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hidroxicloroquina
Frascos de pílulas de hidroxicloroquina| Foto: Yuri CORTEZ/AFP

O médico cirurgião Dorival Ricci Júnior apresentou, nesta quinta-feira (9), em reunião virtual da Frente Parlamentar do Coronavírus, da Assembleia Legislativa do Paraná, a proposta de protocolo de tratamento precoce e preventivo à Covid-19, elaborada por um grupo de médicos paranaenses, que também já foi entregue ao secretário estadual de Saúde, Beto Preto. A sugestão de protocolo prevê a utilização de hidroxicloroquina e azitromicina já nos primeiros sintomas da doença (antes mesmo da confirmação laboratorial) e, até, o uso preventivo da hidroxicloroquina ou ivermectina regularmente. Também presente na reunião, o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Clovis Arns da Cunha, lembrou que tais tratamentos não têm nenhuma comprovação científica, e que as pesquisas com a hidroxicloroquina em todo o mundo já foram descartadas por ineficácia.

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“Todos sabemos que todas as doenças diagnosticadas e tratadas precocemente têm maior chance de cura e diminui mortalidade. Por que com Covid seria diferente?”, questiona Ricci, que vem aplicando o protocolo em sua cidade de atuação, Paraíso do Norte. Mesmo reconhecendo que as medicações não têm eficácia científica comprovada, ele se apega à Declaração de Helsinque, da Associação Médica Mundial, de 1964: “quando não há tratamento, o médico deve estar livre para adotar métodos não comprovados ou novas alternativas”.

O protocolo prevê o tratamento profilático com hidroxicloroquina ou ivermectina para profissionais de saúde, casas de idosos, pessoas de alto risco e quem teve contato com casos confirmados. “É eficiente e traz benefícios, sendo totalmente seguro se usado corretamente. É muito mais eficiente que isolamento e lockdown, que não têm comprovação científica de efetividade. Não blinda, não imuniza, mas diminui a infecção em 60% dos casos e diminui a progressão para caso grave em 80%”, disse, mas sem apresentar estudos que indiquem tais números.

Após os primeiros sintomas o cirurgião recomenda, mesmo antes do resultado do teste laboratorial, o tratamento com cloroquina ou ivermectina, “para bloquear a entrada do vírus na célula ou no núcleo da célula”, azitromicina; “antibiótico que, em sinergia com as outras drogas, impede que o vírus consiga fabricar a parede quando replica”; zinco e vitaminas D e C, para reforçar o sistema imunológico e enoxaparina, anticoagulante para prevenir a formação de trombos. “Esse tratamento já é aplicado e realizado em diversas localidades, com perfis populacionais e climáticos diferentes e tem resultados satisfatórios, por si só já é uma comprovação científica”, concluiu.

Mundo inteiro já abandonou cloroquina

O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia foi enfático ao rebater a proposta de protocolo. “É da democracia que existam posições divergentes, mas o que trago aqui não é a minha opinião é a posição da Sociedade Brasileira de Infectologia, da Sociedade Americana de Infectologia, da Organização Mundial de Saúde, da União Europeia. O que vou colocar para vocês são as posições científicas”, disse, ao saudar os deputados.

“Todas as medicações que usamos na medicina precisam passar por uma pesquisa de segurança pra saber que o remédio não fará mal - e de eficácia. No momento, só duas drogas passaram por esse teste e tiveram eficácia comprovada para a Covid-19: a dexametasona, corticoide que salva vidas de pacientes graves, por seu poder anti-inflamatório, e remdezevir – que ainda não temos no Brasil”, afirmou, citando que as drogas são utilizadas na fase grave ou moderada da doença, com pacientes internados.

“Na fase inicial, usar qualquer uma dessas medicações (cloroquina ou invermectina) não tem nenhum dado de segurança e eficácia comprovada. Hoje, o mundo inteiro, Europa, EUA, Ásia, todos os países desenvolvidos, abandonaram estudos com cloroquina, porque não teve nenhum resultado. E, em pacientes cardíacos que evoluem para pneumonia, ainda pode matar por arritmia”, salientou, citando estudo recentemente publicado na revista científica New England Journal of Medicine que mostrou o mesmo índice de infecção em um grupo de 800 pacientes que receberam hidroxicloroquina preventivamente.

O infectologista comparou a cloroquina com a “pílula do câncer” (fosfoetanolamina) anunciada, em 2015 como remédio para a cura da doença, mas que nunca teve a eficácia comprovada. “Na medicina, a primeira coisa que o médico tem que fazer é não prejudicar o paciente. Então, a cloroquina não só não é indicada, como é contraindicada, pois aumenta o risco de morte, ainda mais associada à azitromicina”, afirmou.

O infectologista também fez um esclarecimento sobre a ivermectina. “Em laboratório, esse antiparasitário conseguiu reduzir a replicação do vírus. Assim como já tinha conseguido reduzir a de vários outros, inclusive do da dengue e o HIV. Mas nunca foi utilizado em humanos para o tratamento destas doenças porque a dose necessária para ter eficácia seria entre 100 a mil vezes maior que a usada para sarna, por exemplo, o que seria uma dose tóxica para o ser humano”.

Arns da Cunha terminou sua intervenção fazendo um alerta aos deputados. “Eu ficaria muito triste se houvesse manifestação de qualquer governante para gastar dinheiro público em remédio que não funciona, que não tem base científica e que tem efeito colateral, enquanto falta recursos para respirador, falta sedativo nos hospitais”.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde informou que o secretário Beto Preto recebeu um grupo de médicos que defende o tratamento precoce e prometeu analisar a proposta.

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