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Saúde mental: ajuda não é restrita a quem pode pagar
| Foto: Divulgação/SMCS

Todo mundo que faz atendimentos regulares com um psicólogo já deve ter ouvido algo como: "Mas não é muito caro?". E a resposta, normalmente, é "sim". Essa, no entanto, não é a única via possível.

Ainda que seja de conhecimento comum que o Sistema Único de Saúde (SUS) atende a toda a população gratuitamente, nem todos os cidadãos sabem que o sistema também dispõe de psicólogos. Estes profissionais são organizados dentro das redes municipais focadas em saúde mental.

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Da mesma forma que no atendimento regular de saúde, quem busca atenção psicológica deve procurar o postinho mais próximo da sua residência. "A porta de entrada preferencial é pela unidade de saúde onde as pessoas têm cadastro. Na unidade de saúde é feita a avaliação e o acolhimento inicial a essas pessoas", explica a coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Curitiba, Flávia Adachi.

Esta avaliação determina o quadro do paciente, quais as suas necessidades, se está sob algum tipo de risco e, a partir daí, ele pode ser encaminhado para diferentes pontos dentro da rede. Os Núcleos Ampliados de Saúde da Família (Nasf), por exemplo, são vinculados às unidades de saúde, também podem fazer essa avaliação e oferecem o cuidado individual, coletivo e até mesmo domiciliar, dependendo do caso e da disponibilidade das equipes.

Em casos mais moderados, o paciente pode ser encaminhado para consultas nos ambulatórios de psicologia do SUS. Para situações que exigem mais atenção, há ainda outras opções. “Se for um caso mais severo, com prejuízo funcional, existem os Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Ao todo, são 13 unidades em Curitiba – dez voltados para adultos e três infantojuvenis”, conta Adachi. Em média, a rede faz 3.500 atendimentos/mês na atenção primária; 4 mil pacientes em tratamento nos Caps e 2.300 consultas  ambulatoriais com psicólogos/mês.

Os centros dispõem de equipes multifuncionais que incluem, além dos psicólogos, terapeutas ocupacionais, médicos e enfermeiros. Além dos Caps, nos casos mais graves, quando o paciente oferece risco a si mesmo ou a terceiros, há a possibilidade de uma retaguarda hospitalar com períodos curtos de internação.

“A demanda na área da saúde mental é grande. E tem uma complexidade, que vai da promoção da saúde ao tratamento, e precisa da interface com outras categorias, outros profissionais”, explica a psicóloga. As ações para promoção da saúde mental dependem de atividades de uma rede intersetorial, incluindo outras secretarias, como Educação, Esporte e Lazer, Cultura, Assistência Social e Trabalho e Renda.

Grupo de atendimento dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
Grupo de atendimento dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps).| Divulgação/SMCS

Isso porque é impossível dissociar a saúde mental da qualidade de vida. “O que a gente faz para melhoria da nossa qualidade de vida? Precisamos de atividades culturais, de exercício físico, de uma boa alimentação e muito mais”, diz ela.

Clínicas-escola e iniciativas independentes

Além do atendimento direto pelo SUS, a população também pode procurar serviços de psicologia nas clínicas vinculadas às universidades. Desde a regularização do ensino da psicologia pelo Ministério da Educação há a exigência de que as universidades atendam à comunidade. Ou seja, é possível buscar atendimento psicológico em qualquer universidade que tenha curso de Psicologia.

“O quinto ano é de profissionalização. Alunos do nono e décimo períodos já podem fazer atendimentos, orientados pelos professores supervisores”, explica o responsável técnico pelo Núcleo de Práticas em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Naim Akel. “[Nas clínicas-escola de Curitiba] os professores são extremamente qualificados. Os alunos são muito bem preparados e acompanhados”, garante o docente.

A clínica da PUC-PR tem 170 estagiários que atendem o público ao longo de todo o ano letivo. Além da psicoterapia individual, que é o carro-chefe e o serviço mais procurado, o núcleo também oferta avaliação e reabilitação neuropsicológica, grupo de estimulação para bebês, grupo de avaliação psicológica para pessoas que vão fazer cirurgia bariátrica e avaliação e habilitação de jovens dotados de altas habilidades.

Além das clínicas-escola, muitos psicólogos que fazem atendimento particular também praticam o chamado atendimento social, com valores mais acessíveis. “A pessoa pode procurar o conselho regional ou o psicólogo diretamente, para se informar ou para pedir indicações de quem realize o atendimento social”, afirma o psicólogo Flavio Voigt Komonski, integrante da comissão de ética do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR).

