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Metade da próxima safra de grãos do Brasil, que ainda nem foi plantada, já está vendida: e como fica o boicote?
| Foto: Michel Willian/Arquivo Gazeta do Povo

Enquanto o Brasil estima novo recorde para a safra de grãos 2020/2021 – que está começando a ser semeada –, a estiagem coloca o Paraná em estado de alerta. Isso porque, com o solo muito seco, o estado conseguiu plantar até esta terça-feira (13) apenas 16% da área esperada para a soja, principal commodity no segmento. Além de colocar em risco a produtividade da oleaginosa, o atraso pode afetar também a produção de milho no estado.

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Segundo números divulgados na semana passada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país irá colher 268,7 milhões de toneladas de grãos nesta nova safra. Um número que supera em 4,2% a excelente safra 2019/2020, quando foram produzidas 257,7 milhões de toneladas. E, para os produtores, o cenário não poderia ser melhor. “Essa nova safra começa num cenário de preços muito altos, os produtores de uma maneira geral estão muito motivados a investir”, disse Guilherme Bastos, presidente da Conab.

No Paraná, no entanto, os números podem ser afetados pela falta de chuvas. De acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão da Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab), até esta terça-feira, o plantio de soja atingiu 16% da área esperada. Na última semana, o índice estava em apenas 8%. No ano passado, a área plantada já chegava a 22% neste mesmo período. É um atraso que está entre os piores dos últimos anos.

De acordo com o boletim mais recente do Deral, o estado deveria bater os 20,4 milhões de toneladas de soja, um número alto, embora levemente inferior à safra anterior, quando o Paraná produziu 20,6 milhões de toneladas.

A seca, explica o engenheiro agrônomo e produtor rural Hélcio Dalcir, além de comprometer o bom desenvolvimento da soja causa risco de incêndios. “O fogo pode destruir parte da palha que cobre o terreno de plantio. Ele é importante para manter a umidade do solo e, caso queime, a produção vai cair em quantidade e qualidade”, aponta. Ele atua na região Oeste do estado, onde há registros pontuais de queimadas.

Se o atraso na produção persistir, pode afetar ainda o cultivo de outro grão fundamental para a economia do estado: o milho. É que a dinâmica das culturas é interdependente. O milho pode ser plantado na mesma época da soja – quando é chamado de milho de primeira safra – ou logo após a colheita da soja – chamado de milho de segunda safra (ou safrinha). Pela maior rentabilidade da soja, os produtores do Paraná passaram a investir prioritariamente nesta segunda modalidade. Com isso, a cultura fica dependente do calendário da oleaginosa.

“O milho começa a ser plantado em março. Se atrasar a soja, o plantio poderá adentrar abril. Só que aí fica mais exposto a geadas ou novas secas, porque está muito perto do inverno”, destaca Dalcir.

Preços altos para soja e milho

De acordo com a Conab, o milho registra preços entre 50% a 100% maiores do que no ano passado. A soja, por sua vez, atingiu a cotação de R$ 123 por saca. Esse é o maior valor nominal registrado. O órgão federal estima que a produção de soja responda por 133,7 milhões de toneladas da produção de grão, enquanto o milho bata as 105,2 milhões de toneladas.

Na avaliação da Conab, as exportações devem se manter em alta por conta do dólar caro. Também é a aposta de muitas consultorias, que veem aumento no consumo interno, sobretudo de produtores de proteína animal – milho e soja são usados na alimentação de aves e suínos.

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