Prevendo a possibilidade de o Paraná entrar na lista de locais com transmissão comunitária do novo coronavírus - quando o patógeno já se instalou e não é mais possível rastrear a cadeia de transmissão - pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) pediam a suspensão das aulas desde a última segunda-feira (16). As universidades federais adotaram a medida no início da semana, mas as redes estadual e privada de ensino médio, por exemplo, só suspenderão totalmente as aulas a partir desta sexta-feira (20/03).
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“Pelos dados disponíveis pela Secretaria de Saúde não podemos dizer que há transmissão comunitária no estado do Paraná. Mas a gente usou o seguinte raciocínio: o fluxo de pessoas entre SP e Curitiba e Paraná é muito grande, e a cidade de SP já tem transmissão comunitária bem definida. Por isso achamos prudente assumir que aqui poderia ocorrer esse tipo de transmissão”, diz o professor Emanuel Maltempi de Souza, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR.
A suspensão das aulas se insere nas ações de distanciamento social que estão sendo apontadas como fundamentais para minimizar a disseminação da Covid-19. A distância deve ser de ao menos 1,5 metro entre uma pessoa e outra. “Nas nossas salas de aula, a distância entre os alunos é menor do que isso. Algumas salas ficam bem aglomeradas, algumas não têm janelas. Esses fatores fazem com que seria muito difícil controlar o contágio e a gente não teria o distanciamento social necessário”, diz.
O Sars-Cov-2, nome oficial do novo coronavírus, tem alta transmissibilidade. A contaminação ocorre, principalmente, por secreção nasal e saliva. “Quando a gente espirra, essas microgotas se espalham pelo ar. Podem cair na superfície, e uma pessoa não contaminada encosta ali e leva as mãos ao rosto, aos olhos, ao nariz, à boca, e está contaminado. E a gente pode evitar isso de forma simples: evitar aglomeração. Quando menos pessoas tiver no recinto, maior a distância média entre elas”, relata Maltempi . Com a distância indicada, mesmo que alguém contaminado espirre ou tussa em um ambiente, é possível evitar o contágio.
Desafio dos 75%
Para Maltempi, a dificuldade, no momento, é aplicar essa diretriz do distanciamento social em toda a sociedade: no transporte público, bares, restaurantes e todas situações onde ocorrem aglomerações. “Se a gente conseguir isolamento absoluto, o vírus de uma pessoa infectada vai provocar a doença, mas depois vai embora. A gente não conhece os parâmetros exatos desse vírus, mas há modelagens matemáticas que mostram que se a gente conseguir diminuir em até 75% a interação social que a gente tem normalmente, teremos uma diminuição em várias ordens de grandeza do espalhamento do vírus”, declara.
O pesquisador reforça que a maioria dos infectados não vai ter problemas, mas que é preciso pensar no sistema de saúde. “Em 80% dos casos, os sintomas são leves, a pessoa se cura em casa, às vezes nem percebe que tem. Mas cerca de 15% precisa de atendimento hospitalar. E para 5% será uma síndrome severa, que precisa de tratamento sofisticado. E aí temos um problema: temos um vírus com grande capacidade de disseminação, então podemos ter um número de pessoas contaminadas muito grande, de maneira que 5% será um número alto”, pondera.
“Um ponto muito importante é a responsabilidade de cada um de nós. Nós não podemos estar preocupados só com nossa saúde, a não ser que sejamos do grupo de risco. É uma questão de responsabilidade com nossa comunidade. Precisamos agir adequadamente e seguir as regras, para tentar bloquear a disseminação do vírus. Aos poucos, a imunidade das pessoas vai subir, pelo contato com ele, mas sem sobrecarregar o sistema público”, acrescenta o pesquisador da UFPR.
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