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Com lealdade canina ao presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Filipe Barros, eleito pelo PSL com 75 mil votos no Paraná, pretende seguir o "comandante", como chama, na diáspora da legenda e na composição de um novo partido, o Aliança pelo Brasil – que começa a reunir as 492 mil assinaturas para tentar se viabilizar.

Com as mudanças no tabuleiro político, principalmente com o afastamento de alguns aliados até então de primeira hora, como Felipe Francischini e Joice Hasselmann, Filipe Barros ganhou ainda mais destaque na articulação parlamentar e na defesa dos princípios bolsonaristas.

Tanto que deve comandar a formação do Aliança no Paraná e também sugerir o lançamento de candidaturas próprias na disputa municipal nas principais cidades do estado. No caso de Curitiba, que considera essencial para reforçar a presença do partido no Paraná e até vê viabilidade de vitória diante da força de Bolsonaro por aqui, ele não cogita a aproximação com o deputado estadual Fernando Francischini, que se apresenta como pré-candidato do PSL na capital.

Na segunda-feira (16), em visita à Gazeta do Povo, Filipe Barros concedeu uma entrevista que você pode conferir em vídeo e texto.

Qual foi a principal diferença que percebeu na transição entre ser vereador em Londrina e a forma de fazer política em Brasília?

É mais em relação aos temas abordados porque, pela nossa Constituição Federal, o vereador tem pouquíssimas prerrogativas legislativas. Então o pessoal até comentava na época que pela primeira vez Londrina tinha um vereador ideológico. Via de regra, os vereadores cuidam mais dos assuntos dos bairros. Esse tipo de situação é comum nas cidades. Eu abordava esses temas de maneira secundária. A minha pauta na Câmara de Vereadores era uma pauta completamente ideológica. Então essa é a principal diferença. A Câmara me deixava restrito em relação a alguns assuntos. Em Brasília é onde ocorrem os principais debates envolvendo os assuntos nacionais. Mas uma coisa eu não posso negar, que a Câmara de Vereadores de Londrina foi para mim uma escola.

Que destaque faria desse seu primeiro ano de mandato federal?

Uma das pautas que eu tenho me aprimorado muito é a questão da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa, em especial por conta da CPI que foi criada das Fake News. Eu fui contra, inclusive entrei com um mandado de segurança, mas o Ministro Lewandowski negou e a CPI ainda está em funcionamento. Então eu tenho estudado e me dedicando muito nessa questão da Lei de Proteção de Dados, na questão das mídias sociais como um todo, de que forma as mídias sociais interferem no processo político, na liberdade de expressão, na liberdade de imprensa, na questão que gera uma controvérsia enorme, do anonimato das redes.

Por que foi contra à CPI e como avalia o trabalho feito até agora?

A CPI de fato virou um circo. Ultimamente tem sido o local para que os integrantes do PSL lavem suas roupas sujas. Isso já era previsto, quando a CPI foi proposta, pelo deputado Alexandre Leite, do DEM. Ele veio até mim para pedir para que eu assinasse e eu, lendo o requerimento de criação que ele escreveu, percebi que a CPI não tinha foco determinado, ia de cyberbullying, passava por eleições do ano passado, falava sobre deepweb. Então era uma comissão que falava de tudo e quem fala de tudo não fala nada. Igual aqueles restaurantes em que a gente chega e tem desde comida japonesa até italiana. Nenhum prato vai ser bom.

A CPI expõe o racha dentro do próprio PSL. Como analisa essa divisão?

