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Agronegócio lamenta morte de Herbert Bartz, pioneiro do plantio direto
Herbert Bartz inspirou outros agricultores a criarem o “clube da minhoca”, que depois se transformaria numa associação nacional de apoio ao plantio direto| Foto: Divulgação / Federação Brasileira de Plantio Direto

Uma pneumonia levou neste início de ano Herbert Bartz, de 83 anos, o pioneiro da técnica do sistema de plantio direto no Brasil. O cultivo feito diretamente sobre a palha ou restos da plantação anterior, sem revolver o solo com grades e arados, é adotado hoje em três de cada quatro lavouras de grãos e, ano a ano, evita que milhões de toneladas de solo sejam carreadas para os rios pela erosão.

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Quando trouxe a técnica ao Brasil após uma viagem aos EUA, no início dos anos 70, Bartz chegou a ser apelidado pelos vizinhos de “alemão louco”. De tão estranho que era o novo jeito de plantar, a primeira safra acabou confiscada pela Polícia Federal. Atualmente, a situação se inverteu. “O agricultor que hoje não faz plantio direto é considerado mentalmente duvidoso, não é?”, brincou Bartz em entrevista concedida à Gazeta do Povo, em abril de 2018.

Herbert Bartz nasceu em Rio do Sul (SC), mas viveu boa parte da infância e adolescência na Alemanha, onde, aos 8 anos, sobreviveu ao bombardeio da cidade de Dresden durante a II Guerra Mundial. A família voltou ao Brasil em 1960, se radicando em Rolândia, no Paraná. Ainda como um jovem agricultor, ao testemunhar uma chuva forte arrastando quase toda a terra da propriedade, Bartz se convenceu de que precisava descobrir uma forma de conter a erosão. Como os agricultores de outros países enfrentavam o problema? Decidiu viajar para ver. E procurou em vão na Europa, na Alemanha e Inglaterra, até que, finalmente, o destino o levou a Kentucky, nos Estados Unidos, à propriedade do agricultor Harry Young Jr. “Lá vi a plantadeira cortando o capim e já colocando o adubo e a semente. Ao lado tinha uma lavoura na altura dos joelhos e outra emergindo. Ver esse potencial fantástico, para mim, foi uma revelação. Daquele momento em diante fiquei em estado de graça, por que estavam resolvidos os meus problemas”, lembrou mais tarde Bartz.

O resto é história, que está retratada no livro “O Brasil possível: a biografia de Herbert Bartz” (240 páginas, edição do autor), de Wilhan Santin. Em nenhum outro país o Sistema de Plantio Direto, que envolve também rotação de culturas, foi tão amplamente adotado como no Brasil (cerca de 30 milhões de hectares), devido ao clima tropical, chuvas torrenciais e plantios sucessivos.

Morte de Bartz é lamentada pelo ex-ministro Maggi

A morte do agricultor que vivia em Rolândia (PR) repercutiu nacionalmente. O ex-ministro da agricultura, Blairo Maggi se manifestou nas redes sociais. “Quando era estudante de agronomia, tive oportunidade de conhecer suas experiências em campo. Herbert foi o pioneiro da introdução desse sistema aqui no Brasil e revolucionou a agricultura brasileira e mundial. Sua história é inspiradora e será sempre lembrada com um verdadeiro legado para o agronegócio! Que Deus conforte a todos”.

O secretário de Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara disse que “a contribuição de Herbert Bartz para a agricultura brasileira e, particularmente, para a paranaense é inestimável”. “Seu pioneirismo no plantio direto fará com que o sonho de produzir alimentos em abundância e com qualidade, que ele transformou em realidade, continue se concretizando por muitos e muitos anos”.

Outras entidades ligadas a agricultura e ao agronegócio no estado também lamentaram a morte de Hebert Bartz. Segundo o presidente do Sistema Faep (Federação da Agricultura do Paraná), Ágide Meneghette, o produtor foi “um dos agricultores mais importantes para o desenvolvimento do nosso Estado”. “Sua atitude de tomar a iniciativa para resolver os problemas de erosão e sua generosidade em compartilhar conhecimento estarão sempre na história. É um exemplo inspirador que vai atravessar gerações”, destacou.

O presidente do Sistema Ocepar, que representa as cooperativas do Paraná, José Roberto Ricken, também lamentou a morte do agricultor. Ricken disse que “a história de Bartz converge com o desenvolvimento desta importante tecnologia, que é o sistema de plantio direto na palha, e que muito contribuiu para que nossa agricultura se tornasse referência nesta prática conservacionista. Juntamente com os produtores Manoel Henrique Pereira, o Nonô Pereira, e Franke Dijkstra, foi um dos pioneiros na difusão desta importante prática no mundo”, lembrou. A Federação das Associações Comerciais do Paraná, também se manifestou. Segundo Fernando Moraes, presidente da Faciap, “o Brasil perdeu um revolucionário da agricultura, um homem que quebrou tabu, assustou a vizinhança com sua ousadia ao introduzir a revolucionária técnica do plantio direto na lavoura, em plena década de 70. Herbert Arnold Bartz nos deixa o legado da importância de fazer diferente, de inovar e de romper os velhos conceitos, com determinação e coragem”.

Herbert Bartz morreu no dia 29 de janeiro, em Rolândia. Deixa a esposa Luíza, a filha Marie e o filho Johann Bartz.

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