• Carregando...
Distribuição de ivermectina no Ginásio Albertina Salmon, em Paranaguá
Distribuição de ivermectina no Ginásio Albertina Salmon, em Paranaguá| Foto: Divulgação/Prefeitura de Paranaguá

Único município do estado a adotar a distribuição de ivermectina para toda a população como estratégia de prevenção à Covid-19, o município de Paranaguá, no litoral paranaense, registra, um mês depois do início da distribuição do medicamento, crescimento nos números semelhantes à da média do estado. No período de distribuição do medicamento, até agora, o número de casos e de mortes mais do que dobrou na cidade, no mesmo ritmo do crescimento estadual. No entanto, segundo a prefeitura, o remédio pode ter sido decisivo para inibir a replicação do vírus e diminuir em até 50% os casos de agravamento da doença e internações.

As principais notícias do Paraná no seu whatsapp

A ivermectina é um vermífugo, já distribuído no Sistema Único de Saúde para o tratamento de piolho e sarna. Em laboratório, o vermífugo conseguiu conter a atividade viral do coronavírus, mas sua eficácia não foi comprovada nas pesquisas clínicas (testes em humanos). Apesar de não haver evidência científica de sua eficiência, grupos de médicos no Brasil e no mundo têm feito uso do medicamento nas primeiras fases da doença e se baseiam em estudos empíricos para pleitear sua adoção em protocolos de saúde pública. Paranaguá adotou o protocolo e vem distribuindo o medicamento a toda a população, após adquirir 352 mil caixas da droga, num investimento de cerca de R$ 3 milhões. A compra é alvo de procedimento do Tribunal de Contas do Estado.

Em 17 de julho, quando iniciou a distribuição em massa da droga, Paranaguá tinha 1.403 casos confirmados de Covid-19 e 30 mortes pela doença. No boletim epidemiológico da última terça-feira (18), o município tinha 2.896 casos e 66 mortes. O número de casos cresceu 106% no período, enquanto o de mortes, 130%.

A curva de crescimento da Covid-19 em Paranaguá é praticamente idêntica ao do restante do estado, que não adotou o controverso protocolo de tratamento preventivo. No Paraná, em 17 de julho, eram 50.761 casos e 1.273 mortes pela doença. Na última terça-feira, o estado chegou a 107.016 casos e 2.751 mortes – um crescimento de 110% no número de casos e de 116% nos óbitos.

Prefeitura diz ter resultados positivos para o uso da ivermectina

A Prefeitura Municipal de Paranaguá informou que, até a tarde desta quarta-feira, foram distribuídos 877.370 comprimidos de ivermectina, a 57.628 pessoas (a população da cidade é de cerca de 155 mi habitantes). Quem busca um dos espaços de distribuição passa por um cadastro, triagem com a equipe de profissionais de saúde, pelo médico que prescreverá o medicamento e depois, receberá a ivermectina de acordo com o prescrito. Atualmente, a dispensação está ocorrendo para pessoas com idade acima dos cinco anos e peso superior a 15 quilos.

Citando ainda não haver data para encerramento da distribuição, a prefeitura diz ter uma avaliação positiva dos primeiros 30 dias. “Levantamento de dados apresenta que houve queda na busca por atendimentos nos pontos de referência em atendimento a casos suspeitos e confirmados da Covid-19. No Hospital de Campanha, unidade de Saúde Rodrigo Gomes, na Ilha dos Valadares e na Unidade de Saúde na Serraria do Rocha, ocorreu diminuição em média de 50% no número de atendimentos e encaminhamento de pacientes aos hospitais. Conforme informações do Hospital Regional do Litoral e Hospital Paranaguá também houve redução no número de internamentos por Covid-19”, diz a prefeitura, em respostas por e-mail encaminhada à reportagem.

A prefeitura de Paranaguá argumenta que os dados do boletim epidemiológico não são adequados para mensurar o sucesso ou o fracasso do uso do medicamento ivermectina na profilaxia a Covid-19. “O casos de contaminação viral realmente aumentaram , porque estamos ainda com carga viral suficiente para transmissão viral e não foram infectadas tantas pessoas que permita a ‘imunização de manada’, quando o percentual de recuperados e portanto com imunidade ao vírus é suficiente para que a transmissão da doença não se faça presente de forma impactante na comunidade”, alega.

A prefeitura reforça que o uso da ivermectina não propõe o combate ao vírus, mas sim a inibição de receptores do núcleo celular do hospedeiro, que são usados pelo SarsCov 2 para ingressar no núcleo celular. “Tendo esse ingresso negado o vírus não consegue fazer a replicação viral, impedindo em determinadas circunstancias que exista o agravamento do quadro da doença”. A prefeitura sustenta, assim, que o correto é comparar nas datas adequadas se houve redução da internação de casos relacionados à doença. “Sob esse aspecto, no mesmo período houve redução de 50% (em média) das internações no hospital público regional, no hospital privado e no hospital de campanha gerenciado pelo município”.

Quanto à quantidade de óbitos, a prefeitura alega que, de todos os óbitos registrados no período somente um paciente recebeu ivermectina.

TCE abre processo que pode responsabilizar prefeito e secretária de saúde por gasto sem justificativa

O Tribunal se Contas do Estado (TCE) abriu procedimento de Tomadas de Contas Extraordinária contra o prefeito de Paranaguá, Marcelo Roque, e a secretária municipal de Saúde, Lígia Cordeiro, pela realização de despesa sem motivação legítima, com dispensa de licitação, na compra das caixas de ivermectina. Nesta quarta-feira (19), o conselheiro Ivan Bonilha foi sorteado como relator do processo.

Assim que noticiada a aquisição dos medicamentos pela prefeitura, o Tribunal de Contas abriu procedimento para acompanhar a situação. O tribunal encaminhou Apontamento Preliminar de Acompanhamento ao município, recomendando que fosse interrompida a distribuição da ivermectina à população para evitar a abertura de processo. A prefeitura respondeu ao comunicado com suas alegações para manter a distribuição. A resposta foi considerada insuficiente pelo tribunal que, diante da continuação do fornecimento do remédio, decidiu abrir o processo. “Dessa forma, apurados indícios de dano ao Erário, a insuficiência do esclarecimento prestado, a não correção da ilegalidade identificada, e tendo em vista a urgência na atuação efetiva desta Corte para sua atenuação, propõe-se a instauração de Tomada de Contas Extraordinária”, sustentam os auditores.

Atualização

A matéria foi atualizada às 11h do dia 20 de agosto, após contato da Prefeitura de Paranaguá com novas observações acerca dos números de casos e óbitos constantes no boletim epidemiológico e sua relação com o tratamento preventivo ofertado pelo município.

Atualizado em 21/08/2020 às 10:34
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]