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A situação é mais crítica entre crianças de 5 a 10 anos. Das 142 mil avaliadas, 58 mil apresentaram sobrepeso
A situação é mais crítica entre crianças de 5 a 10 anos. Das 142 mil avaliadas, 58 mil apresentaram sobrepeso| Foto: Hedeson Alves/Arquivo ANPr

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), cerca de 95 mil crianças foram diagnosticadas com sobrepeso ou obesidade na rede pública do Paraná em 2021. O percentual de crianças com essas doenças crônicas cresceu neste período de pandemia do coronavírus. Houve um aumento de 53,3% de 2019 para 2021 na proporção de crianças obesas acima de 5 anos. Também houve crescimento de 30% na proporção de crianças pequenas com sobrepeso em comparação às que não apresentam a doença.

Das 142 mil crianças de 5 a 10 anos avaliadas no ano passado, cerca de 58 mil apresentaram sobrepeso, o que representa 41,4% do grupo. Além disso, 23% delas estavam com obesidade, que é o estágio mais grave do excesso de peso. Entre os que têm menos de 5 anos, os números são menores, mas igualmente preocupantes: das cerca de 213 mil crianças avaliadas, 16,7% estavam com sobrepeso e 8,8% com obesidade.

Diversos fatores levam ao sobrepeso e à obesidade

O sobrepeso e a obesidade têm origem multifatorial. Assim, diversos aspectos em conjunto levam a essas doenças. Em apenas 5% existe uma doença como causa, envolvendo aspectos genéticos ou hormonais, e em 95%, a origem está nos maus hábitos, segundo o pediatra e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Rubens Cat. "Nenhuma criança nasce obesa ou se torna obesa do dia para a noite", alerta o médico.

De acordo com ele, as principais condições para a obesidade envolvem os comportamentos das crianças, de acordo com os hábitos familiares. "Quando os pais têm obesidade, as chances do filho também ser obeso são de 80 a 90%", explica. Os principais problemas são erros alimentares e falta de atividade física. "Não adianta eu comer pizza e querer que meu filho coma alface", exemplifica o doutor.

Esses maus hábitos se tornaram mais comuns e frequentes na pandemia, conforme reforça o pediatra. Especialmente porque o Brasil foi um dos países com maior número de dias sem aulas. As crianças ficaram mais em casa, fazendo menos atividades físicas, e com mais chances de se alimentarem mal. A pandemia de coronavírus ainda trouxe uma crise econômica que dificulta o acesso a alimentos mais saudáveis por parte da população. O sobrepeso e a obesidade são mais comuns em países pobres, exatamente por causa dos alimentos ultraprocessados, que costumam ser mais baratos.

Obesidade leva a outras doenças

Crianças obesas têm grandes chances de se tornarem adultos obesos. Durante esta pandemia, tornou-se comum falar sobre os chamados "fatores de risco" para agravamento da Covid-19, mas, segundo Cat, "é importante ressaltar que a obesidade é fator de risco para todas as doenças". "As chances de uma pessoa com sobrepeso e obesidade ter formas graves de qualquer tipo de doença, necessitar internar em UTIs e falecer, são muito maiores quando comparadas às pessoas não obesas", alerta.

Além de poder levar a doenças respiratórias e cardiovasculares, a obesidade aumenta os riscos de desenvolver alterações comportamentais, depressão e ansiedade, bulimia e anorexia, principalmente devido ao prejuízo que traz à autoestima.

Mudanças de hábitos são esperadas nos próximos anos

Os alimentos ultraprocessados são prejudiciais à saúde e grandes responsáveis pela epidemia de obesidade infantil. Cat aponta que, em diversos países, já existem mudanças na legislação, determinando que haja etiquetas ou anúncios, nesses tipos de alimentos, para alertar que eles podem fazer mal à saúde, além da proibição da vinculação dos produtos a personagens infantis, por exemplo. A partir de outubro deste ano, no Brasil, já será necessário especificar nas embalagens que os produtos são ricos em calorias e gorduras.

Esse movimento deverá ser parecido com o que tivemos nas campanhas contra o tabagismo. Assim como não existem mais as antigas propagandas atraentes para venda de cigarro, é possível que a publicidade relacionada aos alimentos ultraprocessados seja muito diferente nos próximos anos.

O que previne a obesidade infantil (e adulta)

Além dos cuidados com a alimentação e com atividades físicas, o pediatra orienta sobre formas de prevenir a obesidade em crianças e em adultos. O excesso de peso e gordura corporal que vamos ter ao longo da vida começa a ser determinado quando ainda estamos sendo gerados no ventre materno.

De acordo com Cat, cerca de 60% das gestantes têm excesso de peso e isso aumenta os riscos do filho ter sobrepeso ou obesidade. Por isso, a conscientização durante o pré-natal é fundamental. Além disso, o incentivo ao aleitamento materno é importante. "Crianças que se alimentam exclusivamente de leite materno até os seis meses e mamam no peito até pelo menos os dois anos de idade têm menos chances de desenvolver obesidade e outras doenças", explica.

Outro fator importante e pouco discutido é o uso incorreto de antibióticos nos primeiros anos de vida. "Estudos europeus e americanos mostram que crianças que usaram antibiótico antes dos dois anos de idade têm 20% mais chances de desenvolver obesidade", conta o médico. Isso se deve à mudança gerada na microbiota intestinal com o uso desses medicamentos. Para evitar o excesso de antibióticos, os pais devem levar os filhos a um pediatra de confiança que avalie a necessidade de usar o medicamento. O médico especialista também será capaz de avaliar as curvas de crescimento da criança e do adolescente, para o controle das doenças que envolvem o excesso de peso.

Programas orientam famílias 

Devido ao isolamento social e ao longo período sem aulas, os fatores de risco para a obesidade infantil foram reforçados durante a pandemia de coronavírus. “É muito evidente que a pandemia impactou profundamente no comportamento das pessoas e isso, claro, reflete no excesso de peso”, explica a nutricionista e coordenadora de promoção de saúde da Sesa, Elaine Cristina de Oliveira.

Tendo ciência desse problema, a Secretaria de Estado da Saúde reforça a importância dos programas públicos que, além de levarem conhecimento para escolas e famílias, recebem as pessoas que buscam orientações sobre prevenção e tratamento da obesidade.

O programa Saúde na Escola leva informações sobre alimentação e hábitos saudáveis às escolas públicas. Já o programa Proteja atua diretamente no combate à obesidade infantil em todo o país. No Paraná, 56 municípios foram contemplados com incentivo financeiro para fomentar essas ações. Os recursos são três parcelas de R$ 31,9 milhões por ano, durante três anos, para cidades de até 30 mil habitantes que registraram excesso de peso em mais de 15% das crianças menores de 10 anos.

“Cada um tem seu papel nessa situação de obesidade. É importante que as famílias, as escolas, a comunidade e o setor público trabalhem em conjunto”, orienta a nutricionista. Ela também recomenda a leitura dos guias oficiais de alimentação e exercícios elaborados pelo Ministério da Saúde, que podem ser acessados através desses links: Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos; Guia alimentar para a população brasileira; Guia de atividade física para a população brasileira.


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