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Rafael Greca, prefeito de Curitiba e pré-candidato à reeleição pelo DEM.
Rafael Greca, prefeito de Curitiba e pré-candidato à reeleição pelo DEM.| Foto: Pedro Ribas/SMCS

Pré-candidato à reeleição, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), admite que prefere a aliança com o PSD do governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior, para a disputa nas urnas de novembro. “Seria confortável nós mantermos a harmonia política”, indica ele, em referência ao seu atual vice, Eduardo Pimentel, que recentemente trocou o PSDB pelo PSD. As alianças eleitorais foram um dos temas da entrevista que ele concedeu à Gazeta do Povo no último dia 14. Nela, Greca também falou sobre medidas que adotou no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus - “adoraria ter podido apitar o jogo de futebol pelo videoteipe” – e compara com a vivência da gripe H1N1, quase dez anos atrás – “não teve naquela época o partido político da cloroquina, o partido político da ivermectina, o partido político do ozônio por via retal”. Leia os principais trechos da entrevista logo abaixo:

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Parte das críticas que o senhor recebe hoje de pré-candidatos à prefeitura de Curitiba ainda tem ligação com a campanha eleitoral anterior, de 2016. O Ney Leprevost (PSD), por exemplo, que foi ao segundo turno, reclama que o senhor nunca o chamou para conversar sobre a cidade ao longo destes quase 4 anos. Isso é um erro? Como o senhor acha que vai ser o tom desta campanha eleitoral de 2020?

Eu sempre busquei harmonia política, mas quem foi eleito fui eu. E eu tive uma tarefa muito árdua, que foi recuperar Curitiba. Nós conseguimos transformar uma prefeitura que tinha um déficit orçamentário de R$ 2,1 bilhões, que devia R$ 1,6 bilhão, em uma prefeitura que hoje tem R$ 500 milhões disponíveis. Ontem [13 de agosto] eu sancionei a lei que cria o fundo de estabilização econômica da cidade. Esta lei extraordinária é única no Brasil e eu acho que poucas cidades do mundo possuem recursos para serem utilizados pelo Poder Executivo, ouvindo a Câmara Municipal, exclusivamente para situações de atendimento de calamidade pública e para recomposição de dotações orçamentárias. Isso é uma coisa única. Nós temos uma economia de R$ 500 milhões depois de um programa de obras robusto que envolve R$ 50 milhões de investimentos em macrodrenagem, no Ribeirão dos Padilhas, na bacia do Rio Belém, nos seis rios dos bairros do Parolin, do Novo Mundo e do Portão, que é o Córrego Henry Ford, Córrego Santa Bernadete, o Rio Pinheirinho e o próprio Rio Belém, e mais investimento no Ribeirão dos Muller, na Cidade Industrial, e na bacia do rio Barigui. Nós começamos um resgate do bairro da Caximba, que era uma vergonhosa favela sobre palafitas, que nos foi legada pelo nosso antecessor. Uma coisa de um absurdo abandono, uma favela implantada em cima de um aterro sanitário, com lixo de construção civil. Nós temos uma carteira de obras de R$ 1 bilhão para o ano que vem, o BRT com canaleta exclusiva no Interbairros 2, que é o anel de maior movimento do transporte. Nós temos a conclusão da Linha Verde, as trincheiras da Linha Verde. Temos ainda um grande investimento com o banco dos Brics, para o Ligeirão Leste-Oeste, que liga o Capão da Imbuia à Cidade Industrial, ou que liga Pinhais com Araucária. Tudo isso eu consegui fazer e eu consegui fazer com a minha equipe conversando com a população. Se os meus opositores políticos tivessem vindo à prefeitura ou tivessem acenado que queriam conversar, todo mundo sabe que eu sou uma criatura cordial, que não iria recusar o diálogo, nem harmonia.

Folha de S. Paulo reproduziu recentemente uma fala do senhor sobre a possível neutralidade do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), na campanha eleitoral deste ano - “se ele [Ratinho] for neutro, eu serei na próxima eleição [de 2022] neutro, amor com amor se paga”. Gostaria de saber como o senhor enxerga o peso do Ratinho Junior na campanha deste ano e queria saber se a filiação do atual vice do senhor [Eduardo Pimentel] ao PSD, ao partido do governador, é uma tentativa de aliança para 2020.

Não está em causa a fulanização deste debate. Está em causa a harmonia política que hoje existe na Praça Nossa Senhora da Salete, no Centro Cívico de Curitiba. Está em causa a necessidade da reconstrução de Curitiba, do Paraná e do Brasil, num momento pós-pandemia. Esta é uma conversa entre políticos. Eu sou pouco político, tanto que eu delego isso. Eu sou um engenheiro urbanista, entusiasmado com a ideia de continuar a servir Curitiba. E vou estimar sempre, tratar bem, o governador do Paraná; o presidente do Brasil; o Santo Padre, o Papa; o secretário-geral da ONU; o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento; o presidente da Agência Francesa de Desenvolvimento; o presidente do banco dos Brics; todo mundo que possa contribuir para o bem de Curitiba.

Mas que peso o senhor acha que o nome do Ratinho Junior terá na campanha deste ano?

Veja, o que é, é. Ele tem o peso que ele tem e eu estimo que ele venha comigo.

Ney Leprevost (PSD) se coloca como pré-candidato e não parece disposto a desistir. Neste caso, o PSD não poderia ficar na chapa do senhor. Quem será seu vice? Já houve uma negociação com o PP de Cida Borguetti e Ricardo Barros?

