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Maurício Rivabem (PSL), à direita, abraça Marcelo Puppi (DEM), que morreu de Covid-19 no último dia 7
Maurício Rivabem (PSL), à direita, abraça Marcelo Puppi (DEM), que morreu de Covid-19 no último dia 7| Foto: Bruno Zotto/Divulgação

Reeleito vice-prefeito de Campo Largo nas eleições de 2020, Maurício Rivabem (PSL) não podia imaginar que assumiria o posto de chefe do Executivo municipal logo nos primeiros dias de 2021. Apenas nove dias depois de ter sido reeleito prefeito da cidade, Marcelo Puppi (DEM) recebeu o diagnóstico de Covid-19. No dia 28 de novembro foi encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde faleceu no dia 7 de janeiro.

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“Confesso que eu tinha um sonho de ser prefeito, não nego, mas eu gostaria do Marcelo do meu lado”, conta Rivabem. Ele se diz preparado para o mandato como prefeito, mas lamenta não poder contar com o parceiro com quem dividiu a gestão nos últimos quatro anos. “Sou empresário há 30 e poucos anos, então a questão de comando não me dificulta em nada. Me sinto triste, e muito, porque eu queria que o Marcelo estivesse aqui.”

À frente da administração municipal, pretende dar continuidade ao programa de obras iniciado na gestão anterior, e quer dar atenção ao potencial turístico da cidade, que acredita ter condições de reaquecer a economia.

Na entrevista a seguir, ele fala sobre a relação com Puppi, o que foi feito na gestão passada e os planos para o município nos próximos quatro anos:

Como era sua relação com o prefeito Marcelo Puppi?

Como campo-larguense, eu conhecia o Marcelo, mas não tinha uma proximidade. A gente fazia parte do mesmo grupo político e, em meados de 2016, tivemos a oportunidade de conversar. Dialogando, tivemos o entendimento de que a cidade precisaria da nossa união para podermos auxiliar e dar condições de um futuro melhor. Aos pouquinhos fomos conversando e houve um entendimento dos nossos partidos de que nós poderíamos caminhar juntos. Na época, eu estava no MDB, ele no Democratas. Houve a composição, mas ainda não tínhamos um contato muito direto. Eu, como católico, acredito que Deus faz as coisas da forma que acha correto. Dessa forma, fomos nos entrosando e, por mais que tivéssemos trajetórias diferentes, fomos nos alinhando e conseguimos nos eleger. Iniciando a administração em 2017, fomos trabalhando – o Marcelo, com um coração enorme, que eu não conhecia. Ele me surpreendeu muito, mesmo. Primeiro, sempre me dando oportunidade de estar ao lado dele, compartilhando a administração. Posso dizer para você que tudo o que ele me falou que faria, ele cumpriu de forma exemplar. Isso me deixa muito emocionado e feliz. Porque o que se fala em política, sempre, é que um trai o outro, que a política é suja, é podre. Mas o Marcelo foi uma pessoa correta, que cumpriu tudo o que falou. Nos quatro anos, tudo o que nos propusemos fazer e era possível, foi feito. Nosso plano de governo cumprimos quase 100%.

No último ano, que para o mundo todo foi difícil, um ano de pandemia, de mortes, em que a economia teve um abalo muito grande, conseguimos partir para uma reeleição. Mesmo sem nenhuma reunião presencial, só online, partimos para uma reeleição com uma diferença bem grande sobre nossos opositores. Infelizmente, por desígnios de Deus – Deus não quer o mal de ninguém, eu tenho certeza disso –, o Marcelo encerrou sua trajetória. Ele fez a sua parte, levou o nome de Campo Largo por onde foi, e deixou a cidade como está hoje, no caminho certo. E eu estou aqui hoje como prefeito, seguindo os caminhos do Marcelo. Tenho certeza absoluta de que ele está aqui ao meu lado, me observando nessa cadeira, que é dele. Não é a minha cadeira. Eu sou vice-prefeito, por mais que o título seja de prefeito. Mas eu vou honrar, da melhor forma possível, o que ele me ensinou e o que a cidade merece, sendo um excelente prefeito.

Tudo o que ele [Marcelo Puppi, prefeito eleito que morreu de Covid no início do ano] me falou que faria, ele cumpriu de forma exemplar. Isso me deixa muito emocionado e feliz. Porque o que se fala em política, sempre, é que um trai o outro, que a política é suja, é podre. Mas o Marcelo foi uma pessoa correta, que cumpriu tudo o que falou

Maurício Rivabem, vice-prefeito que assume a gestão de Campo Largo

E como é assumir a cadeira de prefeito com um mandato inteiro pela frente, repentinamente?

