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Sócios-diretores da Hi Technologies, Sérgio Rogal Jr. e Marcus Figueredo
Sócios-diretores da Hi Technologies, Sérgio Rogal Jr. e Marcus Figueredo: empresa vem sustentando crescimento de 30% a 40% ano após ano.| Foto: Antônio More/Arquivo/Gazeta do Povo

É de um escritório-fábrica não tão grande na Cidade Industrial de Curitiba que saem algumas das ideias geniais que tem feito a curitibana Hi Technologies ser uma empresa habitué das listas de empresas mais promissoras do país. A criação mais recente é um dispositivo para realizar exames de forma prática e remota, o HiLab. O interessado coloca sua amostra de sangue no aparelho e os dados são enviados a um laboratório central, onde especialistas analisam o material e emitem um laudo assinado.

Com o produto, aponta o CEO Marcus Figueredo, a empresa deve manter um patamar que no imaginário do empresariado brasileiro nestes anos de crise é um sonho: um crescimento na casa dos 30%, 40%. “A gente vem firmando parcerias com grandes redes de farmácias do Brasil todo. Tem hoje cinco das maiores redes de farmácias do Brasil como parceiras nossas (Nissei, Panvel, Pague Menos, Araújo e São Bento) e estamos em vias agora de anunciar mais duas grandes redes no próximo mês”, comemora o empresário.

Enquanto o mercado fecha vagas, a Hi cria 100 empregos diretos e perto de mil indiretos (pessoas que estão envolvidas na realização dos exames). Não há “PIBinho” que desanime. “Eu gosto de pensar que toda situação adversa, na verdade, sempre representa uma oportunidade. O Brasil está vivendo esses grandes desafios, como passar por reformas importantes, como é o caso da Reforma da Previdência; tem toda a questão de a gente ter a retomada da economia, controlar o dólar; sem contar toda essa guerra política que estamos vivendo. Ao mesmo tempo em que tudo isso assusta, e de certa forma é natural assustar, eu acho que é uma grande oportunidade para as empresas inovadoras, para as empresas que tentam buscar e criar o novo, criar disrupção, para crescerem”, define Figueredo.

Os números da empresa de tecnologia, evidentemente, contrastam com um certo ar de desconfiança do empresariado com a lentidão das medidas macroeconômicas brasileiras. A tão esperada reforma previdenciária se arrasta nas comissões da Câmara. A reforma tributária vem avançando de forma mais rápida, mas não garante por si só o ajuste de contas necessário para o crescimento. Resultado: o PIB do primeiro trimestre retraiu 0,1% no cálculo da Fundação Getúlio Vargas, algo bem diferente do que os brasileiros esperavam. Com o resultado frustrante, o Banco Central revisou novamente sua expectativa do PIB de 2019, de 1,45% para 1,24% – foi a 12ª semana seguida de estagnação ou queda.

Contrainformação e desconfiança

O setor industrial resume bem o banho de água fria: o Índice de Confiança do Empresário Industrial, que calcula a febre de otimismo com a economia, registrou queda de 1,9 ponto de abril para maio – está em 56,5 pontos em uma escala de 0 a 100. Ainda está acima da média histórica dos últimos seis anos, porém, que é de 54,5 pontos. Os dados são da Confederação Nacional da Indústria. “Havia um otimismo no fim do ano por conta de novos governos federal e estadual, promessas de reformas em tempo reduzido, sensibilidade por parte do Congresso. Era natural essa esperança. Os investimentos melhoraram na virada do ano”, pondera Edson Campagnolo, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).

“Mas na vida real tem o noticiário dizendo que [a reforma] não vai; aí uma briga aqui; aí os filhos do presidente fazendo certas coisas; críticas a vice-presidentes. Todas essas informações circulando nas redes sociais viram manchete. Mas, conversando com os nossos deputados, se vê que nem sempre é bem assim. Todas estas contrainformações chegam ao empresário de forma muito pessimista. Isso deixa o empreendedor, e isso vale para todos os setores (industrial, de comércio e serviços), com muita desconfiança”, justifica Campagnolo.