Ele destaca que é importante ter o cuidado de procurar um profissional com formação em psicologia – o site do CRP-PR dispõe de uma lista com todos os profissionais do estado. “Psicólogo não é só para quem pode pagar. É para quem quer. Nós temos o equipamento público, as instituições de ensino e temos os próprios profissionais, que estão dispostos a chegar à população.”

Desta disposição de chegar à população nasceu o Consultório da Vila, que oferece, por meio do voluntariado, uma via extra aos moradores da comunidade da Portelinha. Junto de três colegas, a psicóloga Giovanna Cercasin criou, em abril, uma clínica gratuita que funciona na sede do Movimento de Organização de Base, grupo que organiza ações sociais junto aos moradores.

“Essa já era uma ideia desde a faculdade”, conta Cercasin, formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). “A gente já discutia a psicanálise fora do consultório particular, sempre pensando lado social e político. A gente já acompanhava outras clínicas [semelhantes] e pensava em desenvolver algo nesse sentido depois de formados.”

A demanda por atendimento surgiu espontaneamente, com os casos de dois moradores que estavam em crise, e acabou levando à consolidação do consultório. Além das consultas semanais com os pacientes que já são regulares, a cada dois sábados os psicanalistas fazem plantões de atendimento sem hora marcada. Também há um diálogo entre o Consultório da Vila e o sistema público, com a possibilidade aberta de que o Caps da região encaminhe pacientes para o atendimento individual feito pelos voluntários.

Preconceito ainda existe

Ainda que esse quadro esteja melhorando, o atendimento psicológico até hoje é estigmatizado. “O estigma é um processo cultural e histórico e temos que lidar com isso no dia a dia. Há pessoas que não buscam tratamento porque têm um preconceito em se aceitar ou têm medo de serem rotuladas”, afirma Adachi. Isso dificulta até mesmo que as pessoas saibam quando precisam procurar ajuda profissional e atrapalha diálogos sobre prevenção e promoção da saúde mental.

“A prevenção é uma necessidade. Atuar para tratar problemas instalados é muito mais difícil. E não existe praticamente possibilidade de fazer prevenção porque as pessoas muitas vezes negam os problemas, não querem enxergar e só procuram ajuda quando estão em situações graves”, aponta Akel. “A saúde mental e o bem-estar emocional são muitas vezes desqualificados.”

O professor destaca que, considerando a sociedade em que vivemos e o ritmo com que levamos a vida, ter ansiedade, um transtorno de humor como depressão ou alguma desorganização mental e comportamental é tão fácil quanto pegar um resfriado. “E quando uma pessoa tem tosse ou dor, ela procura um médico. Mas quando tem crise de ansiedade, depressão, está abusando de uma substância, tem dificuldades de aprendizado, vai empurrando com a barriga. E, como uma doença física, essa situação vai se agravando.”

“A gente vive numa sociedade muito ansiogênica, com muita pressão”, diz Komonski. Para ele, assim como atletas treinam os seus músculos para lidar com as exigências físicas dos exercícios pesados, nós precisamos treinar a nossa mente para aguentar a pressão diária. Caso contrário, nosso psicológico pode dar problema assim como os músculos podem não resistir a todo o esforço. Aí mora a importância de cuidar da saúde mental antes mesmo de se ter uma crise. “[A psicologia age também] para a pessoa viver a vida de uma maneira mais leve, tendo a mobilidade para fazer os movimentos que ela precisa. Ela é um serviço de aprimoramento da vida das pessoas, não só de cura.”

Serviço

Núcleo de Práticas em Psicologia da PUC-PR
Horário de atendimento: de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h
Endereço: Rua Rockfeller, 1450
Agendamento de consultas: (41) 3271-1591 / 3271-2428 / 3271-1663
E-mail: psiclin@pucpr.br
A clínica dispõe de plantão psicológico sem agendamento para emergências

Centro de Psicologia Aplicada da UFPR
Horário de atendimento: de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 20h30
Endereço: Praça Santos Andrade, 50 – sala 112, 1º andar (Prédio Histórico)
Agendamento de consultas: pessoalmente, portanto carteira de identidade e comprovante de residência
Contato: (41) 3310-2614

Centro de Psicologia da Universidade Positivo
Horário de atendimento: de segunda a quinta-feira, das 7h30 às 22h30; sexta-feira, das 7h30 às 21h; sábado, das 8h às 12h
Endereço: Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300
Agendamento de consultas: (41) 3317-3169
E-mail: centrodepsicologia@universidadepositivo.com.br

Clínica de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná
Horário de atendimento: segunda a sexta-feira, das 8h às 21h; sábado, das 9h às 13h
Endereço: Rua Sidney Antonio Rangel Santos, 245
Agendamento de consultas: (41) 3331-7836 / 3331-7846

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