O Marcelo me oportunizou desde 1º de janeiro de 2017 estar ao lado dele. Eu só troquei de cadeira. Estou na cadeira do prefeito. Mas praticamente em todas as decisões, todas as reuniões, eu estava próximo a ele. Eu agradeço muito a ele por ter me oportunizado isso. Estou como prefeito interino desde o dia 10 de dezembro do ano passado. Hoje faz 32 dias. Confesso que não me assusta nem um pouco essa cadeira, porque sou empresário há 30 e poucos anos, então a questão de comando não me dificulta em nada. Me sinto triste, e muito, porque eu queria que o Marcelo estivesse aqui e seria uma honra estar ao lado dele por mais quatro anos. Deus quis, e eu tenho que saber que é desígnio de Deus, e vou lutar com todas as minhas forças para poder fazer uma grande gestão, honrando a chapa que fizemos, para fazer uma gestão digna, limpa, honrando o povo de Campo Largo.

Confesso que eu tinha um sonho de ser prefeito, não nego, mas eu gostaria do Marcelo do meu lado. Que ele estivesse me incentivando, estivesse aqui como um conselheiro, como uma pessoa que pudesse falar o sim e o não. Bom, ele está, ao lado de Deus, me conduzindo nos meus sonhos, nas minhas decisões. A gente põe nossos planos na mão de Deus sempre, e às vezes Deus escreve de outras formas. É evidente que tudo isso demanda de nós podermos cumprir aquilo que a gente se propõe. Isso era um sonho. Eu poderia, como qualquer outro, ser candidato a prefeito nessa última eleição. Mas eu acreditei muito no Marcelo e os últimos quatro anos mostraram que ele foi um excelente administrador. Por isso me propus a ser novamente vice dele. Os projetos que ele me mostrou, eu analisei que ele faria muito bem para a cidade. Hoje meu dever, como vice que fui, e agora assumindo como prefeito, é dar sequência nesses projetos, que a cidade de Campo Largo merece. Não tenha dúvidas de que minha projeção é essa: fazer com que a cidade siga nos trilhos, se desenvolva, buscando mais empresas e protegendo aqueles que mais precisam, as regiões que têm mais dificuldades.

Maurício Rivabem (PSL), prefeito de Campo Largo
Maurício Rivabem (PSL), prefeito de Campo Largo| Divulgação/Prefeitura de Campo Largo

O que foi possível fazer na gestão passada, e que desafios ficaram para este mandato?

Uma das maiores dificuldades de uma cidade como Campo Largo geralmente é você conseguir buscar verbas na esfera federal e estadual. Campo Largo tinha uma posição que era muito dificultosa, nós não tínhamos certidões. O rating nacional que tínhamos era letra C, então se precisasse de uma verba federal, nós não conseguíamos. O Marcelo conseguiu, além acertar todas as questões de certidões, elevar a cidade a triplo A. Então com isso podemos buscar dinheiro com a Caixa Econômica, com o Banco Mundial, com o Banco do Brasil, e isso facilita muito para o administrador. Então, com financiamentos com taxas de juros muito baixas, hoje temos várias obras, entre as quais posso citar algumas. Na região da Ferraria, que tem cerca de 30 mil pessoas, temos uma obra na [Rua] Mato Grosso que era um sonho de mais 30 anos. Não é um recape qualquer. É uma obra muito grande. Nós fizemos a UPA [unidade de pronto-atendimento], que era sonho do campo-larguense. Estamos fazendo a Avenida Campo Largo, reformas em oito postos de saúde, na nossa rodoviária. Isso faz com que o campo-larguense verifique o que está sendo feito.

Essas obras devem continuar na atual gestão?

Campo Largo sempre teve uma usina de asfalto a frio, que já é ultrapassada. Temos que buscar uma tecnologia diferenciada. O sonho é adquirir uma usina de asfalto a quente, o famoso CBUQ. Esse é um dos grandes projetos que já tínhamos com o Marcelo e que vamos buscar levar adiante. Dá uma qualidade e uma durabilidade muito maior para o asfalto. Eu já estou buscando junto com nossos deputados federais, como o Felipe Francischini [PSL], o Sergio Souza [MDB], alguns deputados estaduais, como o Fernando Francischini [PSL], o Luiz Carlos Martins [PP], o Plauto Miró [DEM]. Porque nós precisamos buscar, nas esferas estadual e federal, parcerias.

E nas demais áreas?

