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Vacinação da Covid-19 no Parque Barigui em Curitiba.
Vacinação da Covid-19 no Parque Barigui em Curitiba.| Foto: Lineu Filho /Tribuna do Paraná

O grande número de pessoas vacinadas em Curitiba fora de suas datas na terça-feira (7) levou a prefeitura de Curitiba a mudar a regra para imunização da Covid-19 na repescagem. Com suspeita de que as pessoas estão tentando escolher a marca da vacina com a qual serão imunizadas, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) suspendeu a repescagem nesta quarta-feira (7) e anunciou que daqui por diante haverá dias específicos para as pessoas se vacinarem fora de suas datas conforme o quantitativo de doses enviadas para a capital.

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Das 23,5 mil pessoas vacinadas terça-feira, 8 mil não eram da faixa etária de 42 anos, o grupo do dia. Ou seja, 34% dos curitibanos vacinados terça-feira já poderiam estar imunizados antes com a primeira dose se tivessem procurado os postos de saúde no dia correto em que sua idade foi agendada. Decisão de postergação que é criticada tanto no aspecto ético quanto no epidemiológico.

Coordenador do mestrado em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o teólogo Mário Antônio Sanches afirma que todo cidadão tem a obrigação moral de se vacinar o quanto antes. "É imoral a pessoa não se vacinar, porque vacinada a pessoa se protege e protege o outro da doença, mesmo que nem o estado e nem ninguém deva forçar uma pessoa a se vacinar", enfatiza o teólogo. "Entrar em questões ideológicas ou religiosas na vacinação é um equívoco, bioeticamente falando. Temos que confiar nos processos da ciência, que deve se regular pela academia, não por manifestações políticas ou falas de líderes religiosos", aponta.

No caso de quem posterga a vacinação alegando que uma determinada marca pode causar efeitos colaterais maiores do que outra, Sanches enfatiza que quem pode dar essa orientação são apenas as autoridades sanitárias ou mesmo o médico que atende a pessoa. "Se uma pessoa afirma querer tomar uma determinada vacina porque pode agravar seu problema de saúde está errada. Quem tem que dar esse parecer é o médico. A pessoa não pode se fiar em boatos, coisas de WhatsApp", argumenta o coordenador do mestrado de Bioética da PUCPR.

Vacinas são eficazes e seguras

No campo médico, os infectologistas garantem que todas as vacinas aplicadas no Brasil são não só eficazes contra a Covid-19 como seguras. "Autorizar o uso de vacinas no país demanda muitas exigências, portanto, as pessoas podem confiar nas que temos", atesta a médica Mônica Gomes, professora do Departamento de Infectologia do curso de medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

"Nenhuma vacina é ineficiente, ao ponto de não tomarmos. Senão a Anvisa não teria autorizado e o Ministério da Saúde não estaria distribuindo para imunização", ressalta a infectologista que também coordena o estudo clínico no Hospital de Clínicas (HC) do medicamento Molnupiravir, antiviral do laboratório americano Merck que está sendo testado na cura de pacientes com Covid-19 no Brail.

Segundo Mônica, o risco para quem posterga a vacinação é não só individual, mas também coletivo. No campo individual, o risco é de a pessoa se contaminar pelo coronavírus enquanto espera a dose do laboratório que deseja, com possibilidade de a doença se agravar. No lado coletivo, Curitiba e o país como um todo precisa vacinar o maior número de pessoas o mais rápido possível para quebrar a circulação do coronavírus. "Quanto mais as pessoas atrasarem a vacinação, mais tempo a gente vai levar para sair da pandemia e voltar à vida normal", explica a médica do HC em termos epidemiológicos.

A infectologista da UFPR reforça que no Brasil não é hora de se postergar a vacinação e nem de escolher a dose. "Não estamos na situação dos Estados Unidos, onde as pessoas podem sim escolher a marca porque tem sobra de vacinas. Temos que ter qualquer uma das vacinas autorizadas no braço o mais rápido possível para controlar a pandemia", aponta.

Paciente que recusou vacina acabou intubado

Mesma opinião da também médica infectologista Camila Lopes Ahrens, do Hospital Marcelino Champagnat de Curitiba. "Não tem sentido escolher. Todas as vacinas são seguras e capazes de proteger da forma grave da Covid-19", defende. "Além do tempo em que vai ficar desprotegido à espera da vacina, a pessoa que escolher a marca também vai começar a produzir anticorpos depois do que se já tivesse se imunizado antes", explica Camila.

A infectologista afirma que não chegou a atender nenhum paciente que se infectou enquanto esperava a marca da vacina. Porém, atendeu vários que não quiseram se imunizar com nenhuma das vacinas disponíveis. "Semana passada mesmo quase tive que intubar um paciente de 70 anos que se negou a se vacinar. A pessoa pensa que tomando uma decisão dessa vai atingir apenas ela mesma, mas acaba expondo à família dela ao risco de contaminação e toda a sociedade", diz a médica do Marcelino Champagnat.

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