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Zeca Dirceu (PT-PR) classificou a proposta de reforma da Previdência de “criminosa” (Foto:  Cleia Viana/Câmara dos Deputados)
Zeca Dirceu (PT-PR) classificou a proposta de reforma da Previdência de “criminosa” (Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados)| Foto:

O primeiro semestre de 2019 mal se encerrou e o noticiário político já registra uma série de gafes, impropérios e declarações que chamaram a atenção (para o bem ou para o mal) proferidos por figuras paranaenses em discursos, entrevistas ou em redes sociais.

A Gazeta do Povo reuniu sete dessas falas que, ditas no improviso, geraram bate-boca, críticas, repúdio, ou, no mínimo, uma repercussão atípica em meio a tantos temas que o país discute. Confira:

Rafael Greca (DEM) sobre enfermeiras: Doentes de tédio de tanto descansar

Rafael Greca (DEM) durante entrega de obras de revitalização em unidade de saúde no Cajuru
Rafael Greca (DEM) durante entrega de obras de revitalização em unidade de saúde no Cajuru| Levy Ferreira/SMCS

Em março, o prefeito de Curitiba Rafael Greca (DEM), à época no PMN, conseguiu gerar a revolta de toda a categoria de profissionais de enfermagem com uma resposta a comentário recebido no Facebook. Depois que uma internauta postou em uma publicação de Greca um pedido para que as equipes de enfermagem das unidades de saúde recebessem mais atenção, o prefeito respondeu, sem razão aparente, em tom de deboche.

“Por favor olhem um pouco para a equipe de enfermagem das unidades de saúde! O pessoal está ficando doente”, escreveu Ingrid Bohler. Greca respondeu: “Não há registro de maus tratos. Mesmo porque uma enfermeira de unidade básica trabalha apenas 30 horas semanais. Uma enfermeira de UPA trabalha 12 horas e descansa 60 horas! Não há como ficar doente, a não ser de tédio de tanto descansar. A não ser que cometa excessos durante seu descanso.”

O comentário gerou uma série de respostas de outros internautas em protesto. O Conselho Regional de Enfermagem do Paraná (Coren-PR) emitiu nota de repúdio. Greca acabou reconhecendo o erro e postou, na mesma rede social, um pedido de desculpas. “Quando erramos, é preciso ter humildade para reconhecer. O meu comentário para a auxiliar de enfermagem Ingrid Bohler sobre a jornada semanal de trabalho não corresponde ao meu pensamento em relação à categoria!”, diz trecho da publicação.

Rafael Greca (DEM) sobre trabalhadores do transporte coletivo: Quero-queros

Rafael Greca (DEM) participa de cerimônia de entrega de ônibus para a cidade
Rafael Greca (DEM) participa de cerimônia de entrega de ônibus para a cidade| Luiz Costa/SMCS

Em janeiro, Greca já havia se envolvido em um desgaste com outra categoria. Questionado sobre a possibilidade de aumentar a tarifa de ônibus em meio à campanha salarial de motoristas e cobradores do transporte coletivo, o prefeito de Curitiba Rafael Greca (DEM), à época ainda no PMN, saiu-se com uma de suas tradicionais analogias. “O Centro Cívico está cheio de quero-queros: tem os que querem aumento e eu quero qualidade com preço justo”, disparou.

Greca evitava falar em números e esquivava-se das perguntas sobre o aumento da tarifa de ônibus, dizendo que permitiria uma alta apenas dentro do que fosse necessário. O preço da passagem acabou subindo de R$ 4,25 para R$ 4,50 no fim de fevereiro depois de um acordo com o governo do estado para o subsídio de parte dos custos operacionais.

Na época, o clima de tensão entre prefeito e trabalhadores do transporte público não era dos melhores, mas não apenas pela discussão do aumento salarial. O governo municipal já deixava clara a intenção de acabar com a função dos cobradores de ônibus. O tema foi alvo de debate durante alguns meses, até a Câmara Municipal aprovar um projeto que prevê a redução gradual da função.

Ricardo Arruda (PSL) para servidor estadual: “Vagabundo” e “covarde”

Ricardo Arruda (PSL) durante discurso na tribuna da Alep na sessão do dia 9 de julho
Ricardo Arruda (PSL) durante discurso na tribuna da Alep na sessão do dia 9 de julho| Dálie Felberg/Alep

Na penúltima sessão legislativa do primeiro semestre, em 9 de julho, em meio ao clima tenso entre governo e servidores que pediam o pagamento da data-base, o deputado estadual Ricardo Arruda (PSL) conseguiu, com um discurso no mínimo inoportuno, inflamar ainda mais a revolta dos funcionários públicos com a administração estadual.

