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Em hotel social, morador tem direito a pouso e refeições
Em hotel social, morador tem direito a pouso e refeições| Foto: Ricardo Marajó/FAS

No início de março, logo no começo da pandemia, o atendimento da população em situação de vulnerabilidade social de Curitiba teve de se readaptar às mudanças impostas pela Covid-19 e às medidas de prevenção ao contágio da doença, como o distanciamento social. Com isso, o número de vagas nos abrigos operados pela Fundação de Ação Social (FAS) foi drasticamente reduzido, fazendo com que o poder público precisasse se adequar as novas condições para garantir a saúde dos acolhidos, sem prejudicar o atendimento daqueles que, justamente, mais precisam de apoio em momentos de calamidade e se encontravam desabrigados.

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Para tentar amenizar a redução de leitos nos abrigos, em razão da necessidade de aumentar o distanciamento entre as camas, a prefeitura da capital dobrou o número de vagas nos chamados hotéis sociais. O projeto que teve início em 2018 oferecia até então 150 vagas temporárias em quartos de estabelecimentos do ramo hoteleiro em três endereços da capital para pessoas que mantêm alguma autonomia, como trabalhadores informais ou desempregados, porém, se encontram desabrigadas no momento. A medida tem o objetivo de auxiliar essas pessoas na reconstrução de suas vidas que, independente do motivo, foram prejudicadas em algum momento.

Já no último mês de junho foram abertos outros 150 lugares no Hotel Maia, localizado no Jardim Botânico. No local, os hóspedes têm à sua disposição uma cama, armário para deixar seus pertences pessoais, roupas de cama e banho, itens de higiene pessoal, além de duas refeições diárias gratuitas que são feitas no próprio local – café da manhã e jantar. São disponibilizadas até quatro camas em cada quarto. Para os usuários o serviço é totalmente gratuito. Para cada pessoa em situação de rua acolhida no local, o estabelecimento recebe R$ 65 por dia, valor que inclui a pernoite e as duas refeições. O custo mensal desembolsado chega a R$ 285 mil com a ocupação total e a diária só é paga caso a vaga seja ocupada. O custeio para manutenção da unidade é feito com recursos federais, de acordo com a prefeitura.

Na ocasião de lançamento, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, reforçou a importância do acolhimento dos desabrigados no período de inverno, evitando assim que as pessoas fiquem vulneráveis não só às baixas temperaturas, como também aos riscos de contaminação pela Covid-19. “A abertura desse espaço busca o enfrentamento de dois problemas; o frio que é muito grave nesta época do ano em Curitiba e as moléstias respiratórias que podem preceder ou agravar quadros do novo coronavírus”, alertou.

O hotel recebe exclusivamente pessoas em situação de rua encaminhadas pelas FAS, depois de passarem por uma avaliação técnica na Central de Encaminhamento Social 24 Horas, nas casas de passagem ou nos Centros de Referência Especializados da Assistência Social (Creas). Em pouco mais de um mês, aproximadamente 213 pessoas passaram pelo local.

A gestão do espaço é realizada totalmente pelo proprietário do estabelecimento, cabendo ao poder público o atendimento social e o acompanhamento da adaptação da pessoa acolhida para proporcionar a todos os hóspedes um ambiente seguro, saudável e que traga as condições necessárias para que a pessoa possa recomeçar sua vida.

De acordo com o presidente da FAS, Fabiano Vilaruel, a ideia é manter essa política pública de acolhimento mesmo após a pandemia. O projeto gerenciado pela Fundação de Ação Social da capital deve ser mantido até o final do ano e já conta com a possibilidade de ampliação para mais 150 vagas em breve. “Entendemos que existe uma quantidade de pessoas que vivem em situação de rua, mas tem autonomia econômica. Nesse caso, os acolhidos precisam mesmo é de um endereço, um local para tomar um banho quente em que elas possam deixar os seus pertences durante o dia”, diz.

Adilson Sérgio Rossetto, 54 anos, é um dos hóspedes de hotel social da prefeitura, no Jardim Botânico
Adilson Sérgio Rossetto, 54 anos, é um dos hóspedes de hotel social da prefeitura, no Jardim Botânico| Ricardo Marajó/FAS

Ele explica que em outras modalidades de acolhimento, como é o caso dos abrigos, o usuário acaba tendo que sair no dia seguinte dos locais levando os seus pertences consigo, o que dificulta rotinas do dia a dia, como a busca por uma oportunidade de trabalho, por exemplo. “Queremos que as pessoas possam ter tranquilidade para buscar um emprego, para que elas possam frequentar um curso profissionalizante que nós mesmos oferecemos. É importante que eles tenham um local seguro para se abrigarem todas as noites”.

A renovação do período de hospedagem acontece semanalmente, porém, não há uma permanência máxima. Caso seja constatada a necessidade, o acolhido pode renovar sua permanência no local de forma contínua. “Nesse momento de pandemia não estamos impondo um prazo. Se ela atender minimamente a necessidade de permanecer, se for identificado que ela precisa permanecer, ela vai continuar no hotel”, diz Vilaruel.

Ele também destaca a importância de se resgatar a autoestima dos usuários do serviço atendidos para eles possam buscar novas oportunidades e maneiras de recomeçar a própria vida. “As pessoas atendidas sentem mais dignidade. Não é porque elas estão em situação de rua que não mereçam o melhor tratamento. Se dermos o nosso melhor, também despertaremos neles a necessidade de buscarem o melhor para suas próprias vidas. Temos buscado acolher bem e entender as necessidades de cada pessoa atendida, que são muito complexas. O hotel tem servido para trazer mais dignidade e a gente comprova isso no nível de satisfação das pessoas que estão ali acolhidas. São os nossos hóspedes”.

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