Eles estão na mira da sociedade: as pessoas com mais de 60 anos são um dos grupos de risco da Covid-19 e, em nome da saúde individual e pública, precisam manter o isolamento social para evitar a infecção pelo novo coronavírus. Essa é a recomendação oficial do Ministério da Saúde para 1,78 milhão de pessoas no Paraná, ou 15,8% do total de 11,3 milhões de habitantes, conforme a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) Contínua de 2018, a mais recente.
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O percentual do Paraná está dentro da média brasileira (15,4%) e abaixo de quatro estados com maior número de idosos, proporcionalmente: Rio de Janeiro (19,3%), Rio Grande do Sul (19,0%), São Paulo (16,7%) e Minas Gerais (16,4%).
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São idosos, mas representam a única fonte de renda em muitos lares. Dos 2,2 milhões de paranaenses responsáveis únicos pelos domicílios (que não compartilhavam esse dever com ninguém), 529 mil, ou 23,8% tinham mais de 60 anos. Esse porcentual estava dentro da média nacional (23,9%), mas abaixo da média do Sudeste (25,1%) e Sul (24,8). Estes dados são do Censo 2010 – o Censo 2020 foi postergado para 2021 justamente por conta da pandemia de Covid-19.
Outro dado relevante é que muitos idosos compartilham residência com parentes mais novos – o que poderia dificultar planos de isolamento vertical conforme a faixa etária. Segundo dados do último Censo, 13% das pessoas com mais de 60 anos no Paraná eram de alguma forma dependentes dos responsáveis pela casa – e ocupavam a condição de pai, mãe, padrasto ou madrasta; sogra (o); irmã (o); avó (ô), genro, nora ou mesmo outro parente. Esses números são semelhantes ao do restante do Brasil.
Dados como esse mostram como a velhice é múltipla e heterogênea, nas palavras da gerontóloga e arteterapeuta Cristiane Pomeranz, de São Paulo. “O idoso que vive sozinho está nessa situação por ter autonomia. Então, ele mesmo vai ter que dar um jeito de achar coisas que o preencham. Mas há outras velhices, daquele que tem demência, daquele que precisa de cuidados, que vão precisar de muito auxílio”, observa.
Municípios
A projeção populacional para o Paraná em 2020, produzida pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), mostra que 83 dos 399 municípios têm mais de 20% de idosos. A maioria dessas cidades é de pequeno porte, com menos de 10 mil habitantes. Entre os grandes centros (mais de 40 mil moradores) com maior proporção de idosos do que a média paranaense estão Cornélio Procópio (20,7%); Paranavaí e Londrina (17,9% cada); Umuarama e Maringá (17,2%); Apucarana e Ibiporã (16,9%); Cambé (16,6%), Marechal Cândido Rondon (16,5%), Curitiba (16,4%); Campo Mourão e Rolândia (16%).
Internamentos e mortes
Segundo o Datasus, em 2009 houve 879 mil internações hospitalares no Paraná, das quais 30% (271,5 mil) foram de idosos. Os problemas que mais levam essa faixa etária aos estabelecimentos de saúde foram pneumonia (8% dos internamentos), insuficiência cardíaca (6,5%), outras doenças isquêmicas do coração (6,4%) e acidente vascular cerebral (3,3%).
O quadro de doenças tem algumas mudanças quando se consideram apenas os óbitos hospitalares: de um total de 33,6 mil nos estabelecimentos do Paraná, 71,5% (ou 24 mil) foram de pessoas com mais de 60 anos. O que mais leva à morte nessa faixa etária é a septicemia (12,2% das mortes), seguida por pneumonia (11,7%), outras doenças bacterianas que causam infecção (8,1%), outras doenças do aparelho respiratório (6,8%), infarto agudo do miocárdio (2,8%), insuficiência renal (2,5%) e bronquite, enfisema e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) (2,4%).
Segundo o geriatra Vitor Pintarelli, a Covid-19 se soma a outras doenças respiratórias que sempre representam um grande risco aos idosos. “Muitas vezes são doenças subdiagnosticadas. Os idosos são de uma geração para a qual o hábito do tabagismo era mais comum do que nos dias atuais. Mesmo que tenham parado, foram tabagistas ativos ou passivos e acabaram se expondo muito a isso e, pelo efeito cumulativo, o problema se manifesta mais em idade avançada”, observa. Também há outras situações que levam ao desenvolvimento da DPOC, como uso constante do fogão a lenha. “A exposição prolongada a esse tipo de partícula acaba desenvolvendo gradualmente a DPOC, e muitas vezes a pessoa nem sabe”, observa. São casos que sempre necessitaram de leitos de UTI e respiradores, destaca o geriatra.
Sobrevivência
Para manter a qualidade de vida do idoso em tempos de isolamento social, Cristiane sugere atividades artísticas para manter a mente ativa. “A solidão é insuportável. É preciso pensar em como a gente pode se preencher, e a arte é um caminho. Tenho uma grande amiga de 80 anos, que já passou pela Segunda Guerra e agora vive essa pandemia. Ela mora sozinha e sempre estava em convívio social. De repente está sozinha na casa dela e o que a salva é a música que aos 78 anos resolveu aprender a tocar, são os livros que ela gosta de ler, são os filmes. É necessário conhecer a realidade para tomar cuidados, mas se ficar vendo televisão o dia inteiro, vai ter pânico e angústias que são muito difíceis de tratar”, analisa.
Cristiane também sugere que familiares ajudem os mais idosos a utilizarem as ferramentas tecnológicas, de forma a assistir conteúdo on-line e fazer ligações por vídeo, para ver e conversar ao vivo com as pessoas. “A gente precisa fazer essas pessoas se abrirem para isso. Não é a mesma coisa que estar junto, mas tem sido uma alternativa acolhedora. É uma maneira de repensar esse momento, nossos conceitos de vida. No Portal do Envelhecimento há muitos materiais gratuitos, aulas de arte, é preciso ir atrás de atividades”, sugere.
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