Eu sou filho de professora e acredito que precisamos incentivar muito a questão da educação. O Marcelo fez muito nessa área, principalmente com o uniforme escolar. Campo Largo é uma cidade três vezes maior do que Curitiba em extensão. Fazemos divisa com Castro, nos Campos Gerais. Então, lá no São Pedro temos crianças que precisam de um atendimento melhor. Nós conseguimos fornecer uniforme escolar para eles, inclusive o que chamamos de japona. Como as crianças, no inverno, iam para a sala de aula, se não tinha nem uma vestimenta adequada? Hoje temos isso. É qualidade de vida. O Marcelo fez isso com a maior qualidade, desde o primeiro ano. Todos os prefeitos sonhavam com isso, e nós realmente conseguimos dar isso a esses alunos. Hoje quase 14 mil alunos recebem anualmente o uniforme escolar, desde a meia, uma jaqueta, camisas de qualidade. Nós conseguimos melhorar muito.

Nós conseguimos fazer outros projetos maravilhosos, como o Ciosp – Centro Integrado de Operações de Segurança Pública –, que melhorou condições para as pessoas, com redução de roubos de carros, ajudando a guarda municipal de Campo Largo, que hoje é exemplo para a região metropolitana de Curitiba.

Com a morte do prefeito por Covid-19, o senhor acredita que a consciência da população com a doença passa a ser maior?

A comoção é muito grande. No começo do ano passado, você via essa doença pela TV. Aí começou a se aproximar, até de repente vermos 43 dias de sofrimento do nosso prefeito e perdermos o Marcelo. Isso se tornou uma comoção popular muito grande. Nós vemos as pessoas muito sentimentais. Confesso que o medo hoje é muito grande e temos tomado um cuidado muito maior. Temos um dos maiores hospitais da região [Nossa Senhora do Rocio], onde falecem muitas pessoas, mas que também salva muita gente. Eu tenho muito orgulho de dizer que temos um hospital que salva muitas vidas aqui em Campo Largo. E não é só o Rocio, temos outros hospitais também. Campo Largo não é só capital da louça, mas é a capital da vida também. A hora que aplicar a primeira injeção as lágrimas vão ser muitas, mas muitas mesmo, de emoção, de felicidade. Eu tenho um medo danado de injeção, mas na hora que chegar, pode aplicar à vontade. E acho que todo campo-larguense pensa igual.

Como a cidade está se preparando para a vacinação?

Hoje estamos com um sonho. Ontem tivemos uma reunião, preparando nossos profissionais, nossa secretária de saúde, nosso secretário de governo, para, se Deus quiser, para os próximos dias, vir a vacina. Um alento para que essa porcaria, me perdoe a palavra, dessa doença, que vitimou muitos no mundo, inclusive alguns campo-larguenses, entre eles nosso prefeito Marcelo Puppi. Toda vez que morre uma pessoa, perde-se alguém em uma família. Isso é insubstituível. Temos que estar preparados para quando vier, que seja feita essa vacinação. E toda a cidade poder voltar ao normal, a ter todo aquele movimento para a cidade poder evoluir.

Agora no final do ano não tivemos nem recesso. Quero agradecer, inclusive, aos funcionários públicos, que entenderam e abdicaram de seu descanso em prol do campo-larguense, para nos ajudar a trabalhar, a lutar por esses dias, porque tínhamos uma pandemia. Tínhamos que lutar pela saúde pública. Agora, nos próximos dias, vindo essa vacina, vamos salvar vidas e sair da doença e trilhar para dias melhores.

O município deve adquirir doses por conta própria ou vai entrar no plano de imunização do governo federal?

Nós seguimos os planos do governo do estado, que segue o planejamento do governo federal. Se acaso precisar, o Marcelo destinou recursos no nosso orçamento, mas acredito que não vai ter problemas. Acredito eu que a vacina vem a partir do dia 20, temos muita confiança nessa data. Deus queira que dê tudo certo. Não vai demorar mais do que isso. Espero que venha o mais rápido possível. A expectativa é muito grande. Nossos profissionais estão ansiosos para aplicar essa injeção em quem precisar, isso com certeza.

Com o início da vacinação, já existe uma previsão de retomada de aulas presenciais em Campo Largo?