Da tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), mostrou, em um dos momentos mais incisivos, um quadro feito por um sindicato de servidores que comparava as perdas salariais dos últimos três anos, de 17,02%, com o aumento de preços como o da gasolina e da energia elétrica no mesmo período. “Algum, desculpem o termo, vagabundo, fez esse quadro. Algum covarde fez esse quadro. Se estiver aqui na plateia, diga quem foi. Mostre a sua cara”.

Após alguém se levantar nas galerias do plenário, Arruda prosseguiu com o tom agressivo. “Você que fez isso aí? Então tem que responder criminalmente por calúnia e difamação. Tenha vergonha na cara.” Na sequência, mostrou um segundo gráfico, que apontava um aumento médio de 28,66% na remuneração dos servidores estaduais nos últimos anos. “Podem vaiar à vontade, esses são números oficiais. Eu sei que a verdade dói de ouvir. Quando o deputado Professor Lemos disse que o funcionário perdeu poder aquisitivo de compra, não perdeu não. A média deles deu 5% acima da inflação devido a progressões, promoções, anuênios e quinquênios.”

A plateia veio abaixo, em vaias. O presidente da Alep, Ademar Traiano (PSDB), chegou a suspender a sessão por alguns minutos, após servidores, revoltados com o discurso, forçarem as entradas das galerias e as portas do plenário, onde não conseguiram entrar. Acuado, Arruda deixou a Casa antes do término da sessão. E não compareceu à Alep no dia seguinte.

Zeca Dirceu (PT) para Paulo Guedes: Tchutchucae tigrão

Zeca Dirceu
Zeca Dirceu (PT) durante sessão na CCJ da Câmara| Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Aparentemente sem prever a confusão que geraria, o deputado federal paranaense Zeca Dirceu (PT) foi o responsável por suspender a sessão de 3 de abril da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara do Deputados. Iniciada às 14 horas, a audiência, que contava com a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, para responder perguntas sobre a reforma da Previdência, terminou pouco antes das 21 horas após uma provocação do parlamentar petista com vocábulos que se consagraram na letra de um funk dos anos 2000.

“Estou vendo, ministro, que o senhor é tigrão com aposentados, idosos, portadores de necessidades, agricultores e professores, mas é tchutchuca com quem tem privilégios”, disse Dirceu. Visivelmente ofendido, Guedes rebateu com ataques pessoais. “Tchutchuca é a mãe. É a avó”, devolveu. “O senhor me respeite”, bradou o ministro. A provocação gerou bate-boca entre os deputados presentes e o presidente da CCJ, o também paranaense Felipe Francischini (PSL), acabou encerrando a sessão.

O uso dos termos “tchutchuca” e “tigrão” repercutiu nos dias que se seguiram. O ex-governador Roberto Requião (MDB), que já usava as expressões em 2002, comentou no Twitter que “são metáforas com linguagem popular de fácil entendimento. Guedes entendeu de outro modo”. O nome de Zeca Dirceu foi pesquisado no Google como nunca antes. Em uma carta ao deputado, o uso dos termos foi elogiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E, algum tempo depois, em sabatina com o ministro da Justiça Sergio Moro na mesma CCJ, o também paranaense Filipe Barros (PSL) voltou a usar os termos, “parafraseando Zeca Dirceu”, mas tendo o PT como alvo, acusando o partido de ser “tchutchuca com corruptos e criminosos e tigrão com a Lava Jato”.

Boca Aberta (Pros) para Sergio Moro: troféu da Champions League

Boca Aberta e Sergio Moro na Câmara
Boca Aberta (Pros) entrega troféu a Sergio Moro| Reprodução/TV Câmara

Ainda em sua primeira legislatura, o já folclórico deputado federal Boca Aberta (Pros), que tem base em Londrina, no Norte do Paraná, protagonizou o momento mais bizarro da reunião marcada no dia 2 de julho na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados para ouvir o ministro da Justiça, Sergio Moro, sobre supostas conversas vazadas quando Moro ainda era juiz federal.

