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Estoque de remédios dos hospitais Cajuru e Marcelino Champagnat: dificuldade de aquisição de medicamentos de intubação preocupa com o avanço da Covid-19.
Estoque de remédios dos hospitais Cajuru e Marcelino Champagnat: dificuldade de aquisição de medicamentos de intubação preocupa com o avanço da Covid-19.| Foto: Divulgação Grupo Marista

Com estoques de anestésicos e sedativos de intubação perto do fim e sem previsão de entrega da indústria nacional, os hospitais do Paraná estão tendo de negociar com fornecedores de fora do país para atender o grande volume de pacientes graves com Covid-19 internados nas UTIs.

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Hospitais ouvidos pela Gazeta do Povo apontam que o consumo desses medicamentos aumentou entre 10 e 15 vezes desde o início da pandemia e praticamente dobrou só de fevereiro a março desse ano na onda mais acelerada de transmissão do coronavírus em toda a crise sanitária. Situação que vai gerar mais um impacto nos cofres das unidades de saúde, com transações em dólar, custos de transporte e taxas de importação dessas drogas, além do tempo maior de entrega.

“O consumo de medicamentos para intubação aumentou assustadoramente e os fabricantes locais não têm mais capacidade de aumentar a produção”, enfatiza o presidente do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Sindipar), Flaviano Ventorin. “Além disso, o Ministério da Saúde requereu toda produção de medicamentos de intubação para o sistema público de saúde. Com isso, os hospitais particulares não têm outra saída a não ser importar”, complementa.

Ventorin cita o caso da rede de hospitais que administra, o Nossa Senhora das Graças, que além da sede principal em Curitiba tem mais quatro unidades no estado e que, dependendo da medicação, tem estoque somente para mais dez dias. Só o consumo do bloqueador neuromuscular rocurônio, por exemplo, que estabiliza o paciente para respirar por ventilação mecânica, saltou no Nossa Senhora das Graças de 400 doses em março de 2020 para 5,7 mil em março de 2021, sendo que dois meses antes, em janeiro, eram 2 mil ampolas utilizadas.

Nos hospitais Cajuru e Marcelino Champagnat, a dificuldade é bem parecida. Só um bloqueador neuromuscular teve o consumo ampliado em quase 15 vezes ao longo de um ano. Só entre fevereiro e março, a utilização dobrou.

“Para garantir medicamentos de intubação para pacientes de Covid-19 já suspendemos cirurgias eletivas [sem urgência] e exames, como endoscopia, mas não está sendo suficiente. Agora já estamos tendo de usar anestésicos alternativos, conforme nosso protocolo de contingência”, ressalta Arivelton Gomide, gerente de Operações de Saúde do Grupo Marista, que administra o Cajuru e o Marcelino Champagnat.

Negociações

Gomide informa que começou a negociação com laboratórios estrangeiros imediatamente após o Ministério da Saúde requerer a produção nacional de medicamentos de intubação sexta-feira, sabendo que a situação se complicaria ainda mais. Na manhã de sábado (20), ele e a equipe entraram em contato com importadores da Turquia e Taiwan.

“Alguns produtores brasileiros ainda atendem os pedidos, mas é a conta-gotas. Você encomenda 10 mil unidades de um determinado medicamento, mas eles só conseguem entregar mil. Isso não resolve meu problema”, salienta o representante do Cajuru e Marcelino Champagnat.

Gomide enfatiza ainda que mesmo nos laboratórios estrangeiros a situação não permite compras muito substanciais, já que outros países também estão com demanda alta. “O cenário crítico do momento é sobreviver até um mês, que é o prazo médio para os fornecedores de fora entregarem os pedidos e, conforme a minha expectativa, de que o mercado nacional possa se reestabelecer”, avalia. “mas o quadro só vai se resolver de verdade quando a demanda nacional voltar ao normal”, completa Gomide.

Já o presidente do Sindipar informa que os hospitais estão se unindo para negociar conjuntamente com os fornecedores de fora do Brasil. “Em conjunto, você ganha força de negociação. O mercado externo fica mais interessado em vender 200 mil doses do que 20 mil doses. Mas isso também é complicado de fazer”, salienta.

Ventorin aponta que cada hospital tem as suas próprias necessidades por medicamentos. Além disso, elenca outras duas dificuldades, inclusive para negociações individuais: a transação feita em dólar, cuja cotação está perto de R$ 5,60, o que encarece o processo, e o fato de adquirirem insumos de fornecedores que não conhecem. “Na tese, estamos comprando no escuro”, reforça o presidente do sindicato dos hospitais.

Apelo à Organização Pan-Americana de Saúde

A falta de medicamentos de intubação no Brasil é tão preocupante que o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) não descarta acionar a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) para intervir. "Se não tiver quantidade suficiente de medicamentos nos próximos dias, estamos trabalhando no Conass para compra via Organização Pan-Americana de Saúde. Isto está sendo articulado", confirma o secretário estadual de Saúde do Paraná, Beto Preto, em entrevista ao jornal Boa Noite Paraná, da RPC, na última terça-feira (23).

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