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Há seis meses, o novo coronavírus chegava ao Brasil, que hoje é o segundo país mais afetado pela pandemia
Profissional de saúde atende paciente de Covid-19 na UTI| Foto: Douglas Magno/AFP

Dobrando plantões, trabalhando no limite do número de profissionais e em contato direto com os pacientes contaminados, os profissionais de enfermagem estão entre as categorias profissionais mais afetadas pela pandemia da Covid-19, causada pelo novo coronavírus. No Paraná, já são 566 casos envolvendo profissionais da área, com 21 mortes. Na última sexta-feira (25), 14 enfermeiros ou técnicos de enfermagem estavam internados por causa da doença em algum hospital do estado.

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“A equipe de enfermagem é sem dúvida o grupo de trabalhadores que mais necessita e utiliza todos os insumos e materiais quando disponíveis; sofre os impactos diretos em sua saúde, familiares e contatos, bem como vivencia o sofrimento moral. Historicamente, a categoria possui mais de um vínculo empregatício, devido aos baixos salários, fato que torna o trabalhador mais vulnerável e a assistência de enfermagem segura e de qualidade, prejudicada”, sustenta o Conselho Regional de Enfermagem (Coren), em carta encaminhada aos deputados estaduais do Paraná.

Para a presidente do Coren, Simone Aparecida Peruzzo, apesar de ter evidenciado a importância de um Sistema Único de Saúde consolidado, a pandemia também expôs os gargalos das condições de trabalho da categoria. “Questões que a gente denuncia há décadas, como a da carga horária excessiva, da ausência de um piso salarial e da falta de pessoal suficiente para dar conta de um atendimento tão complexo como aos pacientes com Covid-19”, diz. “Enquanto nos aplaudem, nos chamam de heróis, estamos fazendo dupla jornada, pois não temos intensivistas suficientes nos serviços de saúde e vários vão sendo afastados por adoecerem ou serem do grupo de risco. E, nas poucas horas de descanso nos plantões, dormimos em depósitos, pois nem um local adequado para descanso nos plantões temos regulamentado, como têm os nossos colegas médicos”, comparou.

Além da pressão no trabalho, de lidar diariamente com um vírus desconhecido e ver a morte de perto, os profissionais de enfermagem também enfrentam situações difíceis em casa e nas ruas. “Muitos afastaram-se de suas famílias para diminuir o risco de contaminar seus parentes, principalmente aqueles que moravam com pessoas idosas. Outros tiveram a dificuldade com os filhos. Tendo que trabalhar presencialmente todos os dias e com as escolas fechadas, não tinham com quem deixar as crianças. Vários tiveram que abrir mão do emprego”, conta a presidente do Conselho.

Nas ruas, enfermeiros e técnicos em enfermagem chegaram a ser hostilizados em espaços públicos ou no transporte coletivo, por exemplo, por pessoas que não queriam dividir o espaço com eles alegando risco de contaminação. A técnica de enfermagem Rúbia Karina Marchinski foi xingada por vizinhos ao manipular roupas na área comum do condomínio em que mora, quando retornou do trabalho. “Enquanto mexia nas roupas, após higienizar as mãos, ouvi de três mulheres: ‘tire suas mãos contaminadas daí, sua porca. É muita petulância, sua enfermeirinha. Você está nos contaminando’”, relata. Dezenas de casos como o de Rúbia foram registrados pelo Coren. “A mesma sociedade que está, hoje, em bares lotados, sem usar máscaras, porque acha que já passou, hostiliza uma profissional e a acusa de estar contaminando [as outras pessoas] pelo simples fato de ela chegar em casa”, comenta Peruzzo.

Outro problema que passou a fazer parte da rotina dos profissionais de enfermagem foi com a saúde mental. O Conselho Federal de Enfermagem colocou à disposição da categoria um serviço de atendimento em saúde mental disponível em tempo integral. Até 19 de agosto, data do último levantamento, 294 profissionais do Paraná recorreram ao serviço. “Vendo a situação dos pacientes, trabalhando sobrecarregado, longe da família, não tendo descanso adequado, o desgaste emocional desse profissional é enorme. Se tivemos, no início, afastamento em massa por causa da Covid, temos agora afastamentos por depressão”, cita Peruzzo.

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