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Pandemia de gripe suína, em 2009, deixou o estado do Paraná sob alerta.
Pandemia de gripe suína, em 2009, deixou o estado do Paraná sob alerta.| Foto: Daniel Castellano/Arquivo/Gazeta do Povo

A chegada do novo coronavírus ao Paraná nesta semana elevou a preocupação da população para evitar um possível contágio pelo vírus. No momento, apenas casos importados foram confirmados no estado e as autoridades não recomendam a restrição do fluxo de pessoas ou a suspensão de aulas, por exemplo.

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Caso o Covid-19 se prolifere nas próximas semanas, como já admitiu o Ministério da Saúde, o Paraná – principalmente a capital e as regiões ao Sul – deve ter um adversário extra no combate ao avanço da doença: o frio. Com a chegada do outono e do inverno, tradicionalmente aumenta a frequência das viroses respiratórias, seja do novo coronavírus ou de outros.

Foi assim há 11 anos, quando a pandemia da gripe suína (influenza A H1N1) chegou ao estado dias antes do início oficial do inverno e o afetou mais do que às demais regiões do país. O primeiro caso confirmado no Paraná foi no dia 19 de junho, quase um mês e meio depois da chegada ao país e mais de dois meses do primeiro caso mundial, no México. A primeira morte no estado aconteceu pouco mais de um mês depois, em 21 de julho.

O avanço foi rápido e em 45 dias o estado já tinha 201 mortes, apenas atrás de São Paulo (236), mas com taxa de mortalidade maior. Os dois estados concentravam mais de 63% das mortes do país (687) à época. Com a chegada da primavera e verão, além de medidas para conter o surto para frear o contágio, o influenza H1N1 perdeu força. Perto do fim de fevereiro de 2010, dias antes da aplicação da vacina contra o vírus (em março), eram 294 mortes no estado.

"Quando começou, junto com o inverno, teve intensidade e desdobramento grande. Recordo que Curitiba, por ter menos insolação e temperaturas baixas, teve grande incidência de casos comparada a outra capitais", diz o médico sanitarista Gilberto Martin, secretário estadual de Saúde em 2009.

Ele diz que é difícil traçar um paralelo com o coronavírus neste momento, mas ressalta similaridades. "É uma doença viral, a forma é a mesma e o processo é parecido, começou lá fora e veio para cá. Tem características semelhantes, mas uma velocidade maior de contágio no caso de uma transmissão interna [que ainda não aconteceu]", diz.

Segundo informe divulgado nesta quinta-feira (12) pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a capacidade de contágio por cada pessoa doente pelo novo coronavírus é de 2,74. "Ou seja, uma pessoa doente com a Covid-19 transmite o vírus, em média, a outras 2,74 pessoas. Comparativamente, na pandemia de influenza H1N1 em 2009, esta taxa foi de 1,5", diz trecho.

Por que o frio facilita o contágio de infecções?

Segundo a médica infectologista da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, Marion Burger, são três questões a serem consideradas. "Primeiro: agride as vias respiratórias, o frio e tempo seco deixam a mucosa nasal ressecada, com rachaduras, perdendo sua integridade. O corpo perde a primeira defesa e cria facilidade às infecções. Segundo: é a grande circulação e o pico de diversas infecções respiratórias no período, como o próprio vírus da gripe [influenza]", segue.

"Por fim, nos meses mais frios, as pessoas ficam mais em ambientes fechados, todos juntos, agrupados e isso propicia a transmissão por gotículas como em tosses e espirros", explica. Burger também diz que diferente do vírus do sarampo, que fica suspenso no ar, o novo coronavírus (assim como o influenza) está presente nas gotículas e tem transmissibilidade menor.

Médico epidemiologista da Unimed Curitiba, Moacir Ramos, ressalta que essas condições são universais. "O inverno colaborou para os picos [do novo coronavírus] na China e Europa. A gente espera que no inverno tenha mais casos de qualquer tipo de vírus", diz.

Para o médico, ainda não é possível saber o comportamento exato do vírus (SARS-CoV-2), mas a experiência mundial mostra que o potencial de transmissibilidade e gravidade do Covid-19 é maior em idosos. "É diferente de como foi com o influenza H1N1, que também afetou crianças, adolescentes e jovens adultos", recorda.

Até o momento, segundo a SBI, nas crianças o Covid-19 "tem se apresentado de forma leve e a letalidade é próximo a zero; já no idoso, a letalidade aumenta muito. No idoso com mais de 80 anos e comorbidades, a letalidade é em torno de 15%".

Aprendizado e medidas de prevenção

Com hospitais de retaguarda e protocolos definidos em nível municipal e estadual, prática decorrente da epidemia passada, outra herança do surto de H1N1 de 2009, segundo Burger, são as medidas de prevenção que valem tanto para o influenza como para o novo coronavírus. "A etiqueta respiratória e a higienização das mãos seja com água e sabão ou álcool em gel impacta bastante [contra o contágio]. A nova geração já aprendeu a espirrar no cotovelo e não nas palmas das mãos. Mesmo parte dos mais velhos aprenderam a não usar lenço de pano. Isso faz toda diferença", enfatiza.

"Higienizar as mãos evita muita coisa; além dos vírus [citados] protege contra conjuntivite, gastroenterite", completa Ramos. Outra medida importante, de acordo com Burger, é abrir todas as janelas do ambiente a cada duas horas para fazer a troca do ar.

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