Rommel Barion é candidato à presidência da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) pela chapa “União pela Indústria”. Ele disputa o cargo com o empresário Edson Vasconcelos, em eleição marcada para o próximo dia 15.
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Natural de Curitiba, Rommel Barion é diretor na indústria de alimentos Barion e presidente do Instituto Paranaense de Reciclagem (Inpar). A chapa completa pode ser conhecida aqui.
Barion é filho do fundador da indústria que leva o nome da família. Ao lado dos irmãos Ricardo Jr. e Roberto, comandou a Barion após o falecimento do pai, na década de 1990. Integrante do conselho da empresa, hoje gerida pela terceira geração da família, ocupou cargos de direção em entidades como a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab). Ele também tomou parte do processo que houve entre os bombeiros de Cleveland (EUA) e de Curitiba, no projeto-piloto que instituiu a unidade pioneira do Sistema Integrado de Atendimento ao Trauma e Emergência (Siate).
Na Fiep, Barion ocupou os cargos de diretor e vice-presidente, e foi responsável, por duas gestões, pela Área Internacional do órgão. “Eu adquiri muita experiência na área do associativismo. Tudo isso me deu essa bagagem, que é necessária para comandar uma entidade tão importante quanto a Fiep. Assumi um compromisso com representantes da indústria e quero honrar a confiança que foi colocada em meu nome”, afirmou, em entrevista à Gazeta do Povo.
Confira a entrevista de Rommel Barion à Gazeta do Povo
Qual é a importância da Fiep para o Estado do Paraná e para o Brasil?
A indústria é o grande motor do desenvolvimento, e a Fiep representa essa indústria no Paraná. O objetivo da Fiep é tornar a indústria paranaense competitiva, e para isso precisa apoiar os industriais com inovação e tecnologia para a indústria. Se uma indústria aqui no Paraná não consegue ser competitiva nas prateleiras do mercado estadual, imagine lá no exterior. Tem também a importância da articulação política por parte da Fiep, e é importante que a liderança tenha trânsito no governo. Mas é um trânsito independente, e jamais submisso.
A indústria vem perdendo espaço no PIB nacional há pelo menos quatro décadas. A desindustrialização no Paraná tem feito com que a participação deste setor venha diminuindo na economia do estado. O que a Fiep pode fazer para reverter esse cenário?
Esse processo de desindustrialização ganhou força a partir do ano 2000. A indústria representava 33% do PIB nacional e hoje é 11%. A abertura das importações sem o devido preparo para a indústria nacional também colaborou nesse processo. E aqui é importante dizer que nós queremos igualdade de condições, e não uma reserva de mercado.
Para reverter esse processo é preciso ter vontade política. A indústria precisa ser protagonista do desenvolvimento. Nossa exportação é muito concentrada em commodities, precisamos mudar esse cenário para aumentar a exportação de produtos manufaturados. E a Fiep pode atuar nesse sentido, propondo políticas industriais de incentivo a essa mudança.
Quais são as expectativas do senhor em relação ao novo modelo de pedágio? Há alguma mudança positiva para a indústria dentro dos novos contratos de concessão das rodovias no Paraná?
A falta do pedágio, principalmente em relação à manutenção das estradas, nos trouxe um grande prejuízo. Principalmente o agronegócio vem sofrendo muito com a degradação das estradas. Não tenho condições técnicas de avaliar se este modelo é ou não o mais adequado, mas entendo que foi feito um trabalho sério, a diversas mãos, com a participação de diversas entidades na modelagem dessas novas concessões. Espero que traga, sim, alguma vantagem para a indústria, porque a falta da manutenção trouxe perdas sensíveis.
O interior do Paraná reclama da falta de infraestrutura para as indústrias, como a construção de novos contornos rodoviários na região norte e o alto custo do escoamento da produção até Curitiba e o Porto de Paranaguá. O que a Fiep pode fazer para reverter este cenário e tornar o interior do estado tão atrativo para as indústrias como hoje é a região dos Campos Gerais?
O Paraná tem algumas ilhas de prosperidade, cada uma com protagonismos diferentes. E onde há uma interlocução política melhor, a infraestrutura também melhora. O Contorno Leste de Londrina, por exemplo, demanda uma articulação política mais forte. E daí não depende só da classe política, mas também da Fiep. A federação, nesse ponto, tem muita força por conta dessa presença política junto ao governo do estado.
A industrialização depende da vocação de cada região, e isso nós temos bem definido no Paraná. A Fiep tem um banco de dados, um observatório dessas vocações, que pode ser um norte para os industriais que quiserem investir por aqui. Em alguns locais há benefícios concedidos por prefeituras, em outros há atrativos como mão de obra disponível. É um trabalho de inteligência que a Fiep já tem, e que coloca à disposição dos investidores.
Uma proposta para ajudar nesse sentido, baseada em um estudo que eu tenho pronto, é colocar um agente financeiro dentro da Fiep. Esse agente seria um facilitador entre BNDES, BRDE, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e os empresários. Nos bancos, os juros são muito altos. A ideia é estabelecer com esses agentes facilitadores um fundo garantidor para os industriais, de uma forma análoga ao de uma seguradora.
