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Ala de isolamento para tratamento de crianças com Covid-19 no Hospital Pequeno Príncipe.
Ala de isolamento para tratamento de crianças com Covid-19 no Hospital Pequeno Príncipe.| Foto: Marieli Prestes / HPP

A taxa de confirmação de Covid-19 entre crianças atendidas no Hospital Pequeno Príncipe (HPP) em Curitiba nunca esteve tão alta como neste início de 2022. E a previsão da maior unidade de tratamento pediátrico do país é de que o número deva seguir subindo nos próximos dias, com muitas famílias ainda em viagem de férias. Nesta sexta-feira (28) 26 crianças estão internadas com Covid-19 no HPP - 18 na enfermaria e oito na UTI. Desde o início da pandemia, nunca o hospital teve tantos internamentos por coranavírus.

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Dos testes de casos suspeitos feitos no HPP de 1° de janeiro até esta sexta-feira (28), 42,31% deram positivo para coronavírus. Ou seja: a cada 100 pacientes infantis com sintomas respiratórios atendidos no HPP, 42 estão com Covid-19. Em 2020, essa mesma taxa foi praticamente a metade da atual: 19,3%. Ao longo de 2021, pico da crise sanitária no Brasil, o número foi ainda menor. De todas as crianças testadas no Pequeno Príncipe ano passado, apenas 16,86% positivavam para coronavírus.

Em menos de um mês em janeiro, o HPP já confirmou 520 crianças com Covid-19. Em apenas 28 dias, o ano de 2022 já está próximo de alcançar a marca de um terço do total de 1.295 casos registrados no hospital ao longo de todo o ano de 2021. Se comparados ao primeiro ano da crise sanitária, as infecções nesses 28 dias de 2022 já estão perto do dobro das 311 confirmações no HPP entre março e dezembro de 2020.

"Estamos vivendo uma avalanche de casos pediátricos de Covid que a gente não viu até aqui na pandemia", enfatiza o diretor técnico do Pequeno Príncipe, o médico infectologista pediátrico Victor Horácio de Souza Costa Junior. "O quadro é preocupante, mas ao mesmo tempo era esperado dentro da conjunção de fatores que são aglomerações de Natal, ano novo, férias escolares, mais o fato de as crianças ainda não estarem vacinadas e a circulação da cepa ômicron, que é tão agressiva quanto o sarampo, uma das doenças mais transmissíveis na pediatria", avalia o médico.

Segundo Victor, a maioria dos pais ficam assustados mas também compreendem que o cenário contribuiu para a contaminação dos filhos. "Estamos observando muitas famílias inteiras infectadas que voltaram de viagem, que foram para a praia e outros locais, em que o pai e as mãe estão bem porque se vacinaram, enquanto que a criança está internada", ressalta o diretor técnico do HPP.

Por isso, enfatiza o infectologista pediátrico, é fundamental que os pais vacinem as crianças assim que forem convocadas conforme a idade. Nesta sexta-feira, a prefeitura de Curitiba teve de suspender a imunização infantil pelo grande volume de crianças levadas aos postos pelos pais nos dias anteriores para se vacinar na respescagem. Só entre quarta (26) e quinta-feira (27), cerca de 4,4 mil crianças que já deveriam estar com a primeira dose aplicada foram levadas às unidades de saúde para se imunizar fora do cronograma.

"Às famílias que estão passando férias fora de casa, recomendo que levem seus filhos para vacinar assim que forem convocadas pela idade, seja no local onde estão, se for possível, ou mesmo que retornem para onde moram para fazer isso. Não deixem a vacina das crianças para depois", enfatiza o médico. "O que preocupa é que as crianças ainda estão de férias, muitas ainda viajando com a família. Portanto, a gente acredita que esse número de casos ainda vai aumentar", alerta o pediatra.

Covid mais grave e sequelas nas crianças

Além da quantidade, o Hospital Pequeno Príncipe também tem observado aumento na intensidade da própria doença e das sequelas da Covid-19 no público pediátrico.

Segundo Victor, nos bebês de até 1 ano, a doença tem gerado quadro respiratório e inflamação do músculo cardíaco, a miocardite. Nas crianças mais velhas, o quadro tem sido principalmente de síndrome respiratória e problemas gastrointestinais.

Já nas crianças com comorbidades, a Covid-19 vem causando descompensação da doença de base, como em pacientes com doenças cardíacas, diabetes, síndrome de down, câncer, entre outras. "Antes era mais comprometimento pulmonar. Agora, em uma criança com paralisia cerebral, por exemplo, a Covid não está lesando o coração ou pulmão, está descompensando as crises convulsivas", explica.

Por isso, desde o início da pandemia o Pequeno Príncipe vem acompanhando as sequelas das crianças que se curaram da Covid. Segundo o diretor técnico do hospital, a principal sequela são as miocardites, que chegam a atingir 30% das crianças infectadas.

"Em alguns casos, essa situação é transitória. Em outros, o quadro leva mais tempo, com seis meses e até um ano", atesta o médico. "A Covid é grave não só no período em que você está contaminado, mas também depois. O pós-Covid tem gerado crianças com enxaqueca, depressão, insônia, ansiedade, neuropatias periféricas, como adormecimento das mãos ou pés", aponta o pediatra.

Estudo do Hospital das Clínicas de São Paulo mostra que 43% das crianças sofrem efeitos da Covid-19 até três meses após a infecção ser curada. Entre as sequelas constatadas pelo estudo com 53 crianças e adolescentes entre 8 e 18 anos, 19% tinham dor de cabeça, 9% cansaço, 8% dispneia, 4% dificuldade de concentração e 4% dores articulares e má qualidade do sono. O estudo do HC paulista foi publicado na revista científica Clinics.

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