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HC já usa corticoide em casos graves de Covid-19 e estuda inclusão em protocolo
| Foto: Divulgação CHC

O uso de corticoide para reduzir a inflamação de pacientes graves de Covid-19 já vinha sendo adotado no Hospital de Clínicas de Curitiba, em casos pontuais, antes mesmo da divulgação do resultado do estudo da Universidade de Oxford sobre a dexametasona – corticoide que apresentou redução em um terço na mortalidade de pacientes graves infectados pelo coronavírus. Com o resultado do estudo, o hospital já discute a inclusão do tratamento em seu protocolo institucional.

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“Por conta de sua atividade anti-inflamatória e capacidade de redução da lesão pulmonar, estávamos prescrevendo corticoide, de forma individualizada, para pacientes moderados e graves, na UTI, bem como alguns pacientes de enfermaria que necessitavam de oxigênio”, revela o médico do Serviço de Infectologia do hospital Giovanni Breda, citando que o HC vinha usando uma droga diferente da do estudo de Oxford (mas com os mesmos princípios), a metilprednisolona, e em uma dose maior do que a aplicada na pesquisa britânica. “Esse estudo mostrou a eficácia da droga com uma dose moderada: uma droga que está facilmente disponível, via oral e endovenosa, e que é barata; que conhecemos o perfil de risco e efeito colateral e que, na dose e tempo que se sugere a utilização [6 mg, uma vez ao dia, por 10 dias], parece seguro”.

Ressalvando que o hospital aguardará a disponibilização da íntegra do estudo para uma análise completa, Breda diz que o HC tende a incluir a prescrição da dexametasona no protocolo de tratamento para pacientes moderados e graves de Covid-19 com necessidade de oxigênio. “A Covid é uma doença bifásica: nos primeiros dias, ocorre o ciclo da replicação do vírus, e uma parte dos pacientes evolui para uma segunda fase, que é a de um componente inflamatório da doença, quando o vírus aciona a cascata inflamatória. Essa ativação da cascata inflamatória pode causar dano no tecido e na circulação pulmonar. E é exatamente nesta fase que o corticoide pode atuar”, explica. “Alguns pacientes evoluem para um quadro de pneumonia em organização e, para esse quadro, o corticoide estava sendo prescrito por sua capacidade de diminuir a inflamação e melhorar a lesão pulmonar”, acrescenta.

Para o infectologista o resultado do estudo de Oxford é a notícia positiva de maior impacto desde o início da pandemia. “Fazendo um paralelo com o remdesivir [antiviral], que é a outra medicação já autorizada, temos uma droga com resultado muito mais significativo na redução da mortalidade. O remdesivir teve uma tendência, sem significância estatística, na redução da mortalidade; seu maior impacto foi na redução de tempo para a melhora clínica. Além disso, ele é endovenoso, caro e não está amplamente disponível. Então o resultado de hoje tem um potencial muito significativo para o tratamento da doença em todo o mundo”, comenta, citando que os próximos estudos devem analisar o uso conjunto das duas drogas.

Breda cita que o HC passou a adotar o corticoide porque o perfil inflamatório da doença indicava que o medicamento poderia ter efeito positivo para conter a inflamação, “mas tínhamos receio porque, nos testes para influenza, por exemplo, os resultados foram ruins. Agora, temos um estudo muito grande e metodologicamente adequado para o contexto de pandemia, que nos dá segurança, indicando, ainda um padrão de dose bem claro, é muito significativo”, comenta.

O médico ainda cita que os efeitos colaterais do corticoide já são bastante conhecidos: retenção de líquidos, alteração no controle da glicemia, aumento na pressão arterial e aumento no risco de infecção bacteriana. “Mas, em uma dose moderada, como proposto no estudo, e tomando os devidos cuidados com pacientes diabéticos e hipertensos, por exemplo, o benefício esperado é maior que o risco”, diz, explicando, novamente, ser necessária a análise completa do estudo.

Apesar do otimismo quanto à divulgação do estudo, “é muito significativo, tanto que a Sociedade Brasileira de Infectologia já divulgou informe recomendando a prescrição”, o médico lembra que a dexametasona não é “o remédio para o coronavírus”. “É uma droga com grande potencial para reduzir a mortalidade. A população não pode ficar um pouco eufórica com a notícia de tratamento, relaxar nas medidas de proteção e correr atrás do medicamento nas farmácias. Precisamos lembrar que não é indicado para casos leves e não reduz a circulação do vírus. Se aumentar o número de pessoas se expondo, se infectando, podemos ter colapso do sistema de saúde e sequer conseguir oferecer o tratamento para quem precisa. É uma notícia boa, mas que não muda a realidade de contaminação”, conclui.

A médica intensivista do Hospital do Trabalhador, o hospital de referência de Curitiba para os casos de Covid-19, Mirella Oliveira, informou que o hospital ainda não utiliza corticoides no tratamento de seus pacientes e que discutiria ainda nesta terça-feira a possibilidade de adoção deste tratamento.

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