O homem na política, diz Ortega Y. Gasset, é o homem e suas circunstâncias. Quando as circunstâncias acontecerem, o meu partido, inclusive nacionalmente, com a contribuição dos nossos deputados federais, dos nossos senadores, entre eles o senador David Alcolumbre, do presidente Antonio Carlos Magalhães Neto, vai ver o que é mais eficiente para um bom resultado eleitoral. Eu não vou antecipar a faixa na cabeça antes de me machucar. Eu gosto muito do governador e gosto muito do meu vice-prefeito. E seria confortável nós mantermos a harmonia política e avançarmos neste processo, além da ambição pessoal de fulano ou de cicrano.

Como prefeito, teria feito algo diferente no enfrentamento à Covid-19? Alguma medida que o senhor adotou e não teria adotado? Como avalia agora?

Eu adoraria nesta questão ter podido apitar o jogo de futebol pelo videoteipe, mas não havia videoteipe, não havia manual, não havia nem protocolos de saúde nacionais, quanto menos protocolos de saúde internacionais. Eu me lembro muito de um verso, de uma poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner, que, falando de Pedro Álvares Cabral na caravela, de Vasco da Gama na caravela, disse “navegavam sem o mapa que faziam”. Quando a caravela saiu de Lisboa em direção ao desconhecido, ela foi muito semelhante a nós entrarmos na pandemia. Desde janeiro, nós estávamos nos preparando, tínhamos um plano de contingência, sabíamos o que foi feito na gripe do H1N1. E a minha secretária da Saúde [Marcia Huçulak] tinha vivência deste momento, que foi severo, muito perverso também. Mas se sabia o que fazer, até aparecer o Tamiflu como remédio. Não teve naquela época o partido político da cloroquina, o partido político da ivermectina, o partido político do ozônio por via retal. Não teve a incitação do WhatsApp, do Facebook, da internet. Mas nós adotamos uma política de serenidade. Criamos um chat para a informação do povo, usando o robô Laura, que é uma startup curitibana, através do WhatsApp 9876-2903. Uma central de teleconsulta – 3350-9000 – com a triagem dos doentes, sem presença física, por telefone, por computador, com 50 médicos. Até que nós decidimos não fazer hospital de campanha, fazer hospital de verdade. Eu fiz três hospitais. O Instituto de Medicina do Paraná, no alto da Rua XV, que retomou a sua trajetória de excelência médica, entregue à Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. O hospital Vitória, na Cidade Industrial de Curitiba, doação preciosa da empresa Amil, que não nos custou nada, e que é um prédio esplêndido, do grande arquiteto curitibano Rodolfo Doubek. A UTI tem jardim interno, para permitir aos doentes tomarem sol. E depois fizemos também a Casa de Saúde, que eu confiei à memória da Santa Dulce dos Pobres, da Nossa Irmã Dulce, a quem eu estou fazendo uma promessa, e à Nossa Senhora também, para esta coisa acabar até o Dia de Nossa Senhora da Luz, 8 de setembro.

Eu não deixaria de fazer nada do que fiz porque, tudo que foi feito, foi feito com tanta delicadeza, com tanta vontade, com tanta determinação, que as famílias dos mortos vêm nos visitar para agradecer, e as famílias dos sobreviventes amontoam a minha mesa de cartas amorosas, de bombons de chocolates, de presentes, como se me agradecessem um dom que Deus lhes concedeu e que o nosso exemplar sistema de saúde, com seu exército e solícitas enfermeiras, intensivistas, especialistas, infectologistas, executou com perfeição. A minha secretária de saúde [Marcia Huçulak] é um exemplo. Três ministros de Saúde teve o Brasil nos últimos tempos, o Mandetta, o Teich e o general Pazuello. Dois elogiaram a Márcia. O Mandetta e o general Pazuello são pessoas muito diversas. O doutor Teich não nos visitou porque foi muito breve. Mas se tivesse vindo também nos teria elogiado. Porque Curitiba é uma referência no sistema de saúde. Quem fala mal é abutre de pandemia, é coisa ruim, é entidade maligna que cavalga com os cavaleiros do apocalipse.

No pós-pandemia, sobrando ainda alguma capacidade de investimento, onde o senhor concentrará os recursos da cidade nos próximos anos e por quê? O que seria prioridade no pós-pandemia?

O orçamento da cidade não está esgotado. Nós temos ainda os R$ 500 milhões intactos do fundo de recuperação de Curitiba. Nós estamos votando uma série de medidas de fomento econômico, e de novo normal. Nós estamos esperando que a cidade volte a ter uma vida melhor. Estou pensando em um Natal drive-in, para que os curitibinhas não sejam privados das delícias espirituais do Natal, que possam através de um sistema de rádio percorrer os parques. Eu vou fazer o Caminho dos Anjos no parque Tingui, o Caminho do Presépio no parque Barigui. Eu quero agendar visitas ao Passeio Público, ao parque Tanguá, ao Jardim Botânico, ao Jardim Zoológico. Nós estamos estudando o que vamos fazer. A cidade tem que se recompor, tem que retomar a economia. Eu adoraria poder abrir tudo. Nós teremos investimentos na cidade. Nós temos um programa de obras imenso, nós temos 15 mil empregos em obras públicas que nunca foram fechados. E nós faremos investimentos também no fomento econômico da cidade. Há inclusive um edital que vai ser lançado – além do edital da Lei Aldir Blanc, quando o dinheiro do governo federal vier, também vamos fazê-lo - para artistas, esportistas, para tentar fomentar quem sofreu com a pandemia. Eu tenho muita vontade de abrir tudo, quero dar uma festa do abraço, ao som dos sinos da Catedral. Todo mundo se abraçando.

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