O clima de tensão entre Estados Unidos e Irã desde a morte do general Quassem Soleimani, na semana passada, pode impactar a economia paranaense no ano de 2020, particularmente no agronegócio. Somente a exportação de milho paranaense para os persas alcançou, no ano passado, o valor de US$ 395,9 milhões. Por causa das sanções americanas, não entra dinheiro no negócio: o Paraná envia milho e recebe, em troca, como pagamento, cargas expressivas de fertilizantes à base de ureia, essenciais para a produção agrícola estadual.
Uma redução no comércio com o país do Oriente Médio poderia elevar os preços de fertilizantes e reduzir as exportações de milho produzido no estado. Apesar disso, as consequências não devem ser significativamente relevantes, segundo analistas do setor.
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Na quarta-feira (8), o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou que imporá severas e imediatas sanções econômicas ao Irã, que já vinha sofrendo restrições comerciais. Como já segue as políticas de embargo dos Estados Unidos, é provável que o Brasil se alinhe às medidas, ainda não detalhadas por Trump.
No ano passado, o alinhamento do Brasil à política de embargo norte-americana ao Irã já gerou consequência ao estado, quando a Petrobras se recusou a abastecer dois navios iranianos que estavam ancorados no Porto de Paranaguá. A estatal temia que, ao fornecer combustível às embarcações, poderia sofrer punições dos Estados Unidos, que se recusavam a negociar com parceiros comerciais do Irã. Mas, com o impasse, o país do Oriente Médio também ameaçava suspender importações do Brasil.
O imbróglio foi resolvido depois de 49 dias, após o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, determinar que a Petrobras abastecesse os navios.
Embora o Irã tenha sido apenas o 24º mercado consumidor de produtos brasileiros no ano passado, a relação entre os dois países ajuda a salvaguardar a balança comercial. Enquanto o Brasil exportou US$ 2,2 bilhões para lá em 2019, a importação foi de apenas US$ 116 milhões.
Para a produção paranaense, o Irã é ainda mais relevante, ocupando a sétima posição entre os principais destinos internacionais e o primeiro entre os países do Oriente Médio.
Irã é o principal importador de milho paranaense
Em 2019, o país foi o principal destino do milho produzido no Paraná. Foram 2,3 milhões de toneladas do grão que saíram do estado rumo ao mercado iraniano, o que representa 35,6% do total de 6,3 milhões de toneladas que os produtores paranaenses exportaram. Em termos de valores, os negócios com o país do Golfo Pérsico geraram US$ 395,9 milhões ao setor no Paraná. Uma redução ou até eventual interrupção nesse comércio aumentaria a oferta do produto e poderia implicar na redução do preço da commodity.
Apesar disso, o impacto não seria significativo, avalia o economista Edmar Wardensk Gervásio, do Departamento de Economia Rural da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento (Seab). “Aproximadamente 51% do que é produzido no Paraná é destinado ao consumo animal e outros 14% vão para a indústria”, estima. Segundo ele, outros estados compram cerca 20% do milho paranaense, e de 8% a 10% são estocados para o ano seguinte. “O volume exportado é em torno de 5% da produção.”
“É um volume significativo, mas em termos relativos não acho que vá gerar um grande impacto ou um enorme estoque excedente”, diz o economista. “Caso de fato haja uma suspensão, é possível direcionar o produto para outras finalidades, incluindo a produção de etanol de milho, algo que está em crescimento no país”.
País é um dos principais fornecedores de ureia
Já no sentido inverso, o Irã tornou-se em 2019 um dos principais fornecedores de ureia para o Brasil. O composto nitrogenado, derivado do petróleo e utilizado principalmente como fertilizante, é quase totalmente importado no país. De janeiro a junho do ano passado, 94,1% da ureia utilizada no Brasil veio de fora, segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Das cerca de 4 milhões de toneladas importadas do produto, 600 mil, ou 15%, vieram do Irã. Outros grandes fornecedores do produto são a Rússia, a Argélia e o Catar.
“Historicamente o Irã não era um grande exportador de ureia para o Brasil, mas com o embargo comercial levantado pelos Estados Unidos no fim de 2018, o país adotou uma estratégia comercial bastante agressiva em 2019” explica Carlos Eduardo Florence, diretor executivo da Associação dos Misturadores de Adubo (AMA).
A política de embargo norte-americano prevê sanções a empresas que negociem com o Irã – foi essa a razão por que a Petrobras se negava a fornecer combustível a navios iranianos ancorados no Porto de Paranaguá no ano passado. “Mas como o bloqueio é sobre o pagamento, eles adotaram a troca de mercadorias como forma de negociação”, diz Florence. Com as operações sem intermediação monetária, conhecidas como barter, o Irã trazia ureia para o Brasil e voltava com carregamentos de milho.
Os países conseguiram estabelecer a operação em condições vantajosas para ambos, elevando drasticamente a participação do Irã no mercado brasileiro de fertilizantes. “Como eles vendiam a ureia a um valor muito mais baixo que a média, obrigaram outros países a reduzirem o preço também”, afirma o diretor da AMA. “Eventualmente se o Irã sair desse mercado, não faltará ureia, mas o preço deve subir.”
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