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Violonista Gerson Bientinez morreu em Curitiba, vítima de Covid-19
Violonista se destacou em parcerias com vozes femininas da cidade| Foto: Divulgação

Enquanto fala sobre o amigo Gerson Bientinez, a escritora e letrista Etel Frota faz um rápido cálculo mental. Todas as quatro parcerias musicais que formaram juntos tiveram mulheres como protagonistas, seja na interpretação, na própria composição ou como homenageadas em letra e melodia. Assim certamente se repetiu com diversos outros artistas com quem Gersinho se uniu para produzir boa música. No dia 9 de novembro, a cidade ficou mais vazia com a partida do violonista, compositor e produtor musical que criava para as cantoras – vítima da Covid-19.

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Generosidade musical é a característica chave para entender tanto a personalidade quanto o lado artístico de Gersinho. “Quando terminava uma composição, ele dizia com aquele jeito pausado de falar: ‘veja o que eu fiz para você cantar, veja essa música maravilhosa’”, relembra a cantora Giseli Canto, também parceira musical. Essa humildade e desapego não vinham desacompanhados. Como é próprio das mentes criativas, alimentava sim o próprio ego e tinha plena consciência de que as belas peças que produziu não saem de qualquer violão.

Criado em Curitiba ao redor do rádio por um pai comerciante que incentivava a musicalidade dos filhos, teve como primeiro instrumento o acordeom. Porém, logo entendeu que seu negócio mesmo era o violão, gostava de contar que aos 13 anos já era profissional. Foi influenciado pela era de ouro do jazz, pelo blues americano, mas afirmava que sua principal virada musical, como acontecera com diversos artistas da mesma geração, foi a Bossa Nova e a sofisticação disfarçada de simplicidade dos acordes de João Gilberto.

Desfilou com seu violão pela Europa e ao longo da carreira tocou com os grandes, como Baden Powell, Alaíde Costa, Sebastião Tapajós, Claudionor Cruz, Herivelto Martins, Saul Trumpet e tantos outros. Teve mais de 40 parceiros e parceiras musicais, é autor de mais de 150 músicas gravadas por artistas como Rogéria Holtz, Alexandre Nero e Ana Paula Cascardo. Gravou os álbuns “Quinze”, em 1996, “Alta Estima”, em 2006, e “40 Anos de Música”, em 2016.

Nos últimos tempos, tocava aos finais de semana em bares e restaurantes como o Gilda e o Quitanda Osório, além de participar com frequência da Segunda Autoral do Bardo Tatára. Estava sempre pronto para compor uma nova canção, e não fazia charme aos pedidos de quem quer que fosse. “Com ele não tinha tempo ruim. Se você ligasse propondo uma parceria, mesmo que ele não te conhecesse, ele ia topar. Uma pessoa muito disponível”, comenta Etel.

Atuou como diretor do Teatro do Paiol de 1986 a 1991 e como produtor musical de vários artistas. Fora a atividade artística constante desde a infância, teve seu momento de bater ponto. Foi funcionário do antigo Banco de Desenvolvimento do Paraná (Badep).

Com um jeito de ser bem característico, era dono de um punhado de bordões. Não precisava muito para que o mais forte deles, “sensacional!”, saísse de sua boca. Ao falecer, deixou incontáveis parceiros e futuros parceiros órfãos de um compositor que dedicava corpo e alma à música, mas fica a certeza de que cada vez que a palavra “sensacional” for proferida no meio artístico paranaense, haverá a presença de Gersinho.

Gerson Bientinez deixa esposa, dois filhos e dois netos.

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