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José Eugênio Gizzi, candidato à presidência da Fiep.
José Eugênio Gizzi, candidato à presidência da Fiep.| Foto: Divulgação

O setor industrial, que reúne 50 mil empresas e 765 mil empregos diretos, está em meio a um processo eleitoral. A escolha do comando da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) para os próximos quatro anos acontece das 12 às 18 horas do dia 14 de agosto. Ao menos 96 sindicatos estão habilitados para a eleição. Um representante de cada tem direito a voto. Duas chapas estão concorrendo.

Em disputa estão os rumos do setor, assim como um orçamento anual na casa de R$ 826 milhões (sendo R$ 438 milhões do Sesi e R$ 339 milhões do Senai). A Gazeta do Povo entrevistou os candidatos a presidente.

Confira aqui a conversa com Eugênio Souza de Bueno Gizzi, que está à frente da chapa Sindicato Forte, Fiep Maior. Ele é dono da Itaúba, empresa especialista em obras como pontes e viadutos. Foi presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon-PR). Veja aqui trechos da entrevista.

Leia também a entrevista com Carlos Walter Martins Pedro, outro candidato à presidência da Fiep

Gazeta do Povo – A recente assinatura do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia representa aumento nas potencialidades, mas também nos perigos para a indústria paranaense. Como a Fiep pode atuar para um cenário mais positivo?
José Eugênio Gizzi – O acordo vai abrir um mercado imenso, tanto em termos de população quanto de capacidade de compras. Também é importante ter acesso a novas tecnologias da indústria europeia de precisão, equipamentos que melhorem a nossa produtividade. Porém, como todo acordo, tem duas partes. Também o nosso mercado vai estar aberto para a indústria europeia e, se isso acontecer hoje, de uma forma abrupta, será um problema. Acho que muitas não teriam condições de competir, porque, por exemplo, tem a questão de acesso ao crédito para as indústrias europeias, com custo muito menor. Há ainda a carga tributária. No Brasil, tem que ser muito persistente para fazer rodar sua empresa, com toda essa questão de uma legislação bastante restritiva e burocracia muito alta. Ou seja, antes de o acordo começar a vigorar, temos de lutar para ter condições de competir de forma isonômica.

De que forma uma entidade como a Fiep pode atuar para garantir a competitividade da indústria, tendo em vista que alguns fatores, como a questão tributária, podem até ser influenciados, mas dependem exclusivamente de decisões de governo?
A primeira coisa é resgatar um protagonismo que a Fiep tem que ter. Nós não podemos ficar simplesmente limitados aqui no nosso estado, em ações muitas vezes diversionistas. Nós temos que ir aonde for necessário para brigar para conseguir essa condição. Uma das nossas propostas é ter um escritório em Brasília.

Atualmente o senhor é vice-presidente na Fiep, mas é candidato na chapa de oposição. O que aconteceu para assumir uma posição mais crítica à atual direção?
Na medida em que eu fui conhecendo como as coisas aconteciam dentro da Fiep, eu fui me posicionando naquilo que eu achava que era bom e no que eu não concordava, como, por exemplo, ser uma diretoria de presidencialismo absoluto. Fui sendo crítico e quando você começa a se posicionar já ganha um contorno de oposição. Nunca deixei de trabalhar firme no que me foi designado para fazer. Fui conselheiro de assuntos legislativos e, para isso, eu me doei ao máximo, tanto aqui no Paraná quando em Brasília, a ponto de ter esse trabalho reconhecido. Porém, eu nunca deixei de ser crítico, de uma maneira bastante civilizada.

O senhor acredita que o setor industrial, em função da importância, recebe a atenção devida do governo do Paraná?
Temos que voltar a ter uma boa interlocução com o governo e voltar a falar dos planos da indústria. Nós agregamos valor. Temos que conversar com o governo e entrar na agenda deles. Vai ser meu primeiro compromisso, caso sejamos eleitos. Pretendo ter um bom relacionamento, mas também levar nossa pauta de reivindicações. E a primeira delas é colocar a indústria na agenda.

A cobrança de investimentos em infraestrutura sempre foi uma das pautas dentro da Fiep. Como pretende encaminhar essa questão e qual seria o investimento governamental mais urgente?
Essa cobrança sempre houve, mas com resultados pouco efetivos. Sabemos que vivemos um momento muito difícil, com baixa capacidade de investimento. À medida que a economia melhorar, nós teremos várias reivindicações. Uma delas é ter uma nova descida ferroviária para Paranaguá. Sabemos que o transporte ferroviário é muito melhor, tanto na redução de acidentes como no preço para os nossos produtos. Também teremos, daqui a dois anos, novos contratos do pedágio no Paraná e temos que estar nessa mesa, discutindo isso. Infelizmente isso foi levado para nível federal e perdemos um pouco do controle. Mas vamos levar as nossas proposições. Os custos de transporte e logística interferem muito no nosso setor.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, pretende ficar com recursos do Sistema S [Sesi e Senai]. Caso a proposta se concretize, como pretende lidar com a redução orçamentária?
Antes disso temos que fazer o nosso dever de casa e temos que ser rápidos. Comparativamente com outros estados, estamos numa situação muito melhor, mas tem muita coisa a ser feita, como mais transparência e aplicação inteligente dos recursos. Também precisamos demonstrar para o ministro, para não colocar todo mundo numa mesma vala, quanto vai se perder com isso. Se um corte desses for feito, quem vai fazer esse trabalho? O governo? Além disso, nosso Sesi e o nosso Senai já têm uma receita própria considerável. Algo como um terço mais ou menos das nossas receitas são de serviços prestados, que não dependem do Sistema S.

A Fiep tem uma agenda legislativa e acompanha a questão de propositura de leis. Como o senhor imagina esse trabalho no seu mandato?
O monitoramento existe, já é feito, mas podemos ser mais proativos. Saímos de uma pauta reativa para uma pauta positiva. Nós temos um corpo técnico interessante para isso.

Uma das principais polêmicas envolvendo o setor industrial no estado é a falta de transparência do programa Paraná Competitivo. O que é possível fazer nessa área?
Nós temos que cobrar que seja o mais transparente possível, considerando alguns argumentos de questões estratégicas. Não sei se isso se justifica, mas vamos cobrando maior transparência.

Está em discussão a flexibilização de 11 normas regulamentadoras, conhecidas como NRs. Como impactaria a indústria do Paraná?
Nós somos totalmente contrários à redução da segurança do trabalhador. Acontece que tem um emaranhado de normas regulamentadoras que acabam sendo de difícil execução e compreensão. Muitas vezes, fica para o arbítrio do técnico que está fazendo aquela inspeção. Importamos muitos equipamentos com certificado e quando chega aqui não atende uma NR. Parece que peca pelo excesso. Então, sobre essas questões, nós queremos discutir, mas sem colocar em risco a segurança do nosso trabalhador.

Veja alguns trechos da entrevista:

Protagonismo e governança coletiva

Fiep menos reativa e mais propositiva

Sistema S

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