e a pobreza tem aumentado o descarte indevido de lixo. Nossas instituições que deveriam cuidar de todo saneamento ambiental estão carentes de funcionários, tanto que até estão previstos concursos para o IAP [Instituto Ambiental do Paraná] e para a Sema [Secretaria do Meio Ambiente]. São instituições importantes para o ambiente. Não só para diminuir a incidência da dengue, mas também as doenças correlatas que dependem do clima”, argumenta.

Para Mendonça, a restrição de recursos financeiros em algumas áreas prejudica as políticas públicas, que se não funcionarem de forma coerente e permanente vão deixar lacunas que favorecem a formação de epidemias. “Como pesquisador e cidadão estou convicto de que o poder público deveria agir de maneira muito mais forte e segura e aprofundada no controle desse tipo de doença, da qual já temos a informação necessária para conhecer a dinâmica e saber de que formas atuar. O Estado deve investir em campanha de conscientização e sensibilização estimulando pessoas para cuidar de seus ambientes”, completa.

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