Mas por que então a Hi Technologies e outras empresas insistem em jogar suas expectativas para o alto, ainda que em meio a tanta desconfiança? A reposta mistura dois fatores importantes em um cenário de incerteza: coragem de arriscar e uso inteligente de tecnologias para suplantar os investimentos escassos. “Vemos se destacar as pessoas que estão trazendo soluções diferentes independentemente do cenário em que estamos. Tem muita solução sendo desenvolvida, tanto com essas jovens empresas quanto algumas que estão estabelecidas”, diz Cesar Rissete, gerente da Unidade de Atendimento e Negócios Empresariais do Sebrae-PR.

“Vou exemplificar: conheci uma empresa que desenvolveu um sistema de atendimento em restaurantes do tipo self-service no qual o atendimento é feito por uma máquina. Isso diminui o tempo de atendimento do cliente. Tem vendido bastante. Tudo que vai otimizar, reduzir custo, está em um mercado muito positivo, mesmo na crise”, aponta Rissete.

Mas, se para os novos jogadores a partida parece mais fácil, para os antigos, há que se suar mais a camisa. Em ramos mais tradicionais, sobretudo da indústria, a saída é caprichar em networking para melhorar o ambiente de negócios. É a aposta de iniciativas como a da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná), que realizou na quinta-feira a 2ª edição do AHK Business Night, um evento de negócios e networking com 17 estandes em exposição. Neste ano, a organização colocou produtores em contato direto com o setor de compras da Bosch, o que abre oportunidade para novos fornecedores e parceiros durante o evento.

Medidas desburocratizantes servem de estímulo

O governo federal sabe a importância desse movimento. Tanto é que emitiu uma medida provisória que, sobretudo, facilita justamente a formação de empresas mais dinâmicas e com potencial de gerar muitos negócios. A “MP da Liberdade Econômica”, como ficou conhecida, desburocratiza negócios conhecidos como de baixo risco, o que inclui uma vasta quantidade de serviços presentes em nosso dia a dia, como papelaria, floricultura, etc, mas especialmente as startups. Dessa forma, abrir um negócio não exigirá um alvará de funcionamento quando não for essencial ter este documento.

Também está em fase final de elaboração um pacote de estímulo à produtividade, desenhado pela Secretaria de Produtividade e Competitividade (Sepec) do Ministério da Economia. A ideia é englobar medidas para desburocratizar regras obrigatórias do setor produtivo, reformulação do eSocial e vouchers para qualificação profissional. “Isso ajuda bastante. Essa questão de reduzir custos de abertura da empresa pode se somar a ter políticas afirmativas de crédito e formas de trazer renda para o bolso do consumidor. Por exemplo, colocar em movimento o dinheiro do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). São formas que se tem para melhorar a vida do empreendedor”, defende Rissete.

A mesma União que tem tido dificuldade para avançar medidas macroeconômicas tenta encontrar soluções microeconômicas para fazer a roda não travar de vez. “O mais interessante seria um projeto consistente, que englobe as reformas e ações que aumentem o poder de consumo das famílias”, avalia o economista Orlando Tomazzi. “O que temos até aqui é um conjunto de remendos. E isso é um sinal que o investidor e que o empreendedor enxerga de uma maneira péssima, ainda que sejam medidas positivas no curto prazo. Precisamos implementá-las, mas não esquecer as apostas longas”, destaca.

Há no plano governamental até mesmo medidas que já foram adotadas em outros episódios da história brasileira – como no governo Michel Temer (MDB).  É o caso da autorização para saque das contas do FGTS e para resgate dos recursos do fundo do Pis/Pasep. Ambas as medidas estão em estudo e o objetivo é injetar bilhões de reais na economia. Porém, em retrospectiva, essas medidas têm efeito limitado na atividade econômica. No governo Temer foram liberados R$ 83,5 bilhões para saque entre 2017 e 2018. O crescimento econômico não foi o esperado: o PIB avançou apenas 1,1% tanto em 2017 quanto em 2018. A taxa de desemprego se manteve na casa dos dois dígitos.

São saídas que remediam, mas ainda não curam a doença. Tudo dependerá da Previdência, aposta o presidente da Fiep. “Nem baixa da Selic, nem taxa de queda de juros. Nada vai ter impacto maior do que o Congresso sinalizar que a Reforma da Previdência está caminhando”, sentencia o representante de setor.

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