Esse racha dentro do PSL, que até o presente momento é o meu partido, já era, de certo modo, anunciado. Porque sempre existiram dois grupos dentro do PSL: um grupo mais ideológico, no qual me incluo; e uma outra ala mais fisiológica e mais ligada ao presidente da sigla, o deputado Luciano Bivar. Então, nas discussões internas do partido, sempre teve essa separação. Eu nunca me esqueço de uma das matérias que estavam sendo votadas na Câmara, a Medida Provisória 870, a famosa medida provisória 870, que reformulou os ministérios. O COAF vai para onde? A Funai vai para qual mistério? Ali houve um nítido racha entre esses dois grupos. Ou seja, eu quero dizer que esses dois grupos sempre existiram, mas que até determinado momento desse ano conviviam, apesar das divergências. Um tolerava o outro. Num determinado momento, houve um racha e o racha foi ocasionado justamente porque o presidente Bolsonaro fez alguns pedidos ao presidente Luciano Bivar, no começo do ano, e esses pedidos não foram atendidos. E quais eram esses pedidos: o compliance, ou seja, a auditoria, regras rígidas e claras de transparência na utilização de recursos públicos, e democracia nas decisões. Convém lembrar que o PSL, até o ano passado, era um partido nanico, com um ou dois deputados. Com a vinda do presidente Bolsonaro, o PSL se transformou no segundo maior partido da Câmara dos Deputados e no partido do presidente da República. Nós não podemos tratar um adolescente que está em crescimento como se fosse uma criança. Então eram necessárias essas mudanças que foram propostas pelo presidente Bolsonaro e, infelizmente, não foram atendidas. Então esse foi o racha definitivo desses dois grupos do partido.

Mas esse racha ficou mais exposto a partir da briga pela aplicação do Fundo Partidário e quem vai poder gastar o dinheiro...

O partido terá o seu fundo aumentado consideravelmente. A previsão é de que nesses quatro anos o PSL receba, entre o Fundo Partidário e o Fundo Eleitoral, meio bilhão de reais. É muito dinheiro. E reside aí a nossa preocupação e a preocupação do presidente Bolsonaro. Na utilização desse recurso. Eu particularmente sou contra a existência de fundo partidário e de fundo eleitoral. Em nenhuma campanha minha, de vereador e de deputado federal, utilizei esse recurso. Sou contra. Acho que o partido deve se manter através de doações dos próprios filiados e militantes. Então é lamentável ver que o PSL, que tinha a possibilidade, que tinha a capacidade de ser um partido que fizesse a diferença no contexto nacional, simplesmente entrou para a história como mais um partido fisiológico.

Os integrantes do PSL foram eleitos com base no discurso de combate à corrupção e, à medida que casos de suspeitas de irregularidades foram aparecendo, comprometeu o partido. Como vê a imagem de PSL?

Para mim, a imagem do PSL está desgastada. Assim como a imagem dos deputados que optaram por ficar no PSL e optaram por estar ao lado do presidente Luciano Bivar. Todos nós do PSL, cem por cento, fomos eleitos pela onda Bolsonaro. É claro que cada um de nós tinha a nossa trajetória, a nossa história, as nossas lutas, etc. Mas se não houvesse a onda conservadora que permeou o Brasil inteiro, certamente muitos não teriam sido eleitos ou então teriam suas votações reduzidas. E a população confiou no PSL, a população depositou a sua confiança como sendo um partido que de fato faria diferença. A partir do momento que a população, principalmente através das mídias sociais, começa a perceber que essa confiança que depositaram foi traída, aí a imagem do partido, bem como dos integrantes que permaneceram do lado do presidente Luciano Bivar, começa a ser desgastada. Justamente aí, por conta disso, que alguns integrantes, como por exemplo a deputada Joice Hasselman, agora querem censurar a população que se utiliza da internet. Mas as mídias sociais nos trazem uma responsabilidade que é a seguinte: o celular, as mídias sociais, colocam a população para dentro do Congresso Nacional todos os dias. A população, hoje, sabe aquilo que nós estamos fazendo, aquilo que nós não estamos fazendo, porque estamos fazendo. Então não adianta enganar o eleitor. O PSL foi votado e foi eleito como o segundo maior partido da República com uma proposta e a descumpriu no decorrer desse ano.

A situação levou à proposta de criação de um novo partido, o Aliança pelo Brasil. Como é que está esse processo de viabilização?