Estamos com essa expectativa. A priori, não temos a garantia do calendário. Estamos preparados para a questão da vacinação na primeira fase, que, pelo que nos foi passado, seria para idosos acima de 75 anos, profissionais de saúde e os asilares. A segunda fase, ainda não temos projeção. Mas é evidente que a partir do momento em que todos forem vacinados, professores, funcionários, seria o normal. Enquanto não tiver isso, nós vamos manter os alunos da forma como foi no ano passado, que seria com as aulas remotas. Pela proteção, porque não temos a segurança ainda. Isso pode mudar amanhã. Estamos hoje no dia 12 de janeiro, e hoje o posicionamento é, sem a posição sobre a vacinação, que teremos as aulas ainda pela internet, não tendo a presencial. A hora que tivermos a definição correta da aprovação das vacinas e já um calendário definitivo de vacinação, acredito eu que poderemos nos posicionar com data de retorno às aulas presenciais.

Outro efeito da pandemia foi uma queda de arrecadação por parte dos municípios. Como estão as contas da prefeitura para esta gestão?

Infelizmente todos os municípios têm essa dificuldade em início de gestão. Até deixando de lado a pandemia, em início de gestão naturalmente surge essa questão. O município de Campo Largo tem arrecadação média em torno de R$ 330 milhões a R$ 350 milhões, com uma população entre 135 mil e 140 mil habitantes. Não é uma arrecadação tão grande, então temos que fazer contenções e saber investir bem esse dinheiro. E isso, nos últimos anos, o Marcelo soube fazer bem, tanto é que conseguimos fazer ações prioritárias, como o uniforme escolar e muitas obras. Sabendo aplicar bem o dinheiro. Nesse último ano, claro, infelizmente baixou bastante. Nós dependemos muito de verbas que vem do FPM [Fundo de Participação dos Municípios] e também do IPTU, que não é muito grande. Campo Largo ainda detém um dos menores IPTUs da região metropolitana, muito abaixo da média do Paraná. Nosso IPTU é quase 40% abaixo dos demais municípios da Grande Curitiba. Isso, para nós, vem com certa dificuldade, porque ainda dependemos muito do estado e do governo federal. Mas, como fizemos nosso dever de casa, fazendo com que o município saísse da letra C para o triplo A, ou seja, nota 10 no Capag [Capacidade de Pagamento], do Tesouro Nacional, isso faz com que possamos buscar recursos para financiamentos com juros baixos.

Vamos trabalhar massivamente com o turismo. Temos perto de 3 milhões de pessoas próximas a nós. Vamos mostrar que Campo Largo também tem lugares lindos para as pessoas virem para cá

E como Campo Largo deve retomar a atividade econômica?

Uma dificuldade que temos é que Campo Largo é cercada de muitas APAs [áreas de proteção ambiental] e temos também, depois de Bateias, muitos aquíferos, como o Guarani, que é muito extenso, o que faz com que não possamos trazer muitas indústrias. Nós temos que buscar outros meios de arrecadação. Uma das formas que encontramos é o turismo. A cidade de Campo Largo tem Bateias, Três Córregos, temos as águas de Ouro Fino. Vamos investir muito nisso. Trazer as pessoas para cá, para conhecer nosso interior. Nós temos a Colônia Dom Pedro, locais maravilhosos para gastronomia. Aqui na região próxima a Campo Largo, nós temos mais de 3 milhões de pessoas. Então vamos trabalhar muito em cima do turismo para atrair as pessoas. Campo Largo é conhecida como capital da louça. Temos grandes empresas de louça, que são exportadas para o mundo inteiro. Mas temos também a prestação do serviço na saúde, como eu falei, e agora vamos investir muito no turismo também.

A pandemia com certeza superou os 20% a baixa na arrecadação do município, principalmente no comércio. Alguns procedimentos tiveram de ser tomados no ano passado, em alguns setores, para segurança da saúde da população. Tivemos de tomar, em consonância com o estado do Paraná, e com outras prefeituras. Mesmo assim, os números cresceram. Nos últimos dias, tivemos um número elevado de mortes, principalmente para o final do ano, por causa de aglomerações. Agora temos que pensar que com a vacinação precisamos reativar algumas coisas. E buscar alternativas.

Dá para dizer então que o turismo vai ser a aposta para a retomada econômica do município?

Acredito que sim. Já estávamos investindo com o Marcelo. Campo Largo é muito grande, fazemos divisa com Castro, com Ponta Grossa, com várias regiões. Vamos trabalhar massivamente com o turismo. Como eu falei, temos perto de 3 milhões de pessoas próximas a nós. Vamos mostrar que Campo Largo também tem lugares lindos para as pessoas virem para cá.

Somos seres humanos, a gente pode falhar. Aos campo-larguenses, peço que tenham fé e esperança, porque às vezes as lombadas vêm para reduzir a velocidade, mas vamos retomando sempre.

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