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Carlos Valter Martins Pedro (esq.), novo presidente da Fiep, ao lado de Edson Campagnolo, que comandou a Federação de 2011 para cá.
Carlos Valter Martins Pedro (esq.), novo presidente da Fiep, ao lado de Edson Campagnolo, que comandou a Federação de 2011 para cá.| Foto: Gelson Bampi/Fiep

Desde a noite desta segunda-feira (30), a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) tem um novo presidente. Carlos Valter Martins Pedro assume o comando da importante federação, responsável por gerir um orçamento na casa dos R$ 800 milhões e ditar os rumos que poderão tornar o setor no estado competitivo em nível mundial.

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Embora tenha formalizado a troca de comando apenas às 19h30, seu primeiro compromisso oficial ocorreu à tarde, na cerimônia de inauguração da ampliação do Instituto Senai de Inovação em Eletroquímica. O empreendimento de 26 mil metros quadrados no Jardim Botânico, onde funciona a sede principal da Fiep, tem 14 laboratórios e diversas áreas de pesquisa e estudo para futuros profissionais de segmentos como óleo e gás, energia e construção civil.

A inauguração ainda é sob o comando de Edson Campagnolo, de quem Martins Pedro recebe o bastão. Mas, será em sua gestão, que segue até 2023, que o setor terá de funcionar a plenos pulmões. E mais, em sua gestão é que a entidade precisará encarar o desafio de emplacar pautas de desburocratização, investimentos em infraestrutura e fomento de negócios que tanto lhe são caros.

A Gazeta do Povo conversou com o novo presidente sobre os rumos da Federação e como a indústria paranaense pode aproveitar a conjuntura nacional de reformas estruturais para ganhar em competitividade:

Gazeta do Povo: A eleição para presidência da Fiep, em agosto, foi conturbada. Ela chegou a ter um episódio judicial, com uma liminar que obrigou a entidade a analisar recurso sobre impugnação de votos. A Assembleia não aceitou o recurso e sua vitória foi mantida. Qual é sua leitura desta disputa acirrada?

Martins Pedro: A participação de 100% dos sindicatos na eleição e na Assembleia [que analisou o recurso] mostra a força, a importância da nossa entidade. É isso que a gente tem que verificar. Todo esse envolvimento em uma disputa pela condução da Casa valoriza a própria Casa. Eu olho dessa forma: vencemos uma eleição disputada, mas uma eleição para uma entidade que representa a indústria de todo o Paraná. Vamos buscar a união. Vamos buscar a boa representação da Fiep na defesa dos interesses da indústria e melhoria dos serviços prestados.

Como será a identidade da Fiep em sua gestão?

Nós temos que focar em dois pilares que eu julgo básicos: a defesa dos interesses da indústria e a fomentação de mais negócios. Ajudar em  formatos de negócios para nossa indústria, tanto em eventos específicos, tecnológicos, como em participações em exposições e rodadas de negócios. A Fiep vai focar em negócios e na defesa dos interesses industriais.

O ministro da economia, Paulo Guedes, moderou seu discurso de corte brusco nas contribuições que as empresas fazem para o Sistema S. Ainda assim, parece ser provável uma redução na alíquota repassada a entidades como Senai e Sesi [as empresas do segmento têm em folha de pagamento uma contribuição para o serviços de aprendizagem industrial]. O quanto isso impacta no trabalho da Fiep, que depende desses repasses?

Para minorar os custos do emprego, da mão de obra, o ministro quer fazer essa redução. Nós precisamos avaliar a questão custo-benefício. O que eu deixo de prestar em formação profissional, em saúde e segurança do trabalhador, em troca deste percentual ainda tão pequeno. Talvez fomentar ainda mais a ação destas casas [Sesi e Senai] e qualificar a mão de obra seja mais efetivo para a indústria e o Brasil. Somos absolutamente favoráveis a essas baixas dos custos que temos, indiretamente, na formação do nosso preço do produto. O nosso Sistema contribui e atua para que isso seja conquistado pela equipe econômica. Mas nós precisamos verificar a relação custo-benefício das ações [propostas em nível federal].