A nossa meta é criar um partido de modo que ele esteja apto a disputar as eleições municipais do ano que vem. Até março, o partido precisaria estar criado. Até lá nós temos uma longa jornada. Nós precisamos de 500 mil assinaturas, espalhadas em nove estados do Brasil. Depois dessas assinaturas serem coletadas, nós precisamos protocolar todo esse processo no TSE, para que [o órgão] paute e julgue a criação do Aliança pelo Brasil. Tudo isso precisa ser feito até o final de fevereiro. Então nós estamos numa verdadeira corrida contra o tempo. Provavelmente na semana que vem nós daremos início à coleta de assinaturas. Muitas pessoas têm nos procurado. Inclusive nos grupos de WhatsApp já começam a circular algumas fake news pedindo para a pessoa "assine aqui". Mandam uma ficha. Não tem nada disso. O próprio presidente Bolsonaro vai anunciar os próximos passos da criação da Aliança. Serão divulgadas prioritariamente pelo nosso comandante, que é o presidente Bolsonaro. Mas esse é o caminho, a meta é essa, deixar o partido apto até março para disputar as eleições municipais

E qual deve ser o seu papel na Aliança no estado?

Aqui no Paraná, no PSL, éramos em três. Visivelmente, e através das nossas posturas, dois deputados, eu e a deputada Aline, nos manifestamos como deputados que migrarão para a Aliança. E somos fiéis ao presidente Bolsonaro. Então compete a nós a formação do partido aqui no Paraná: a coleta de assinaturas, que vai se iniciar em breve, e também a formação de modo a tornar o partido de médio a grande já neste primeiro momento. As pessoas já estão nos procurando, querendo saber como faz para se filiar. Atuais prefeitos, candidatos a prefeitos, pré-candidatos a vereadores e prefeitos. Então o nosso papel será, aqui no Paraná, de coordenar em conjunto o crescimento do partido.

Mas pretende assumir a presidência do partido no Paraná?

Sim, certamente. As pessoas que me acompanham há mais tempo sabem da minha ligação com a própria família Bolsonaro. Então minha lealdade é ao presidente Bolsonaro e, certamente, se ele me conferir essa missão de ser seu comandante aqui no Paraná, vou aceitar com o maior orgulho e responsabilidade.

Em Curitiba, hoje o horizonte seria o Aliança lançar um candidato próprio ou vocês pretendem trabalhar mais com a ideia de coligações e de se associar a outros partidos de uma mesma ideologia?

O presidente Bolsonaro, em relação às eleições municipais do ano que vem, numa das reuniões que nós fizemos nesses últimos meses, disse que iria selecionar a dedo as cidades em que o Aliança teria candidato próprio. E faria isso através das cidades que fossem mais estratégicas. Eu, pessoalmente, considero Curitiba uma cidade estratégica. Primeiro porque é a capital do nosso estado e, em segundo lugar, o presidente Bolsonaro fez uma votação enorme, tanto no primeiro quanto no segundo turno aqui na cidade. Então, se o presidente Bolsonaro me consultar, eu certamente irei falar para ele que Curitiba é uma cidade estratégica, que merece um candidato próprio, principalmente para marcar posição e, eventualmente, com o apoio do presidente, ganhar as eleições. Eu defendo essa tese porque Curitiba, assim como o Londrina, merecem candidaturas próprias.

Mas pretende, por exemplo, procurar o delegado Francischini, que foi bastante próximo também ao presidente Bolsonaro, e tentar fazê-lo migrar de partido? Ou isso está fora de cogitação?

Fora de cogitação. De maneira alguma eu procurarei o deputado estadual Delegado Fernando Francischini.

Como avalia a punição que recebeu do PSL?

