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Manifestantes à frente da Igreja do Rosário, antes da invasão.
Manifestantes à frente da Igreja do Rosário, antes da invasão.| Foto: Reprodução/Instagram

A invasão da Igreja Nossa Senhora do Rosário, na tarde do último sábado (5), liderada pelo vereador Renato Freitas (PT) gerou uma onda de manifestações contrárias - no Paraná e em todo o Brasil - por parte de políticos, entidades civis, religiosas e até mesmo de movimentos de esquerda. Além de notas de repúdio, houve também pedidos de cassação do mandato do vereador e de responsabilização criminal dos envolvidos na ação.

Na ocasião, dezenas de manifestantes, com bandeiras do PT e do PCB, invadiram a igreja gritando palavras como “racistas” e “fascistas” antes e durante a invasão. O ato havia sido organizado como protesto contra o racismo em razão do assassinato do congolês Moïse Mugenyi, ocorrido no Rio de Janeiro.

Na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), Renato Freitas foi muito criticado pela maioria dos vereadores. Durante o dia, três pedidos de cassação do mandato do petista foram feitos, sob palavras bastante duras dos parlamentares.

Entre os que fizeram questão de se posicionar sobre o tumulto do último sábado estava o vereador Ezequias Barros (PMB), que classificou como “inacreditável” a postura do colega. “No último processo administrativo, ofendeu pastores e desrespeitou evangélicos. Agora está invadindo igrejas e interrompendo cultos. Qual o limite para o vereador petista?”, questionou, lembrando que Freitas já tinha sido protagonista de outras situações polêmicas, inclusive envolvendo assuntos religiosos.

Indiara Barbosa (Novo), outra representante do Legislativo municipal, repudiou a invasão e endossou o movimento interno na Casa de discutir a cassação do mandato do petista. “O caso foi discutido no plenário hoje [segunda-feira] e deve ser pautado no Conselho de ética da Câmara Municipal de Curitiba. O racismo deve ser combatido, mas não com ataques à Igreja e desrespeito às pessoas que estão professando sua fé”, disse, em postagem nas redes sociais.

O mesmo tom de indignação permeou outras falas, como a do vereador Denian Couto (Podemos). Ele classificou o ato como inaceitável. “Militantes de esquerda, sob o comando do Partido dos Trabalhadores, tomaram a igreja e atrapalharam o momento de oração, de culto, de celebração religiosa. Os locais de culto gozam de proteção no texto máximo da República, e a liberdade religiosa é um direito fundamental inatacável”, declarou em vídeo divulgado nas redes sociais.

A revolta com a cena de manifestantes invadindo a Igreja do Rosário não se restringiu à Câmara Municipal. Políticos de outras esferas também foram às redes sociais e aos meios de comunicação expressar seus sentimentos com o ocorrido.

O secretário estadual de Justiça, Família e Trabalho, Ney Leprevost, encaminhou à Polícia Civil um expediente formal para que a invasão da igreja seja investigada pela Polícia Civil. “Interromperam a missa, assustaram as velhinhas que rezavam, hastearam a bandeira do Partido Comunista, calaram o padre, subiram no altar e fizeram discursos políticos, inclusive contra a própria Igreja Católica. Isto é um absurdo, fere gravemente a Constituição Federal”, declarou.

O senador Flávio Arns (REDE), por sua vez, publicou em suas redes sociais uma nota onde se solidariza às manifestações da Arquidiocese de Curitiba. “Um ato em defesa da vida não deveria se converter em um ato de desrespeito e intolerância. Concordo plenamente com as palavras de nosso arcebispo, Dom Peruzzo: confrontos não constroem a paz”, pontuou.

Assessor especial para Assuntos Internacionais da presidência da República, Filipe Martins postou uma nota no Twitter afirmando que “os símbolos empunhados durante a invasão da igreja em Curitiba na tarde de ontem [sábado] são uma lembrança de que o ataque ao Cristianismo é regra e não exceção na conduta comunista, ideologia que assassinou milhões de cristãos ao redor do mundo e que os persegue até os dias de hoje”.