Após enaltecer o ex-juiz aos berros, Boca Aberta caminhou até a mesa de onde Moro respondia aos parlamentares e entregou o que batizou de “troféu da Champions League”, sob um misto de vaias de deputados da oposição e aplausos de apoiadores do governo. A taça, decorada com fitas verdes e amarelas, trazia gravada em uma plaqueta os dizeres “Sergio Moro, a maior estrela do combate à corrupção brasileira.”

“Troféu, esse, que é cobiçado, Excelência, pelas maiores estrelas do futebol mundial: Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo”, explicou, aparentemente sem preocupação em manter alguma coerência. “O senhor, Sergio Moro, merece, em nome do povo brasileiro, esse troféu, que equivale à Liga dos Campeões. Que Deus, nosso pai celestial, derrame copiosas chuvas de bênçãos ao senhor.” Visivelmente constrangido, o ex-juiz levantou-se para receber a taça e cumprimentou o parlamentar com tapinhas nas costas.

Oriovisto (Podemos) sobre Rodrigo Maia (DEM): Não pode comandar a República

Oriovisto Guimarães (Podemos) durante sessão plenária no Senado Federal
Oriovisto Guimarães (Podemos) durante sessão plenária no Senado Federal| Marcos Oliveira/Agência Senado

Novato no Senado, Oriovisto Guimarães (Podemos) ganhou a atenção do país com um discurso durante a sessão plenária de 22 de maio. Após o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM) anunciar um acordo com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), para que o Senado tivesse tempo hábil para discutir as medidas provisórias editadas pelo governo, Oriovisto elogiou a atitude de Alcolumbre e fez duras críticas a Maia.

“Estou me sentindo simplesmente um espectador. Todo o protagonismo está na Câmara dos Deputados. O Senado está sendo simplesmente um observador dos fatos. Não participa. Nenhum senador pôde participar de reforma da Previdência. O senhor [Alcolumbre] é mais que presidente do Senado, é presidente do Congresso. A sua postura de enfrentar essa morosidade e esse desrespeito que o presidente Rodrigo Maia tem para com o Senado é fundamental”, disse o paranaense. “Um homem que teve 74 mil votos para se eleger como deputado federal não pode comandar a República e desrespeitar 81 senadores que na sua maioria tiveram milhões de votos”, afirmou Oriovisto.

O senador afirmou ainda que não adianta o Senado tomar a iniciativa e aprovar projetos porque eles são engavetados por Maia. “Olha o projeto do fim do foro privilegiado, aqui aprovado por unanimidade, que nós já pedimos inúmeras vezes. Eu pessoalmente já pedi ao presidente Rodrigo Maia que coloque do foro privilegiado em votação. Ele simplesmente não coloca”, disse. Segundo Oriovisto, a atitude de Maia comprometia a imagem de todo o Congresso Nacional, já que a população anseia por mudanças e reformas.

Sargento Fahur (PSL): Bandido bom é bandido no colo do capiroto

Sargento Fahur (PSD) discursa no plenário da Câmara dos Deputados
Sargento Fahur (PSD) discursa no plenário da Câmara dos Deputados| Michel Jesus/Câmara dos Deputados

Sargento Fahur (PSD) fez fama quando policial militar com declarações a favor da pena de morte e da posse e do porte de armas pela população civil. Na onda do bolsonarismo, acabou se tornando o deputado federal mais votado do Paraná nas últimas eleições, com quase 315 mil votos. Como parlamentar, mantém o discurso vingativo e justiceiro, que atrai uma legião de seguidores – é considerado o quinto parlamentar mais influente do país nas redes sociais, segundo o ranking FSB Influência Congresso.

Um de seus primeiros discursos no plenário da Câmara dos Deputados, postado no Facebook com a legenda “Bandido bom é bandido no colo do capiroto” tinha mais de 1,8 milhões de visualizações até esta terça-feira (30), além de 74 mil compartilhamentos e 6,1 mil comentários.

No vídeo, em pouco mais de dois minutos, o deputado parabeniza policiais de São Paulo que mataram 12 suspeitos em um confronto, defende o arquivamento de um inquérito sobre o caso, diz estar “cagando e andando para PCC, para Família do Norte e para o inferno que os carregue” e afirmou que, como deputado federal, vai defender a classe policial “nem que morra” ou “que tenha que rolar com desgraçado aqui nesse plenário”. Admite ainda que “se tapa e pescoção em vagabundo dessem cadeia”, merecia pegar prisão perpétua “porque já arrebentei muito desses vagabundos no cacete e na bala”.

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