Foi uma condição causada pelo PSL, provocada pelo PSL. É completamente injusta, feita por um tribunal de exceção. O presidente Luciano Bivar resolveu punir aqueles deputados que demonstraram fidelidade ao presidente Bolsonaro. Só aí já é um contrassenso, já é completamente contraditório. Mas decidiu fazer isso, não só comigo, como com outros 14 deputados da legenda, e suspendeu as atividades partidárias minhas e desse grupo. O que acontece, o processo como um todo foi repleto de irregularidades e ilegalidades, tanto é que nós conseguimos na Justiça anular as nossas suspensões. Por exemplo, uma delas, a comissão de ética do PSL não existia. A comissão de ética foi criada após as denúncias e os integrantes da comissão de ética eram completamente parciais. Eram sócios do presidente Luciano Bivar, funcionários servidores comissionados do gabinete do presidente Luciano Bivar, e a esposa do vice-presidente nacional da sigla, Dr. Rueda, estava lá como integrante da comissão de ética. Então foi uma comissão criada para punir os deputados Bolsonaristas. Não só essa como outras irregularidades. Falta de notificações, convenções sem a devida publicidade. Nós conseguimos anular pela Justiça. Infelizmente é nessas horas que nós percebemos que devem ter outras malversações de recursos públicos. Porque bastou nós pedirmos a abertura da caixa preta que toda essa perseguição começou.

Como se enxerga dentro do governo Bolsonaro? Qual é o seu papel nesse grupo que está mais próximo ao presidente?

Eu acho que todos nós, que nos elegemos sendo Bolsonaro, fazendo campanha para o Bolsonaro, acreditando que é possível uma mudança do Brasil, precisamos nos unir e sermos soldados. É muito comum, muitas pessoas sabem ser cacique mas não sabem ser soldado. Na política isso também é muito comum. Então eu tenho defendido desde o início do ano que nós precisamos ajudar o presidente Bolsonaro. Nós precisamos ajudar os ministros indicados pelo presidente Bolsonaro. Ministros, inclusive, indicados sem toma lá dá cá. Nós precisamos ser soldados, afinal de contas todos fomos eleitos pra isso, pra ajudar na construção do Brasil. Então eu sou soldado.

Como analisa a aproximação do deputado Ricardo Barros do governo Bolsonaro?

Na verdade, o deputado Ricardo Barros, que não é meu parente, ele foi agora colocado como vice-líder do governo no Congresso. Existe o vice-líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo, do PSL. Existe o líder do governo no Senado, que é o senador Fernando Bezerra. Existe o vice-líder, o líder do governo no Congresso Nacional, que é o senador Eduardo Gomes. Esses três trabalham, apesar de trabalharem em conjunto, cada um com uma temática diferente. O deputado Ricardo Barros virou vice-líder do governo no Congresso. Ou seja, ele atua exclusivamente nas pautas do Congresso Nacional, que são medidas provisórias e leis orçamentárias. Além do líder, você possui 14 vices líderes para serem indicados. O deputado Ricardo é um dos 14 vices líderes indicados, e faz parte do jogo político, necessário para que sejam aprovadas as reformas com o maior voto possível. Infelizmente nós não temos uma base sólida, como dos governos passados. Aliás, felizmente, porque as bases formadas nos governos passados eram através de corrupção e do toma lá dá cá. Mas o fato é que nós não temos, por exemplo, 250 deputados bolsonaristas. Então é necessário, faz parte do diálogo, do jogo democrático, você trazer as forças políticas para dentro do seu campo, para que você consiga aprovar as medidas necessárias para a reformulação e para a refundação do Brasil. Então é natural, faz parte do jogo.

Como avalia a atuação do MBL hoje?

Eu entrei para o MBL nas manifestações pelo impeachment da Dilma Rousseff. Era o coordenador do MBL na cidade Londrina. E hoje tenho orgulho de dizer que fui expulso do Movimento Brasil Livre, porque num determinado momento, após o impeachment da Dilma, os coordenadores nacionais do movimento disseram que teríamos que escolher entre o Bolsonaro e o MBL. Obviamente, eu optei pelo Bolsonaro e fui expulso do movimento. O MBL tem se desvirtuado. O MBL, na minha visão, poderia ser um movimento que de fato fosse propositivo e que fosse baseado na realidade. Infelizmente, nos últimos meses principalmente, na saga de descolar a imagem deles do Bolsonaro, eles acabam cometendo injustiças e fake news contra o próprio governo.

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