“A Igreja Católica tem papel fundamental na construção do Brasil, na construção da cultura ocidental, e o pretexto antirracista é na verdade uma motivação anticristã. Isso não pode ser visto como normal. O ódio ao cristianismo não é ódio do bem”, afirmou o deputado federal Paulo Eduardo Martins, do PSC do Paraná.

Também com muita convicção, o deputado federal Luizão Goulart, do Republicanos do Paraná, classificou o ato como desrespeitoso e reprovável - e pediu que as autoridades não deixem o caso sem uma resposta legal. “O direito de se manifestar é absolutamente democrático. Mas a maneira como isso se fez, na Igreja Nossa Senhora do Rosário, é lastimável. Assim como espero respostas da Justiça nos casos de Moïse e Durval [negros assassinados que originaram o protesto de sábado], também espero que a lei se cumpra diante desta invasão”, disse.

Em manifestação na Assembleia Legislativa do Paraná, o deputado Homero Marchese (PROS) afirmou que, ao invadirem a igreja, os manifestantes atacaram o “berço da proteção dos Direitos Humanos na nossa civilização”. “Sob o pretexto de protestarem contra a intolerância, os manifestantes deram uma aula de intolerância eles mesmos, em um ato preconceituoso, cheio de ódio contra a fé de milhões de brasileiros”, comentou.

Entidades e instituições também divulgaram notas lamentando a invasão e cobrando que os envolvidos sejam punidos de modo exemplar. Como evidenciou o Instituto Democracia e Liberdade (IDL) em seu posicionamento. A entidade, formada por empresários e profissionais em defesa da democracia, foi contundente. “Manifestantes profanaram um culto religioso, ao invadirem a igreja com dezenas de manifestantes gritando palavras de ordem, promovendo a desordem. É preciso punição exemplar, para que coisas do tipo não se reproduzam”, disse o presidente do instituto, Edson José Ramon.

De acordo com o artigo 208 do Código Penal brasileiro, escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso; ou ainda "impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso", como fizeram os manifestantes em Curitiba, são considerados crimes contra o sentimento religioso. A pena prevista é de detenção de um mês a um ano, ou ainda pagamento de multa. Quando há emprego de violência, a pena pode ser aumentada em um terço.

A Comissão de Cidadania e Assuntos Políticos da Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Estado do Paraná (Cieadep) chamou os invasores de “turba de baderneiros” em nota oficial divulgada nas redes sociais da entidade. “Não nos calaremos enquanto nossos princípios, nosso credo ou mesmo nossa fé forem afrontados por qualquer ideologia, partido ou agente público, que tente de forma vil impedir a mensagem do Evangelho de Cristo”, afirmou a instituição.

Já a Associação de Editores Cristãos (Asec) divulgou nota contra o que chamou de “atos de intolerância religiosa”. "Era no mesmo horário da celebração da Missa, que foi abruptamente interrompida. Solicitados a não tumultuar o momento litúrgico, lideranças do grupo instaram a comportamentos invasivos, desrespeitosos e grosserias, comandados por um vereador da cidade de Curitiba [Renato Freitas], infringindo o artigo 208 do Código Penal Brasileiro", diz trecho da carta, assinada pelo pastor Elton Melo, presidente da Asec. A entidade ainda pede que a Câmara de Curitiba adote “as medidas cabíveis ao decoro parlamentar” para “evitar que tais atos antidemocráticos e abusivos contra a fé possam continuar ocorrendo”.

Até mesmo um movimento do Partido Democrático Trabalhista (PDT) se posicionou contra a invasão da igreja. Em nota, a Executiva Nacional dos Cristãos Trabalhistas repudiou as ações finais da manifestação. “É extremamente lamentável que um protesto legítimo, respaldado por ampla e justa indignação popular, tenha culminado em um desentendimento com a liderança da paróquia e em atos de flagrante desrespeito e vilipêndio a local de culto”, reforça o texto.

Os diretórios do Partido dos Trabalhadores do Paraná e de Curitiba divulgaram nota conjunta, no final da tarde desta segunda-feira (7). No documento, não defendeu o vereador da sigla. O texto se concentra em destacar que o partido “não participou da decisão momentânea de adentrar o templo religioso, assim como não fazia parte da coordenação do ato”.

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