Qual é o cenário de competitividade da indústria paranaense?

Nossa indústria é diversificada, forte, técnica. A dificuldade que nós temos é a de quando se sai da porta para fora. Temos essa situação de ter custos indiretos na nossa infraestrutura. Até para exportação nós temos custo. A questão não é só dos tributos indiretos sobre a mão de obra, mas também na logística. A logística no Brasil é deficitária e automaticamente encarece os produtos. É lastimável nós vermos o país mais avançado do mundo vendendo produtos muito mais baratos dos que os nossos. Chegamos ao absurdo de ver sacoleiros indo aos Estados Unidos comprar produtos mais baratos do que os nossos. Há uma distorção nisso. Tem um erro. A formatação do nosso imposto está em cima do produto. Isso precisa ser mudado. Precisamos ter uma ampliação da base de arrecadação para que não fique tão oneroso fabricar aqui no Brasil.

Você declarou, ainda na eleição, as normas reguladoras como um empecilho para o desenvolvimento econômico industrial. Eliminá-las não torna a indústria menos segura?

Claro que nós temos que proteger a segurança e a saúde do nosso trabalhador. Mas tem normas que reduzem e muito a produtividade sem serem efetivas na qualidade [das condições de trabalho]. Automaticamente, cria-se custos para promover esse controle [de segurança] sem resultados. Então esse excesso de regulamentação precisa ser revisto. Para se ter uma ideia, uma produção de uma indústria europeia ou japonesa às vezes não contempla todos os quesitos pedidos para a indústria brasileira. Mas é um absurdo dizer que estamos mais seguros [do que Europa e Japão]. Nós estamos, sim, mais burocráticos.

O novo cenário político-econômico nacional te inspira confiança?

O caminho que o governo federal e sua equipe econômica estão tomando é o correto. Precisamos de mudanças estruturais. Nós temos uma situação quase infame de controle sobre os impostos para [uma indústria] entregar ao governo. Acho que é só no Brasil que isso ocorre. Quanto custa, de forma indireta, entregar informações ao governo para que você seja fiscalizado? Custa caro e vai no produto. O Brasil precisa avançar nisso senão não seremos competitivos nunca.  Se você observar a pauta de exportações do Brasil, você vai ver só um produto manufaturado,  geralmente avião ou carro. O restante é tudo commodity. E por quê? Porque não há competitividade para que a gente exporte manufaturados. Ainda bem que nossa produção agroindustrial é boa, senão seria uma situação muito complicada.

Nas últimas semanas, a questão da verba de representação [uma espécie de ressarcimento para gastos gerados pelo exercício da função] do presidente da Fiep virou destaque. O senhor é a favor dela?

O presidente da federação é responsável pela condução da Fiep, é diretor regional do Sesi, membro do Senai. Ele responde com seus bens, com seu CPF, às questões legais da administração de recursos. O grande orçamento da Fiep, Sesi e Senai é completamente fiscalizado pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Tem vários órgãos de controle. Tem uma legislação para o uso desse orçamento. O presidente não tem o domínio destes recursos. Temos mais de 70 unidades do Paraná e quase quatro mil funcionários. Esse orçamento é para isso, para prestar serviço para a indústria. Se o presidente deve ou não ser remunerado, isso tem que ser legalizado, feito de forma transparente e aprovado em diretoria e no Conselho de Representantes.

Mas e em relação à verba de ressarcimento, fruto de contestação no TCU?

Vamos aguardar [a decisão] para ver o que pode e o que não pode. Eu não me elegi, não me propus a ser presidente por causa de verba ou remuneração. Eu sou industrial, tenho os meus rendimentos. Tive que mudar de Maringá para Curitiba porque assim o quis. Tenho despesas e deixo de gerir a minha empresa com o foco que eu tinha antes por minha escolha. Se eu devo ser remunerado por isso ou não, isso o Conselho tem que dizer. Se ela [a verba de representação] é justa ou não, não sei. Mas não foi o que me moveu a ser presidente.

Caso não haja irregularidade constatada, o senhor aceitará receber verbas de representação?

Não haverá verba se ela não for legal, aprovada e transparente.

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