Outra proposta é retomar as regionais da Fiep pelo estado. Não são escritórios suntuosos, nada disso. São empresários representantes da federação em cada região. Eles podem atuar como pontes entre os empresários da região e a central em Curitiba, e diminuir a necessidade de deslocamento do interior até a capital.
A indústria no Brasil perde em competitividade com outros países, entre outros fatores, por falta de atualização de maquinário. Um exemplo foi observado pelo Instituto de Inovação do Senai, em que a indústria têxtil brasileira trabalha com maquinário defasado em pelo menos três gerações em relação à indústria alemã. Qual é a sua leitura sobre este cenário de tecnologia industrial no Paraná? O que a Fiep pode fazer para diminuir essa defasagem em relação às indústrias de outros países?
Eu apresentei quatro sugestões para o [vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços] Geraldo Alckmin sobre a reforma tributária. Esse é o meio mais eficiente para que os industriais possam renovar o maquinário. Entre essas sugestões está a desoneração dos investimentos. O empresário vai comprar uma máquina nova para melhorar a produtividade, baixar o custo do produto, e encontra um cenário de impostos altíssimos, o que acaba desestimulando.
O setor industrial vem sofrendo com essa alta carga tributária. A reforma proposta no Congresso Nacional teoricamente redistribuirá um pouco a cobrança de impostos, aliviando a da indústria e pesando mais para serviços e agro. Mas só isso basta para reverter o cenário atual? Como o senhor vê a proposta de reforma tributária e como ela deve afetar a indústria paranaense?
A Fiep precisa ser protagonista dessa reforma tributária. Essa proposta, me parece, tem como objetivo desonerar a indústria. Só que as alíquotas ainda não estão definidas. Se realmente essa promessa se concretizar, o governo estará dando uma boa mão para reindustrializar o país. Agora, eu tenho sérias dúvidas sobre como esse processo vai terminar. A Fiep deve fazer um trabalho de convencimento junto aos nossos senadores, e por isso o presidente da federação precisa ter esse trânsito no meio político.
A logística reversa faz parte da Política Nacional de Resíduos Sólidos desde 2010. Qual é o cenário paranaense desta área? O que pode ser aprimorado e quais bons exemplos podem ser replicados?
Nesse setor são três pilares os mais importantes. O primeiro é recuperação da embalagem que vai para o mercado. É retirar do mercado e encaminhar para a reciclagem, o que evita que essa embalagem vá para o aterro. O segundo é o investimento nas cooperativas de catadores, de forma a melhorar a qualidade de trabalho e a produtividade. Com isso a renda deles melhora.
O último pilar são as ações de consientização da população, como a que a que a Inpar faz na limpeza da Baía de Guaratuba. Temos também um trabalho com estudantes do Sesi, em que fazemos um jogo interativo de tabuleiro. Então não é só tirar a embalagem do caminho do aterro, é preciso fazer todo um trabalho de educação e social.
Temos muitos exemplos de indústrias que trabalham nesses programas de forma voluntária, com diversas doações, mas o Governo precisa fazer a parte dele. Hoje, quando uma empresa vai retirar ou renovar a licença de operação, o Governo exige a adesão a um plano de logística reversa. Ou é preciso aderir a uma entidade gestora, como o Inpar, ou criar o próprio plano, o que é praticamente inviável para as pequenas e médias indústrias.
Todos os fatores expostos anteriormente levam a um ponto de convergência: a competitividade da indústria. Uma iniciativa do G7 propôs, por exemplo, alterações como o fim da substituição tributária, que torna os produtos paranaenses mais caros. Como tornar o setor mais competitivo no Paraná em relação a outros estados brasileiros? De que forma a Fiep pode agir nesse sentido?
Eu tenho um projeto de trazer para o Paraná pessoas ligadas à indústria que já estejam aposentados em seus países de origem. Eu fiz isso durante um intercâmbio na Alemanha. Esses aposentados participam de processos de estágio nas indústrias locais, e além de compartilharem informações preciosas ainda conseguem uma renda extra.
Outro processo é tornar o processo tributário menos oneroso e burocrático. Essa substituição tributária é um absurdo. Eu tenho 80 itens à venda na minha empresa, e vendo para diversos estados. Em uma única nota fiscal para Minas Gerais, por exemplo, com 5 itens, é provável que cada um tenha uma tributação diferente. Por mais que o empresário tenha uma equipe competente e dedicada só para isso, ainda assim pode acontecer de sair algo errado. E daí eu recolho antecipadamente o imposto que é de obrigação do meu comprador, isso tem que acabar.
A forma de cobrar impostos também precisa ser mais objetiva. Na lista de produtos que nós fabricamos tem um em que a carga tributária para embalagens de até um quilo é uma, e acima desse peso é outra, menor. Isso é uma loucura, e a nossa resposta foi fazer uma embalagem com um quilo e um grama. E a vontade política para mudar isso é pequena. Por isso a Fiep precisa assumir esse protagonismo junto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e ir bater nas portas dos gabinetes lá em Brasília e cobrar deles um processo real de reindustrialização.
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